O ano passado foi um divisor de águas na carreira do Wannabe Jalva. Pela segunda vez, a banda teve a honra e o prazer de abrir um show do Pearl Jam; pela primeira vez, deu a cara a tapa ao participar de um programa de TV nacional como o Superstar; e, também pela primeira vez, gravou um single cantado em português.
Ainda sem nome definido, essa música inaugura uma nova fase da banda, segundo o vocalista e guitarrista Felipe Puperi. Gravado nos estúdios da Red Bull, a faixa traz a participação especial do Curumin e está prevista para ser lançada em março. Felipe revela ainda que a Jalva pretende gravar um novo disco completo a partir da metade do ano para ser lançado até o fim de 2016, confira abaixo nosso papo com Felipe:
Depois de Superstar e do Pearl Jam, como você avalia o contexto em que a Jalva está inserida hoje?
Seguimos fazendo o que a gente sempre se propôs a fazer, isso é o mais importante. A banda tá criando e tentando se inovar até como uma maneira de continuar fazendo coisas em que acredita. Sempre tivemos essa procura, de fazer coisas diferentes – pra nós mesmos. Não digo pro público, mas sim pra nós. Eu enxergo a banda nesse momento. Essa coisa do programa foi um tiro que aconteceu. A gente também não esperava, a gente não tinha nem certeza se queria participar. No fim fomos só porque a gente viu que podia fazer uma coisa que era nós ali, tocar as nossas músicas de peito aberto. Esse é um formato que não tem a ver com a gente enquanto banda, com os caminhos que sempre pensamos que íamos percorrer. Então foi normal ter uma baixa no meio do ano pra voltar um pouco pra rota, pro giro normal. É uma coisa bem impactante, né? Tu tá falando ali com muita gente diferente ao mesmo tempo. É quase um circo, né? Não no sentido pejorativo, mas é um programa de TV massivo. A Jalva nunca foi uma banda que teve esse approach, fomos aos poucos conquistando pessoas que se identificavam com nosso som. Enfim, foi uma experiência que a gente quis viver, mas durante o ano teve uma baixa normal. Até pra voltar, pensar em músicas, compor de novo… Porque a gente tinha outros planos pro ano. O programa chegou e ocupou um espaço de tempo que tinha a ver com o lançamento do disco, com outra tour fora… Foram vários planos que tivemos que adiar.
Você diz o lançamento do EP, do Collecture (2014)?
Não, a gente tinha o plano de lançar um novo material, que era a continuação do Collecture.
Um novo EP?
É que, quando gravamos o Collecture, foram 11 faixas. Gravamos um disco inteiro e optamos na época por lançar só aquele EP. Fizemos um formato reduzido, primeiramente, até porque envolvia a tour fora. Fizemos essa opção porque achamos que as pessoas iriam digerir melhor em doses menores do que se entregássemos direto onze faixas na cabeça de todo mundo. A gente tinha o plano de lançar esse material inteiro no meio do ano, e isso acabou sendo revisto por causa dessas questões.
E qual é o plano agora?
É que a gente gravou uma faixa que foi nossa primeira música em português, em uma parceria com a Red Bull. Eles nos disponibilizaram o estúdio e a gente convidou o Curumin pra colaborar. E essa música mudou as coisas. Porque a ideia era lançar só aquelas antigas. E agora a gente gostou do resultado, achamos que é uma coisa legal, um caminho massa, então demos uma repensada. A gente tá no momento de decidir qual vai ser o rumo desse material.
Vocês gravaram com o Curumin, que, aparentemente, traz uma bagagem estética um pouco diferente da Jalva. É uma união quase inusitada. Como surgiu a ideia de chamar ele e o que ele trouxe pro som de vocês?
Tem bastante da questão da própria composição da nossa música em português. Acabou que ela ficou com uma sonoridade um pouco diferente, sim, do que é a Wannabe Jalva nos outros discos. Porque uma das coisas que eu notei muito compondo, quando comecei essa procura pelo português, é que eu precisava achar algum caminho que eu me identificasse. E eu já sabia que não funcionaria fazer exatamente a mesma coisa que a gente faz em inglês porque as línguas são muito diferentes. Tem coisas que soam bem em inglês e, em português, não ficam legal. Então teve que haver toda uma construção desde o início pra compor em português. O Curumin veio muito nisso, é um artista que a gente admira, que canta em português, e fazia bastante sentido pra nós. Entramos em contato com ele, que foi super receptivo, aí ele foi lá no estúdio, gravou bateria na faixa e cantou um pedaço da música também, gravou um verso. Foi legal, essa troca com ele foi muito boa, ele pôde mostrar um outro lado que a gente não tava muito acostumado. Ele trabalha bastante com percussões, aí já chegou e montou uma bateria com as percussões dele, deu suas sugestões, foi uma troca bem enriquecedora. Acho que só agregou. A gente tava super aberto também, o que foi importante. Como a gente sempre produziu as nossas músicas, sempre estivemos muito envolvidos em todo processo. No Wannabe Jalva, sempre acabamos sendo muito centralizadores de todo processo. Eu e o Thiago trabalhamos com produção há bastante tempo então a gente, mais ou menos, sabe o que quer, ficando sempre um processo mais centralizado. Aí, nessa canção, decidimos expandir um pouco, abrir os caminhos e tentar somar com pessoas, chegar em um outro lugar.
Salve! Estamos essa semana no Red Bull Station em SP gravando uma musica inédita. Hoje quem passou aqui pra dar o toque…
Publicado por Wannabe Jalva em Terça, 3 de novembro de 2015
Vocês vão lançar a continuação do Collecture e, depois, essa faixa com o Curumin num outro momento?
Não, a gente tá com vontade de lançar uma coisa em português, vontade de fazer uma coisa diferente, que a gente não fez ainda. E como essa necessidade tá pendente, a gente quer aproveitar e lançar essa música. Já se passou muito tempo desde a gravacao do collecture. Aí veio esse som em português e ele tem outra pegada. Decidimos dar um passo pra frente, achamos que seria mais legal andar pra frente. Então o plano agora é gravar um material novo, full, a partir da metade desse ano para poder lançar ainda em 2016. Não temos certeza se a faixa com o Curumin estará nesse disco novo ou se vai sair só como single. A ideia é lançar ela em março.
Já tem nome pra essa faixa?
A faixa ainda não tem nome, por incrível que pareça.
Uma questão que surge é que vocês já têm dezenas de faixas lançadas em inglês e aí vai vir uma faixa em português inaugurando uma nova fase da banda. Como isso funcionará daqui pra frente? Vocês se tornarão um grupo bilíngue, ou a ideia é migrar pro português?
Desde que começou a banda, a gente não queria determinar um caminho. A gente nunca optou por “não vamos compor em português”. Quando começou a banda, gostávamos mais de como soava o que fazíamos em inglês e, pra nós, era importante que soasse de um jeito que a gente se sentisse à vontade de cantar e tal. O tempo foi passando e foram surgindo necessidades de transitar em outros universos. Até pela conexão, é muito bom cantar em inglês e ver que as pessoas conseguem entender teu som independente da língua que tu tá cantando, o som mesmo tá falando algo, reverberando nas pessoas de alguma maneira. O que foi, eu acho, bastante o que aconteceu com a Wannabe Jalva até hoje porque, eu vou te confessar, quando começou a ideia da banda eu não imaginaria que fosse voar pros lugares que voou cantando em inglês no Brasil. Mas como a gente não botou essa barreira, não se preocupou, as coisas aconteceram à sua maneira. Da mesma forma eu vejo o português nesse momento, é sim uma forma de criar uma conexão legal com as pessoas, de conseguir ter um outro tipo de troca com as pessoas através da música, cantando na mesma língua que as pessoas identificam no país. Mas foi uma coisa que aconteceu de um jeito muito natural, não foi por força externa de lugar nenhum. Esperamos até o momento em que desse vontade de fazer isso de alguma forma. Nossa vontade não é passar a fazer música só em português ou só em inglês, a gente quer fazer o que a gente acha que soa bem e que expressa o que a gente quer falar naquele momento. Se daqui a pouco surgir uma música em francês, eu não vou guardar essa música na gaveta, vou botar pra frente e vai rolar. A ideia é ser uma coisa expressiva, acho que arte é isso. É tu falar e te expressar da forma que faz sentido pra ti.
De alguma forma isso representa um interesse em aprofundar o trabalho com referências mais fortes da música brasileira?
A própria música que a gente gravou agora tem uma pegada mais a ver com isso. E não é em vão que o Curumin levou as percussões, a gente mandou a demo, ele ouviu, e teve essas ideias e chegou com as coisas pra gravar porque a música, realmente, tinha espaço pra isso. É uma música brasileira, feita por brasileiros, e cantada em português, né? Ou seja, já tem elementos brasileiros. Mas tá, eu entendo a força de linguagem, tu tá falando em uma coisa mais característica. Eu não sei… É tudo muito novo pra nós, estamos experimentando ainda. E as coisas vão mudando, o mundo vai girando, vamos ver o que vai acontecer. Mas a gente não tem certeza de nada. Tá, a gente tá soando bem daquele jeito, sim, foram acrescentadas coisas mais brasileiras, e a gente gostou, e tinha a ver, e vai ser uma coisa diferente. Mas a gente não quer criar muita expectativa em cima disso, é mais uma música do Wannabe Jalva. É isso.
Não foge do que já tava proposto lá no início.
É, exatamente. Talvez pras pessoas soe diferente, mas, pra nós, tá dentro da nossa proposta inicial, lá do início da banda. Sabíamos que, talvez, alguma hora daria essa vontade. E, se desse, e a gente quisesse e fosse bom, a gente ia tocar. Foi exatamente isso que aconteceu.
Ouça abaixo Collecture (2014):