No início da semana, Noel Gallagher participou de um programa de rádio londrino onde foi entrevistado por algumas pessoas, incluindo o baixista do Manic Street Preachers, Nicky Wire. Até aí, nada demais. Noel respondeu várias questões, mas a polêmica veio quando ele começou a contar como foi sua juventude no subúrbio de Burnage. As pessoas deveriam estar esperando uma resposta que falasse de forma pomposa como ele foi influenciado pela rica cena musical de Manchester, ou algo assim, mas o que Noel disse surpreendeu a todos:
– O lugar de onde eu vim não é nada musical. Apesar de que Manchester é, obviamente. Eu não digo isso para ser cool, mas nós estávamos muito mais a fim de tomar drogas e ficar dando voltas no parque [do que ouvir música]. Música é ótimo e tal, mas não é tão bom quanto cogumelos. As músicas pop têm uns três minutos de duração. Você fica fora de si por umas seis horas com uns cogumelos.
Noel está louco? Talvez, mas não está sozinho. A relação dos cogumelos alucinógenos com os artistas se perde no tempo e é fácil encontrar exemplos de músicos que compuseram faixas com citações explícitas ao consumo deles. Veja nossa lista abaixo:
Michael Stipe canta aqui sobre um local onde as pessoas são amigáveis e coloridas e brilham e as flores cobrem tudo… No refrão, ele explica: “Amanita is the name”. Amanita muscaria é o nome de uma variedade de cogumelos extremamente alucinógenos. São eles que estão na foto do topo desse post.
Falando em Amanita, esse cogumelo também é protagonista desse clássico do Zé Ramalho, que tem versos como: “Neblina turva e brilhante / Em meu cérebro, coágulos de sol / Amanita matutina / E que transparente cortina / Ao meu redor”. O músico já revelou que escreveu essa música inspirado em uma experiência transcendental que teve a partir do consumo desses fungos.
Um dos maiores nomes do krautrock alemão, a banda Can, dedicou uma faixa inteira aos cogumelos. Em “Mushroom”, eles cantam versos como “eu vi céus vermelhos”, “eu nasci e eu morri”, e outras palavras de difícil compreensão para quem está sóbrio.
Como você vê, o consumo de cogumelos alucinógenos não se restringe ao rock. Essa música do Eminem narra o terrível caso de Susan, uma menina que comeu cogumelos demais e começou a surtar. No refrão, Eminem diz: “Eu nunca quis dar cogumelos pra você / Eu nunca quis te trazer pro meu mundo / Mas agora você está sentada em um canto chorando / E é tudo minha culpa”. O resto da música faz piadas de mau gosto sobre a menina estar viajando e conversando com as plantas, coisas assim.
Essa música foi lançada por Rita Lee no Atrás do porto tem uma cidade (1974), o primeiro disco que ela lançou com o grupo Tutti Frutti. E aqui Rita canta: “Eu ando jururu / I don’t know what to do / Quero encontrar pelo caminho / Um cogumelo de zebu”, referindo-se ao Psilocybe cubensis, variedade alucinógena bastante comum em toda a América famosa por nascer, muitas vezes, em cima do esterco do gado (principalmente após uma boa chuva).
Júpiter Maçã foi além de Rita e fez essa música inteira dedicada ao Psilocybe cubensis. A música começa com uma espécie de convite do cogumelinho para Júpiter: “Venha me colher em cima da bosta do zebu / Uso um chapéu do tipo hippie under groove / Colha-me, coma-me, beba-me, sacra-me”.
Ventania é um ícone da subcultura hippie brasileira. Se você já passou um tempo acampado, tem grandes chances de já ter cantado uma de suas músicas ao redor de uma fogueira (“Ai meu Deus, o Diabo é careeeeta”, por exemplo). Essa aí é mais uma singela homenagem aos funguinhos cabeçudos que nascem no esterco do boi.
O Sublime fala muito sobre estados alterados de consiência em muitas músicas. Aqui, eles fazem uma citação breve, mas inequívoca, sobre cogumelos: “So she told me to come over and I took that trip / And then then she pulled out my mushroom tip [“Então ela me chamou e eu levei aquela viagem / E então ela puxou a ponta do meu cogumelo”].
O obscuro grupo Esquadrilha da Fumaça lançou em 1984 o LP independente Tora! Tora! Tora! que trazia essa belíssima faixa que satiriza a sonoridade da Jovem Guarda com uma letra alucinógena e humorística. “Aquele cogumelo que tomei / Nunca, nunca mais esquecerei / Foi numa noite de luar / Que eu comecei a viajar”. É só dar play pra viajar.
Para acabar essa lista, não havia música melhor que esse hino psicodélico do Tihuana. Na verdade, a música só fala em cogumelos como sendo o lar dos tais gnomos que o cantor diz ver todas as partes. Mas só uma viagem muito doida consegue explicar como eles conseguiram compor essa música.