Cash nunca foi um cara fácil. Hoje, o Homem De Preto comemoraria 83 anos se estivesse vivo e tudo indica que ele estaria um pouco mais calmo do que era na juventude. Nervoso, violento e constantemente alterado por uma dieta rica em anfetaminas e barbitúricos, Johnny Cash ficou famoso por sua imagem de fora da lei.
Desde começou sua carreira, no final dos anos 1950, até 1967, o músico foi detido pela polícia sete vezes por causa de infrações relativamente leves, a maioria delas relacionadas com as drogas que sempre levava consigo. Quando não foi pelas drogas em si, foi pelo comportamento que elas ajudavam Cash a ter.
Por exemplo, em junho de 1965, o seu caminhão pegou fogo por causa de um superaquecimento em uma das rodas. O fogo se espalhou e atingiu Los Padres National Forest, um parque florestal da Califórnia. Resultado: as chamas se tornaram um incêndio gigantesco que consumiu 206 hectares de floresta e obrigou que fugissem 49 dos 53 condores ameaçados de extinção que viviam lá. Cash detido, julgado e teve que pagar uma multa de US$ 125.172, algo equivalente a US$936.741 na cotação atual do dólar.
1965 foi o grande ano da loucura na vida de Cash. Em maio daquele ano ele já havia sido preso em Starkville, uma cidadezinha do Mississippi, por invadir uma propriedade privada para, reza a lenda, colher algumas flores. O incidente teria sido a fonte de inspiração para sua música “Starkville City Jail”. Mas no dia 4 de outubro de 1965 a coisa ficou mais séria: Cash estava no meio de turnê e, voltando do México, foi parado pela polícia na cidade de El Paso, no Texas. Aparentemente, os policiais tinham uma suspeita de que o músico estivesse traficando heroína para os Estados Unidos, o que, obviamente, nunca aconteceu. Cash não tinha heroína, porém o case do seu violão estava recheado com, literalmente, milhares de pílulas multi-coloridas – nem é preciso dizer que não havia nenhuma receita médica que as prescrevesse. O músico até foi detido, mas, no fim das contas, só precisou pagar uma multa para ser liberado.
A última vez que Cash foi preso aconteceu dois anos depois do caso no Texas. No auge da fritação, Cash estava mais difícil do que nunca e, em 1966, seu comportamento motivou a separação de sua primeira mulher, Vivian Liberto. Em 1967, recém divorciado e apaixonado pela cantora June Carter, Johnny Cash se envolveu em um acidente de carro em Walker County, no estado da Georgia. Como estava carregando uma mala pesada de tantas pílulas, Cash achou uma boa ideia tentar subornar um delegado local para libera-lo. Mas ele se enganou: o delegado recusou o dinheiro e levou o músico para passar uma noite na prisão LaFayette. No dia seguinte, Cash teve uma longa conversa com o xerife Ralph Jones, que lhe avisou do risco que estava correndo mantendo esse comportamento destrutivo. O encontro com Ralph Jones, Cash diria depois, foi um ponto decisivo na vida do músico. Ele chegou a voltar à prisão LaFayette em 1970 para fazer um show beneficente que atraiu 12 mil pessoas – para você ter noção, a população da cidade na época era de 9 mil pessoas.
Nunca saiu o registro do show da prisão LaFayette, mas Cash lançou dois belos discos gravados em cadeias: At Folsom Prison (1968) e At San Quentin (1969). Ouça que vale: