Exclusivo | Cru e sincero, Pietá desvenda “S A N T O S O S S E G O” faixa por faixa

12/07/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Elisa Mendes/Divulgação

12/07/2019

Crua, exposta, sem filtros. Em S A N T O S O S S E G O (2019) – sucessor de Leve o que quiser (2015) -, Pietá ouve seu instinto de sobrevivência e faz da vulnerabilidade sua fonte de força. Formada por Juliana Linhares (voz), Fred Demarca (violões) Rafael Lorga (bateria), o trio baseado no Rio de Janeiro criou seu novo trabalho com a produção de Jr. Tostoi e com as parcerias de Josyara, Ilessi, Livia Nestrovski, Krhystal e Caio Prado.

Explorando sonoridades e letras cruas, mas poderosas, a Pietá desvenda as camadas de cada uma das dez faixas do seu disco mais recente em um faixa a faixa exclusivo para a NOIZE. Dê play em S A N T O S O S S E G O e confira tudo a seguir:

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1. Pietá (Demarca/Renato Frazão)

Abre o disco com a denúncia e o cansaço da tentativa de sobreviver nesses tempos absurdos de falência política. Armados de palavra e música, pedimos luz à força do feminino que nos abraça, à mãe que amamenta e dá colo, para que possamos seguir na resistência. A música encara a referência da Pietá, representação de Maria com Jesus morto nos braços, um tema muito representado pelas artes plásticas, tendo na escultura de Michelangelo sua mais famosa versão. A banda, que tem o mesmo nome de batismo da obra traz nesta canção um trecho da Ave Maria de Gounot, num grito corajoso e dolorido de quem perde seus filhos pelas mãos da injustiça e do ódio.

2. “Suçuarana”(Demarca/Iara Ferreira)

Essa faixa defende a mulher que é preciso ser quando a/o feminino é desrespeitado, violado e diminuído. Fazendo uma analogia com a onça nordestina, um coro de mulheres arredias cantam pra lua cheia, se inflam e se juntam. Felinas, bichanas, bruxonas, elas dominam o lugar da fera de olhar doce que diz “não mexe comigo”. Ao canto da Ju, soma-se a força dos rugidos de Lívia Nestrovski, Khrystal e Ilessi.

3. “Doidecê”(Demarca)

Narra a trajetória de uma mulher meio cabocla, meio urbana, entre os acontecimentos frenéticos de uma cidade que insiste em nos endoidecer. Mas nossa mulher é mais forte e encontra na transgressão do corpo, no canto e na dança, os caminhos para liberdade. E nesse caminho, tivemos a companhia da nossa amiga querida, furacão baiano, Josyara.

4. “Oração pra Luzia”(Demarca/JulianaLinhares/Rafael Lorga)

É a primeira parceria entre Ju, Fred e Rafa e se tornou especial pra nós. É luz sobre a nossa história, simbolizada na presença de Luzia. Um devaneio poético nascido sob as cinzas do incêndio no Museu Nacional [ocorrido em setembro de 2018].

5. “As coisas”(Demarca/Marcelo Fedrá)

É um convite para olharmos de forma mais sensível e atenta os acontecimentos e dimensões que constituem a vida.

6. “Virará”(Demarca/Rafael Lorga)

É a primeira parceria entre Fred e Rafa e ganhou muita vida na voz da Ju. Foi a música que escolhemos como abertura desse novo álbum, tendo sido lançada como single no final de 2018. Com ela, também inauguramos a parceria com a produção de Jr Tostói. “Virará” já surgiu com uma urgência muito forte e investimos nos sintetizadores de Ivo Senra e nas guitarras de Elísio Freitas pra amplificar esse sentimento. É um canto de resistência frente ao impensável. Sigamos cantando.

7. Jabaculê (Demarca)

É o nosso escárnio escancarado na cara dos falsos moralistas que estão no poder. É uma feira livre que em tom de chacota denuncia os acordos espúrios arraigados nas estruturas da sociedade. A inserção do texto “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do céu” de Jo Clifford, entoado por Juliana, sugere um aprofundamento das consequências de um sistema calcado na violência e no preconceito. O nosso “Santo” Sossego tem seu momento de sermão rasgado pelo discurso de um Jesus mulher.

8. “Oração pro Rio” (Demarca/Claos Mozi)

Se no decorrer do álbum as palavras acontecem em profusão, em “Oração pro Rio” a constatação dura e triste ganha vagarosamente os sentidos do ouvinte. A voz de Caio Prado ilumina os caminhos e uma multidão de vozes amigas nos acompanha nesse mantra. “O Rio da secura deságua na guerra”, ora a segunda reza do álbum, pois uma só não foi suficiente. O rio da secura que deságua na guerra diariamente e de maneira cada vez mais intensa. Não dá pra passar batido por isso.

9. “Mar de Sonhos”(Demarca/Rafael Lorga)

É um afago, um sussurro no furacão, um respiro necessário. A possibilidade de sonhar. Os três cantos que se encontram num sossego espiritual, desnudos dos timbres urbanos envenenados que tanto nos acompanham nesse álbum. E é a música do nosso primeiro clipe dirigido pela Elisa Mendes!

10. “Iara Ira” (Demarca/Renato Frazão)

Essa nasceu para um show que Ju faz ao lado de outras duas cantoras, Júlia Vargas e Duda Brack. Aqui no disco, Ju assume as vozes de milhares num convite: “quando somos todas, quem encara?” A música é um hino sobre a resistência feminina desses nossos tempos. É urgente a necessidade de se sobrepor a opressão e a diminuição da mulher na sociedade. Do encontro da sereia com a pomba gira, renasce a ira das iaras que, com a voz, vem atear fogo às desigualdades, ao desrespeito, aos estupros diários enfrentados pelas mulheres. A música é um convite a união e ao amor entre elas: uma força enorme. Contamos ainda com a participação do nosso produtor Tostoi gravando guitarra nesta faixa.

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12/07/2019

Brenda Vidal

Brenda Vidal