Exclusivo | Os múltiplos sentidos de “12:00”, disco de estreia da Rieg

20/03/2018

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Por: Brenda Vidal

Fotos: Divulgação/RafaelPassos

20/03/2018

Sinuoso, audacioso e intenso. Escutar e assistir 12:00, disco de estreia da Rieg, é uma experiência e tanto. Não importa se você vai amar de cara ou permanecer um tempo mais recolhido absorvendo tudo o que recebeu sonora e visualmente- você não vai conseguir permanecer indiferente. Escute, com exclusividade, aqui:

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Com oito anos de carreira e 5 EPs nas costas, a Rieg – formada pelo americano e alemão Rieg R (vocal, sampler e synth), Daniel Jesi (baixo) e Nildo Gonzalez (bateria) – tem estrada, está agitando a cena independente do nordeste e banca uma proposta autêntica e impactante no novo registro. Criando uma atmosfera misteriosa, ora caótica, ora angustiante, cada faixa joga como um recorte da trama principal: a trajetória de um garoto descobrindo e lidando com as verdades sobre o falecimento de seu pai, descobertas que ele faz através de fitas VHS guardadas no porão de casa.

Criando um universo complexo e particular, 12:00 foi concebido em um conceito “sample musico-visual”, fazendo com que as múltiplas sensações do álbum sejam vividas também através de uma série de vídeos. O que amarra tudo isso? Uma maturidade musical que permite que o trio seja totalmente experimental e, ao mesmo tempo, transmita uma unidade conceitual. Para conduzir essa jornada, distorções, sonoridade retrofuturistas e lo-fi, o trip hop, a ausência de guitarras, o eletrônico e o analógico são os principais elementos tanto no som quanto no vídeo.

12:00 é arrojado, visceral e tem sido gestado desde 2013, data em que os primeiros vídeos teasers foram divulgados pelos caras. As faixas misturam canções dos EPs passados e músicas inéditas. Na sequência, confira o nosso papo com o vocalista Rieg R:

Como surgiu o conceito estético-visual do álbum?
Eu acho que foi uma junção de fatores. Eu gosto muito de ver filme b e filmes “ruins” desde a infância. Eu lembro de assistir e gravar filmes em VHS de madrugada e misturar conteúdos (vídeo mixtape) e assistir depois. Às vezes passava um tempo e, quando ia assistir de novo, já sentia que absorvia de outra maneira. O conceito do visual do disco vem bem disso que eu sentia e que acaba se refletindo na música. O que vemos hoje em um determinado ângulo, quando vemos mais para frente e com um ângulo alterado, ressignificamos o que foi absorvido antes. Ressignificar é a motivação desse disco. Nós gostamos de mostrar ângulos alterados, não necessariamente precisam ser estranhos ou inéditos, mas se acharmos que é diferente perante nosso ângulo atual, produzimos a experiência.

Todas as faixas terão também um material audiovisual?
Sim, todas a faixas tem um vídeo mixtape. Gostamos muito do ato de ressignificar, como falei antes. Nós meio que exportamos o que também fazíamos com os recortes sonoros para os vídeos como construção. A ideia do sample(r) na música é muito parecida com a ideologia da cultura do vídeo mixtape. Então, tentamos aproximar esses dois mundos mais um pouco e trabalhar com samples visuais. Ao vivo, utilizamos o projetor para passar melhor essa ideia, usando-o como instrumento mesmo, soltando esses samples visuais. Em breve vamos lançar nosso DVD\vhs\mp4.

Comentem a opção de não usar guitarras no disco. Por que essa escolha?
A opção de não ter guitarra, na verdade, foi a falta dela. Tínhamos um guitarrista, mas no início do processo de criação ele teve que sair para gravar outro projeto. A partir disso, assumimos essa falta e fomos embora. Nos ajustamos e decidimos solidificar a nossa base entre nós três e seguirmos. Como estávamos entrando nesse mundo de mais máquina ao nosso redor, usamos essa falta de guitarra para pular nesse barco. Eu, Big Jesi [Daniel] e Nildo Gonzalez entramos numa pesquisa em torno do que precisávamos. A partir disso, fomos descobrindo como poderíamos fazer isso nos eletrônicos. Tudo que fizemos foi com um filtro de quem toca em banda, entende? Várias direções que decidimos era para que pudéssemos estar confortáveis enquanto banda no palco. Sempre pensamos em como dançar as músicas, mesmo que seja do nosso jeito. Fora isso, também tivemos que aprender a ficar confortáveis com instrumentos que não tínhamos intimidades, dançar com cada qual. Assumir a responsabilidade de não ter guitarra também nos moveu para encontrar outras soluções que não olhávamos, fizemos bem às cegas, seguimos muito nossa intuição. Quando nos demos conta, o disco já tinha uma fala estética dentro do que queríamos. Sentimos que foi como se fôssemos construindo e arquitetando dentro das nossas necessidade durante o movimento. Sem esse movimento, temos certeza de que não seria igual.

Após 8 anos, a banda está lançando seu disco de estreia. Quais são os próximos passos daqui pra frente?
Cada vez mais estamos testando novos vocabulários. Entendemos que cada teste que vamos inserindo nas nossas músicas é fruto de um vocabulário novo que nos foi mostrado. Antes, até ligávamos isso aos instrumentos que usávamos. Mas, depois, acho que esse vocabulário foi se desprendendo do instrumentos e foi aparecendo em filmes, recortes sonoros, livros, desenho, conversas, cidades, quadrinhos, zines, etc. Queremos cada vez mais poder amplificar nossas antenas de captura e de transmissão para que o nosso código seja compartilhado e modificado com o que acreditamos. Em curto prazo, estaremos lançando um DVD que gravamos em João Pessoa. Essa busca por novas palavras nos fez chegar em uma galera que nos apoia e faz a coisa girar. Participamos de um Núcleo Criativos chamado BBS, lá, com mais artistas, fazemos essa troca de informação girar mais rápido e aumentamos nossa capacidade de produção. Por isso esse DVD logo mais já estará na roda da internet.

Para conferir tudo de pertinho, a Rieg se apresenta na próxima sexta-feira, 23, no Teatro de Arena, em João Pessoa, que também receberá os shows de Sinta a Liga Crew e Amaro Mann. O evento começa às 19h e tem entrada gratuita até às 20h, depois disso, os ingressos estarão disponíveis por R$ 10 reais (inteira) e R$5 (meia-entrada).

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20/03/2018

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Brenda Vidal