Fotos: Rodrigo Marroni
Não é de hoje que a NOIZE presta atenção na Dingo Bells. Lá em 2012, cobrimos uma mistura de show com galeria de arte que a banda fez no bar Ocidente e, no ano passado, noticiamos o projeto de crowdfunding que Rodrigo Fischmann, Felipe Kautz e Diogo Brochmann lançaram para viabilizar seu primeiro disco completo. A iniciativa deles não apenas deu certo como superou as expectativas dos músicos: apesar de terem pedido R$20 mil, R$24 mil saíram dos bolsos dos fãs para serem destinados à produção do que viria a se tornar o álbum Maravilhas da Vida Moderna, lançado no próximo dia 7.
Quem assumiu a produção do disco foi o experiente Marcelo Fruet, que levou a Dingo Bells para um retiro musical em um sítio em Viamão, cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Lá, em meio ao caos harmônico do mato, a banda deu luz às 11 faixas do seu disco de estreia, que, como Felipe nos conta em entrevista abaixo, é um álbum com conceito completo. Além das canções que surpreendem pelo alcance das linhas vocais e ironia aguda das letras, Maravilhas da Vida Moderna apresenta um projeto gráfico diferenciado, fruto de parceria da banda com o fotógrafo Rodrigo Marroni, o artista gráfico Leo Lage e o ilustrador Lipe Albuquerque. A partir de quatro cartelas internas que podem ser trocadas e transformadas em capa, cada um que tiver o álbum em mãos é capaz de dar a ele o seu toque pessoal.
Outros parceiros da Dingo Bells nesse disco foram Felipe Zancanaro, da Apanhador Só, Tomás Oliveira, do Mustache & Os Apaches, Ricardo Fischmann (irmão do Rodrigo), da Selton, e Carina Levitan. O show de estreia de Maravilhas da Vida Moderna acontece no dia 22 de abril, no Teatro Renascença, em Porto Alegre, mas, abaixo, você já pode ouvir o lançamento exclusivo da NOIZE: “Mistério dos 30”. Essa faixa, segundo o baixista Felipe Kautz, “é quase uma cereja no bolo”. Primeiro porque ela foi a única do disco gravada ao vivo, com a banda inteira tocando junto, mas especialmente porque sua letra sintetiza uma mensagem que a Dingo Bells quis passar em todo álbum – tanto que foi dela que surgiu o nome do disco. O single “Eu Vim Passear”, que abre o disco, também já foi lançado e você pode inclusive fazer o seu download gratuito no site da banda.
Quem fez a letra de “Mistério dos 30”?
Essa música segue bastante o processo do disco todo. Maravilhas da Vida Moderna foi feito bastante em conjunto por mim, pelo Diogo e pelo Rodrigo. Mas, se eu não me engano, a letra de “Mistério dos 30” foi feita pelo Diogo e pelo Rodrigo em cima da base feita por nós três. Ela é bem interessante porque é a música que tem traz o nome do disco na letra, “maravilhas da vida moderna” é um verso de “Mistério dos 30”. De certa forma a gente começou a ver que essa letra resume bastante do que a gente quer dizer no disco, que diz bastante sobre o momento que a gente tá vivendo hoje. De trabalhar mesmo com som e fazer o que nos move a alma.
Vocês estão perto dos 30?
Não é à toa que o nome da música é “Mistério dos 30”. Nós três estamos com 27 anos, e os 30 acabam sendo um retrato de algo bem característico da nossa geração, quando já se espera (pelo menos em alguns círculos) que tu já esteja encaminhado em alguns aspectos da vida profissional e pessoal. É uma idade um pouco decisiva, eu acho. É mais ou menos aquele papo clichê de que os 30 são os novos 20… A gente começou a se dar conta disso: “pô, se a gente vai fazer um disco, então vamos fazer ele por completo”, sabe? Pensando em cada música, fazendo um link que una todas elas… Fazendo direito! O álbum é um formato em que a gente ainda acredita bastante, por mais que os formatos hoje em dia sejam quase infinitos, um álbum com fio condutor é algo que ainda movimenta a música, pelo menos a gente acredita muito nisso. Tem muitos álbuns conceituais que têm uma ideia central e, de certa forma, marcam uma época. Nem que seja uma época definida da própria banda. Então, ele não é uma simples compilação – é uma obra pensada por inteiro. E “Mistério dos 30” é uma música que deixa bastante explícito o eixo central do nosso disco.
De todas as faixas ela foi a única que vocês gravaram ao vivo. Por quê?
Primeiro, porque a gente tava num galpão de madeira de um sítio incrível, e foi bem convidativo fazer assim. Mas, brincadeiras à parte, é uma música que tem um groove que a gente achou que fosse funcionar melhor ao vivo. E essa sensação de extravasamento que a música passa a gente achou que só conseguiríamos ter se fizéssemos executando ela os três ao mesmo tempo. Na verdade, foi mais a música que pediu isso. Pela característica de arranjos e pelo instrumental dela, pra conseguir fazer ela de forma bastante genuína, pra passar a ideia de que a gente tá junto nessa, acabamos fazendo ela ao vivo.
Não corre o risco de ela destoar das outras músicas?
De certa forma sim, mas como a gente pensou no álbum de forma bastante conceitual, quem ouvir o disco vai perceber que tem músicas como “Bahia”, por exemplo, em que a gente optou por uma estética super lo-fi, com bastante ruído, bastante saturação… “Mistério dos 30” tem essa quebra por ser a única ao vivo, mas ao mesmo tempo é quase uma cereja no bolo. É a música que sintetiza o espírito do álbum: foi gravada por nós três, valendo, num galpão onde a gente tava isolado há dias e dias. Pra mim, pessoalmente, é uma das minhas músicas favoritas do disco. Ela tem uma aura especial que eu acho que vem disso, por ela ter sido feita ao vivo e por ela ser tão sintética em relação ao que a gente quer dizer no disco.
Maravilhas da Vida Moderna (2015)
“Eu Vim Passear”
“Mistério dos 30”
“Fugiu do Dia”
“Dinossauros”
“Maria Certeza”
“Olhos Fechados Pro Azar”
“Bahia”
“Hoje o Céu”
“Funcionário do Mês”
“Anéis de Saturno”
“Todo Nó”