Fábio Massari, uma das grandes cabeças por trás dos bons tempos da MTV no Brasil, acabou de lançar o seu quarto livro. “Mondo Massari”, uma compilação de entrevistas, resenhas e divagações variadas, é a prova de que Massari não é apenas um simples escritor e um apresentador de TV comum. Ele é, na verdade, uma das principais referências do jornalismo musical brasileiro.
O conhecimento de Massari, que sabe como poucos o que há de mais sublime escondido em cada uma das entranhas do cenário underground, ganhou o apelido de “reverendo”, e não foi à toa. Fábio Massari é o cara. E ele continua a sua incessante pesquisa pelo extraordinário, criando assim o seu próprio universo alternativo, o “Mondo Massari”.
O que Massari tem para nos contar não cabe nas singelas 476 páginas do seu último livro. A gente precisava mais. E foi por isso que procuramos o escritor, que falou sobre as novas tendências que devem dominar a música em 2014, a nova onda de biografias e, é claro, sobre música nova e do mais fino gosto.
“Mondo Massari” é o seu quarto livro e uma reunião de entrevistas e memórias suas. Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou para reunir todo esse material? Foi muito difícil dizer “sim” e “não” para as matérias que entraram e não entraram no livro?
Nesse caso não tive tanta dificuldade com o material, já estava tudo bem organizado. No caso do programa da MTV, a opção foi por contar rapidamente sobre o surgimento da marca e incluir apenas amostras das entrevistas – até porque nem foram tantas assim, era fundamentalmente um programa de videoclipes. As colunas da Rolling Stone e do Yahoo! Brasil são praticamente iguais às publicadas, muito pouca coisa diferente, detalhes mesmo. As entrevistas do ETC estão transcritas na íntegra, material bruto mesmo. Acho que dá pra dizer que não teve “não”.
Como os seus outros livros e trabalhos, “Mondo Massari” tem a característica de falar sobre bandas que muita gente não conhece. Com que frequência você procura por bandas novas? Como você faz isso?
Isso faz parte do meu processo natural, da minha relação natural, orgânica, existencial, e profissional com os bons sons (e livros e filmes e quadrinhos e derivados). Sempre gostei de descobrir coisas novas, explorar caminhos diferentes. Conhecer ou não é relativo (importa mais é o que você faz com a informação) – a cada dia que passa acho que conheço menos. Ou, pelo menos, tenho a sensação, deliciosa, de que tenho que correr atrás mais intensamente do que nunca, porque o mundão dos sons não para e a percepção é a de que… Nunca antes na história da galáxia da boa música teve tanta coisa legal pra ouvir – e descobrir!
Quais bandas que você conheceu recentemente que poderiam render um próximo livro seu no futuro?
Putz, considerando que a “pasta” que mais cresce é a que cuida dos projetos de livro. Mas pra falar a verdade, acho que antes de pensar numa banda pra um livro, penso em situações, ou cortes específicos… Um livro sobre um determinado show, por exemplo, acho interessante como ideia (tem dos Pistols e tem do Gilberto Gil). Me divirto pensando em formatos. Para registro: teve uma época em que meu sonho era escrever a biografia dos Inocentes – tomara que alguém com a devida habilidade para o serviço se apresente. Eu leria na hora!
Por falar nisso, o que você tem ouvido no momento? Qual é a sua aposta para 2014?
Não sei nem por onde começar… (risos). De Crippled Black Phoenix a trilhas de filmes esquisitos dos 60/70. Ou de Baxter Dury a The Knife. Do Anjo Gabriel ao Test. Registros de escritores lendo sua obra, ou atores lendo obra de autores legais – Peter Cushing e Clive Barker (Doug “Pinhead” Bradley). Discos de áudio-exploração, tipo Trem Fantasma, do Chris Watson; ou Sounds From Dangerous Places, do Peter Cusack. Meat Puppets e Wooden Shjips. Não faço apostas, mas é evidente que um certo “glam” vem com força.
Há uma pesquisa recente, de uma empresa de auditoria chamada Next Big Sound, que 91% das bandas ainda não foram descobertas pelo público. O que você pensa sobre isso?
Acho que endossa a percepção de que realmente tem muita coisa acontecendo – a questão é que tudo se processa de maneira tão intensa, com imediata fossilização de camadas de informação, que um mundão de bandas, eventualmente cenas podem acontecer e desaparecer e de repente a ficha caiu pra meia dúzia de pessoas. O lance é forjar um método eficiente pra essa loucura.
“Rumo à Estação Islândia”, de 2001, talvez seja o seu livro mais emblemático, seja pela forma como ele foi escrito ou pelos assuntos que ele aborda. Mais de dez anos depois, o que o livro representa para você?
De fato prestei homenagem ao livro do Edmund Wilson ao batizar minha estreia. Tipo piada pronta que acompanhou o projeto desde o começo. Um dos primeiríssimos títulos da Companhia das Letras, achei que ia dar uma força! Gosto muito do livro, fico satisfeito que tenha começado com esse, desse jeito. É claro que muitos anos depois você acha que teria feito isso ou aquilo de maneira diferente, mas vale o escrito! Acho que tentei estabelecer algum tipo de voz autoral e tentei um formato híbrido de investigação jornalística com diário pessoal. Pelo menos tentei. E o assunto é, continua sendo fascinante. Parafraseando o Asterix, esses islandeses são loucos!
Entre os livros de música, as biografias despontaram em 2013 como os mais vendidos. Se você fosse escrever uma biografia, sobre qual banda seria?
Acho que não tenho a habilidade necessária para escrever uma biografia. Como disse, hipoteticamente, faria uma dos Inocentes. Ou do Chico Science & Nação Zumbi. Mas no caso da biografia, digamos, mais clássica, é preciso fazer bom uso de certas ferramentas, jornalísticas e de linguagem, o que não é o meu caso. Mas sou leitor do gênero e, apesar de termos dado um bom salto nesse sentido recentemente, ainda falta muita coisa na prateleira.
Há alguma biografia que você tenha lido recentemente e recomenda?
Por questões de pesquisa, li umas legais de bandas dos 80, tipo a do Big Country (e do saudoso Stuart Adamson). A do Husker Du é bacana e a do Meat Puppets é demais!
Qual seria a trilha sonora mais indicada para acompanhar a leitura de “Mondo Massari”? Qual seria o disco ideal?
Um só? Teria que ser uma coletânea – com Control Machete e X. Pode ser a discografia do Mars Volta, incluindo os discos solo do Omar!
(Foto: Marcelo Ribeiro)