Exclusivo | Entre tramas sonoras e líricas, Marina Afares lança “Dissolveu”

04/09/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Fredo Peixoto/Divulgação

04/09/2020

Marina Afares faz de sua voz a linha que tece uma trama cheia de texturas e cores: De temáticas alegres e tristes, de despedidas e chegadas, de sonoridades de concerto a tradições populares da percussão. De tudo isso, nasce Dissolveu, primeiro EP de sua carreira. Ouça primeiro aqui!

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Da composição despretensiosa sobre as placas de pousadas até canções sobre a fuga de uma mulher escravizada de um eminente estupro, Marina se firma no passado ancestral para se lançar no presente registro. Ela atualiza debates, lamenta, celebra e mostra que há todo um arsenal de ferramentas para hackear sistemas, estatísticas e estereótipos enquanto uma mulher negra no Brasil. Com produção musical de Leandro Canhete e mixagem e masterização dele em parceria com Janja Gomes, o EP é uma gravação realizada no Estúdio Medusa, em São Paulo.

Abaixo, mergulhe em novas camadas de Dissolveu através do papo que batemos com Marina Afares.

Marina Afares lança seu registro de estreia (Foto: Fredo Peixoto)

É um disco bastante híbrido, as linhas temáticas são tênues e há uma gama de experimentações e propostas sonoras diversas. Como foi a criação do conceito estético do disco? 
A condução estética do álbum teve caráter experimental de fusão de sonoridades. A grande inspiração é a plasticidade do universo musical brasileiro, que assume formas e gêneros diferentes em cada território. O EP dá uma volta nesses estilos. Minhas referências musicais se cruzam entre MPB, música tradicional brasileira como pontos, bumba meu boi, jongo, samba de coco e jazz. Mas também me interessa aspectos da linguagem eletrônica, beats e batidas, algo que explorei melhor em Dissolveu.

As faixas nasceram antes do EP ou para ele? Por que essas canções são as capazes de servir como cartão de boas vindas de seu trabalho?
As faixas nasceram antes do EP, porém os arranjos das canções foram idealizados para ele. As canções são degustações do meu trabalho, as escolhi com o objetivo de transportar as/os ouvintes para as minhas memórias. Busquei misturar aspectos indissociáveis que sempre foram pulsantes na minha criação: sagrado e profano. Minha família é de religiões de matriz africana e os conceitos de festa e rito se misturam nas nossas celebrações – sacralizar um momento na nossa concepção é diferente da estrutura de uma missa, por exemplo. Brincar pode ser também reverenciar e agradecer e, por isso, as canções escolhidas são para pessoas que gostam da rua e que também prezam pela conexão com sua espiritualidade.

O que já se dissolveu em 2020 pra você? O que ainda precisa se dissolver?
2020 dissolveu muitas vidas inocentes e com elas muitos sonhos. Tem sido um ano cada vez mais surpreendente e sinto que estruturas que eu desejo que dissolvam continuam fortes. Falta dissolver toda a carcaça da exploração e da desigualdade social, falta dissolver os bilionários (que só crescem), milicianos, militares e políticos corruptos, falta dissolver a fome e os senhores de engenho modernos que se perpetuam por gerações.

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04/09/2020

Brenda Vidal

Brenda Vidal