Uma caminhada meditativa pelo novo, carregando no bolso o que ainda é não só familiar, mas importante para construção do que virá. O trajeto a pé e os mergulhos de piscina de TAMASHIRAN em seu novíssimo clipe “mundo” soam como fragmentos de uma crônica imagética sobre o percurso de um músico em nova fase. O projeto é o primeiro formato solo de Lucas Tamashiro, músico de SP que já integrou bandas como Raça, Gumes e Ombu. Abaixo, você pode conferir o single, lançado hoje, 27.
“mundo” chega com a chancela do selo Balaclava Records, sob o guarda-chuva do projeto Radar Balaclava, braço dedicado à projeção de novos artistas independentes. “Tropeçando em novas melodias”, como canta na faixa, Lucas abraça possibilidades num pop ainda imantado pela aura do rock alternativo. A produção musical, mix e master têm assinatura de Vivian Kuczynski. Já a realização do clipe é uma parceria entre o próprio Tamashiro e Carolina Luz.
Com esse primeiro convite público ao mergulho no universo de TAMASHIRAN, aproveitamos a oportunidade para bater um papo com o artista sobre as novas experiências da fase solo, a conexão com as origens e o que cabe no mundo apresentado no single. Leia na sequência:
Lucas, para alguém que já lançou músicas de forma coletiva, o que o lançamento de um primeiro single enquanto artista solo significa? Essa experiência em si é bastante familiar ou as borboletas no estômago são diferentes?
Para mim é muito diferente. Costumo apreciar mudanças na minha vida e, como o processo de construção desse trabalho foi longo, me sinto bem preparado para dar as caras dessa maneira solitária – já que tive bastante tempo pra me acostumar, rs. As borboletas se mexem um pouco mais dentro de mim dessa vez, mas parte do aprendizado de
trabalhar sozinho foi um pouquinho de desapego; tanto de mim mesmo, quanto do julgamento alheio. Por algum
motivo, os lançamentos que tive com bandas sempre vieram com um pouco de ansiedade, mas dessa vez, apesar das
borboletas, ele vem acompanhado de mais serenidade.
A primeira impressão que o clipe de “mundo” deixa é a solitude. Você aparece só, ora em trajetos por ruas mais esvaziadas de SP, ora em mergulhos em uma piscina, por exemplo. O que a solitude artística tem ensinado a você?
É meio maluco pra mim pensar, que de certa maneira, sempre estive em quarentena. Por isso, desconsidero o motivo dessa solitude como reflexo da pandemia. Acho que é algo inato mesmo. Artisticamente, além do desapego, o fato de não existir um interlocutor na composição dessa música paradoxalmente me fez refletir pela primeira vez que não o faço apenas para mim. Sempre estive acompanhado da música e, nesse sentido, nunca estive só, porém ela sempre me serviu mais como válvula de escape. Desta vez, pensei muito no que gostaria de mostrar através dela, tanto em questões de sentimento quanto estéticas. Não sei se consegui o que queria, mas mentalizei isso desta vez. Isso, por si, só considero um aprendizado muito valioso como artista e como pessoa.
TAMASHIRAN é um nome que deriva do seu sobrenome materno, Tamashiro. No release, nos é revelado que ele significa “castelo de diamantes”. Que sonoridades você quer lapidar agora, em fase solo? E que lugar as origens, aquilo que é familiar e, até mesmo, ancestral, ocupam na sua obra?
Do meu ponto de vista, as minhas produções, até esse momento, eram muito carregadas, lentas e com uma propensão à tristeza ou à melancolia. A minha busca deste momento tem sido um discurso mais leve, alegre, ou ao menos, uma melancolia um pouco mais rapidinha e boa, rs. Não que ela fosse ruim nem nada, mas parte desse processo de reconstrução tem visionado uma transformação na forma como me relaciono com as coisas que me acontecem. Eu já não sei direito ainda o que disso tudo se relaciona com a minha ancestralidade, mas suspeito que seja a forma de me comunicar com aqueles que já se foram e que sempre serão parte do que sou. Acho que é mais uma homenagem do que qualquer coisa.
Que mundo é esse que serve de inspiração e que é retratado em seu single?
Em algumas versões anteriores, eu tinha escrito o verso “no meu mundo ideal, a gente pode se ajudar”. Ele acabou sendo limado, mas acho que ele responde a pergunta. Ele seria um lugar onde todos se ajudariam, sem esperar trocas ou segundas intenções. Por isso ser muito utópico, eu senti a necessidade de alguma realidade nos versos, acabei reescrevendo ele, mas sempre fica a esperança!