Ainda que o Natal seja a data religiosa que mais transcende seu símbolo original, ainda é a história do nascimento de Jesus que é invocada a cada dia 25 de dezembro.
Aproveitamos a deixa para lembrar da relação de alguns músicos com o cristianismo, que, em alguns casos, foi bem longe. Veja abaixo o exemplos de artistas que dedicaram sua arte em louvor a Cristo.
Bob Dylan
Ainda que venha de uma família judia, Dylan mergulhou no universo cristão no fim dos anos 1970. Seu disco de estreia, Bob Dylan (1962) já trazia a faixa “Gospel Plow”, mas a sua famosa fase gospel foi marcada por três discos: Slow Train Coming (1979), Saved (1980) e Shot of Love (1981). No final de 1978, o músico se converteu e passou a frequentar os cultos da Vineyard Christian Fellowship Church. No ano seguinte, ele lançou Slow Train Coming, que traz faixas com fortes referências bíblicas como “Man Gave Names to All the Animals” e “When He Returns”. Saved segue a mesma linha, contendo hinos religiosos como “In the Garden” e “Saving Grace”. Já Shot of Love mescla faixas aparentemente laicas, como “Lenny Bruce” e “Trouble”, com os temas religiosos de “Property of Jesus” e “Every Grain of Sand”. A partir do Infidels (1983), a cristandade de Dylan se dilui em suas letras e deixa de ser o tema protagonista dos discos, ainda que nunca tenha sido completamente abandonada. No último álbum que compôs, Tempest (2012), a faixa-título traz inclusive versos amargurados sobre os símbolos cristãos: “The bishop left his cabin / To help others in need / Turned his eyes up to the heavens / Said, ‘The poor are yours to feed'” e “In the dark illumination / He remembered bygone years / He read the Book of Revelation / And he filled his cup with tears” (algo como “O bispo saiu da sua cabine para ajudar os outros que necessitavam, ele voltou seus olhos aos céus e disse: ‘os pobres estão aí pra Você alimentar'” e “Na iluminação negra ele lembrou dos anos passados, ele leu o Livro das Revelações e encheu seu copo de lágrimas”). Não à toa que Dylan ganhou um Nobel de Literatura, né…
Elvis Presley
O Rei do Rock devia quase tudo que sabia às aulas que teve nas ruas de Memphis, Tennessee, para onde sua família se mudou quando era jovem. Lá, Elvis viu e ouviu cantos religiosos que se tornaram uma bagagem que ele levou para a vida toda. Um ano após seu disco de estreia, Elvis Presley (1956), ele lançou seu primeiro disco natalino, Elvis’ Christmas Album, e suas primeiras gravações gospel no EP Peace in the Valley. Três anos depois, veio seu primeiro disco gospel: His Hand in Mine (1960). A partir de 1964, quando os Beatles e os Stones já ameaçavam seu trono, as vendas do Rei diminuíram. Segundo seu empresário, Colonel Tom Parker, Elvis poderia (e deveria) ocupar o mercado de sucessos religiosos e, então, saiu o disco gospel How Great Thou Art (1967). Apesar de trazer grandes músicas como “Where Could I Go But to the Lord”, o hit desse disco é “Crying in the Chapel”, uma gravação que, na verdade, havia sido feita em 1960. How Great Thou Art (1967) chegou a ganhar o Grammy na categoria de Best Sacred Performance (Musical). Quatro anos depois, Elvis lançou Elvis sings The Wonderful World of Christmas (1971) e, no ano seguinte, He Touched Me (1972), seu terceiro e último disco gospel que traz a quase psicodélica “Seeing Is Believing” e a contagiante “Bosom Of Abraham”. Elvis seguiu cantando músicas gospel até seus últimos shows, em 1977. Em 2001, ele foi incluído no Gospel Music Hall of Fame.
Baby do Brasil
Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade fugiu de casa quando era adolescente e foi parar na Bahia, onde conheceu os amigos que se tornariam os Novos Baianos e ganhou o apelido de Baby Consuelo (que ostentou por décadas). Fazendo jus ao posto de uma das figuras centrais da cultura hippie no Brasil, Baby sempre cantou sobre espiritualidade e transcendência. Mesmo em sua carreira solo, quando passou (com seu marido na época, Pepeu Gomes) por uma fase ligada ao ocultista Thomas Green Morton, Baby sempre esteve atraída pelos mistérios do universo. Porém, os anos 1990 foram decisivos para ela. Um dos seus poucos lançamentos na década foi o disco Um (1997), seu último trabalho de estúdio antes de se converter evangélica.
Esse é um álbum que escorre erotismo. Baby está nua e linda na capa e canta músicas como “Divina Orgia” e “Love Sex Fone”, onde canta versos picantes como “transformando som em orgasmo pelo fio do telefone”. Aparentemente, esse foi o seu limite. Depois disso, Baby se converteu, passou a fugir da aura sexual que lhe acompanhava e os seus discos passaram a ter um teor cristão acentuado. Exclusivo para Deus (2000), que abre com o pop soul de “Invertido / Convertido”, foi sua estreia oficial no mundo gospel e, onze anos depois, veio seu segundo trabalho do gênero, o disco Geração Guerreiros do Apocalipse (2011). Atualmente, Baby ministra cultos com o excelente título de “popstora” e prepara um novo disco, como nos contou na NOIZE #68.
Rodolfo Abrantes
Em 2000, parecia que nada poderia deter o Raimundos. No ano anterior, a banda havia lançado Só No Forévis (1999), o disco mais vendido da história da banda, que trouxe os hits “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida” e “Me Lambe”. Qual não foi a surpresa de todos quando o vocalista Rodolfo anunciou que havia se convertido ao evangelismo e estava saindo da banda. O Raimundos ainda lançou o Éramos 4 (2001) com as últimas gravações do Rodolfo e segue em frente até hoje, mas os tempos com o vocal original dificilmente serão superados. Já Rodolfo saiu do Raimundos e criou o Rodox, que tinha uma proposta evangelizadora mais ou menos discreta. As letras dos seus dois discos (Estreito e Rodox, de 2002 e 2003) não eram tão explícitas e o único músico convertido era o próprio Rodolfo, porém esse foi o problema. Após uma confusão entre os músicos em cima do palco de um show em Salvador, em 2004, o Rodox acabou. O próprio Rodolfo declarou em entrevistas que tentou convencer seus colegas a aceitar sua visão sobre Jesus Cristo – o que não apenas foi rejeitado como incomodou os músicos a ponto de a banda acabar. Desde então, Rodolfo Abrantes atua como pastor e mantém uma carreira solo com a qual já lançou cinco discos: Santidade ao Senhor (2006), Enquanto é dia (2007), Ao Vivo (2010), R.A.B.T – Rompendo a Barreira do Templo (2012) e Joio ou Trigo (2015).