Há 26 anos movimentando a cena cultural potiguar, o Festival Mada prepara-se para uma nova edição, que será relalizada neste final de semana, 18 e 19 de outubro (ingressos aqui). O evento acontecerá na Arena das Dunas, em Natal e conta com um line-up de peso, como nomes como BaianaSystem, BK, Ebony, Xande de Pilares, Duda Beat, Fresno, Ana Frango Elétrico, Duquesa, Djonga, FBC, entre outros artistas.
Para entender mais sobre a história do Mada, conversamos com Jomardo Jonas, diretor, e Pedro Barreira, curador. Eles contaram à NOIZE quais são os desafios de levantar um festival de grandes proporções fora do eixo do capital disponível para a cultura no país.
“A logística é complicada e o investimento que recebemos é bem menor comparado ao Sudeste. Cada atração que trazemos demanda um grande esforço”, declarou Pedro sobre a equação complexa para organizar a programação.
Abaixo, confira nossa conversa completa com os organizadores do Mada, falando desde as origens do festival até as ações sociais tocadas por eles, como o Mada faz escola.
Como vocês enxergam o papel do Mada dentro da cena musical local?
Jomardo: O nosso objetivo sempre foi fomentar a cena local, em Natal, e também alcançar outras regiões. A gente acabou se projetando além das fronteiras da cidade, o que é fundamental, especialmente no Nordeste e Norte, regiões que enfrentam dificuldades maiores, como logística e falta de investimento de marcas. Há um papel de resistência aqui. Mesmo com 26 anos de festival, ainda enfrentamos desafios constantes para manter a cena viva e fomentar a música potiguar e nordestina.
Pedro: O Mada surgiu como um festival de rua na Ribeira, por conta da necessidade de espaço para as bandas se apresentarem. Isso foi há 26 anos, quando o circuito de festivais era bem menor. A ideia sempre foi promover a troca entre músicos e profissionais de outros estados com a cena local. Um exemplo claro disso foi o show da Luísa e os Alquimistas, que marcou um grande momento dentro do festival. O Mada é um grande festival, são mais de 30 mil pessoas no estádio, então a gente se compromete a oferecer as melhores condições para os artistas se apresentarem e para o público viver uma experiência completa.
Vocês mencionaram desafios ao longo desses anos. O que vocês aprenderam nessa trajetória de resistência?
Jomardo: Nós temos um grupo de festivais pelo Brasil com quem conversamos muito. O que percebemos, especialmente no Nordeste e Norte, é que muitas marcas ainda não enxergam o potencial dessas regiões para investimento. Todos os anos começamos praticamente do zero, mesmo com 26 edições. É um trabalho árduo de convencimento, mas seguimos em frente. Esse ano teremos transmissão para todo o Nordeste em TV aberta, mas ainda assim, as dificuldades são grandes.
Pedro: Como diretor artístico, vejo de perto o quanto é desafiador. A logística no Nordeste é complicada e o investimento que recebemos é bem menor comparado ao Sudeste. Cada atração que trazemos demanda um grande esforço. Às vezes, eu me pergunto como o Jomardo consegue lidar com isso há tanto tempo. É uma luta constante, mas faz parte da nossa missão manter o festival e proporcionar essa experiência para o público.
Como vocês compuseram o line-up este ano?
Pedro: A curadoria tem um diálogo muito forte com o público. Nas redes sociais, a interação é intensa, e isso nos ajuda a entender o que a cidade quer ver. Buscamos sempre uma programação diversa, que possa agradar diferentes públicos, desde o mais jovem até o mais velho. Esse ano, por exemplo, o rap tem uma presença forte no line-up, refletindo o momento de destaque do gênero. Mas temos também artistas como Xande de Pilares e Duda Beat, para garantir essa diversidade sonora. O foco do festival é sempre a pluralidade.
Jomardo: Para você ter uma ideia, no ano passado, 48% do nosso público veio de outros estados. Isso mostra o alcance do festival, mas claro, o nosso foco principal ainda é o público potiguar. Isso também é um termômetro na hora de pensar o line-up.
O Mada também tem ações formativas. Como elas surgiram e qual a importância dessas iniciativas?
Jomardo: Em 2002, começamos com uma programação paralela gratuita, e desde 2016 temos o “Mada Faz Escola”, que leva artistas potiguares para se apresentarem em escolas públicas. Esse projeto é nosso xodó, e já se tornou independente, com patrocínio próprio. É emocionante ver o impacto que tem nos alunos, especialmente em áreas que têm pouco acesso à cultura. É um projeto de formação de público muito importante para nós. Estamos tentando fazer com que ele vá para outros estados, existe um planejamento para levar o projeto ao interior de Minas Gerais.
Pedro: O “Mada Faz Escola” é lindo. Ele faz parte do que acreditamos: a música precisa chegar ao público onde ele está. É um dos projetos mais bonitos que já vi no cenário musical e é gratificante ver como ele tem se expandido para outras cidades e regiões.
Quais são os planos para o festival no futuro?
Jomardo: A nossa ideia é continuar crescendo, mas sempre mantendo a essência plural do festival. Queremos fortalecer as ações paralelas e continuar proporcionando experiências surpreendentes para o público.
Pedro: O Mada tem um foco na música. A gente vê muitos festivais com foco em “experiência”, mas o nosso centro é a música. Queremos continuar sendo esse espaço de grandes espetáculos e de acolhimento para diferentes públicos. O palco Baile, voltado para a cena eletrônica, foi um sucesso ano passado, e queremos expandir iniciativas como essa, sempre atentos ao que o público quer e precisa.
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