Eu sabia que seria uma noite inesquecível e, confesso, estou até agora tentando me recuperar – alguém devolve a minha voz, por favor! Afinal, não é todo dia que temos a oportunidade de assistir a duas lendas vivas do rock juntas. Por isso, já cheguei ao Estádio do Zequinha, em Porto Alegre, preparada pra me emocionar. Tinha os meus motivos pra isso.
O motivo 1, claro, era a apreensão em relação ao show do Motörhead. Lemmy Kilmister já havia passado mal em São Paulo, impedindo o show da banda no Monsters of Rock. Recuperado, tocou em Curitiba, mas tendo em vista os rumores a respeito de sua debilitada saúde, tudo poderia acontecer, e quando eles subiram ao palco da versão gaúcha do festival, a plateia parecia nem acreditar. Provavelmente hipnotizada, precisou de uma forcinha da banda pra reagir à sua presença, algo que eu, sinceramente, não esperava.
É claro que Lemmy não é mais um guri e a idade pesa pra ele, mas como o próprio diz: eles são o Motörhead, estão lá pra fazer rock e querem que o público faça barulho, porque eles são apenas três, e já fazem muito barulho. E que barulho bom!
Foi inesquecível ouvir ao vivo, da calorosa segunda fila, a clássicos como “Ace of Spades”, “Over the Top”, “Stay Clean”, “Rock It” e “Lost Woman Blues”. De arrepiar também foram os solos do guitarrista Phil Campbell e do baterista Mikkey Dee. Aposto em fãs chorando em cada um deles. Já eu deixei correr uma lágrima no final, quando fiquei olhando Lemmy se despedir e sair andando devagar em direção ao backstage. Sempre quis vê-lo no palco e é bem possível que esta tenha sido a última chance. São tantos os rumores a respeito de sua saúde… Talvez por isso tenha reagido à cena da despedida de forma tão melancólica e contrastante com a fúria do show.
O Judas Priest entrou a seguir. Engraçado como a banda gera reações contrárias nas pessoas. É o típico caso do “ame ou odeie”. Enquanto uma amiga me contou, empolgadíssima, que já havia assistido ao show dos caras e tinha sido incrível, um amigo confessava a vergonha alheia que sentia em relação à banda. É, de fato, um espetátulo teatral que beira o exagero, mas o público do Judas gosta de ver Rob Halford fazendo trocas constantes de figurino e entrando no palco pilotando uma Harley Davidson, oras. Se isso tudo é permitido no universo pop, qual o problema de existir também no metal? A diferença é que, aqui, a música não fica em segundo plano.
Que banda! Imagino muitos braços tatuados e arrepiados em “Breaking the Law”, “Beyond the Realms of Death” e “Painkiller”. Com um disco lançado em 2014, o Judas tocou também as novíssimas músicas entre um clássico e outro. Foram quatro, no total: “Dragonaut”, que abriu o show; “Redeemer of Souls”, que dá título ao álbum; “Halls of Valhalla” e “March of the Damned”.
Então, chegou a hora de Mr. Ozzy Osbourne. Em sua terceira passagem por Porto Alegre – em 2011, ele fez show solo e, em 2013, trouxe o Black Sabbath -, o Príncipe das Trevas era, sem dúvida, a atração mais aguardada. Pudera, não é ele o pai de todos?
O show foi bem parecido com aquele de 2011, mas neste, troquei a arquibancada pela turma do gargarejo e pude sentir tudo de uma forma completamente diferente, e com muita espuma na cara! Ozzy não economizou na brincadeira. A todo momento, puxava a famosa mangueira e apontava pro público, que recebia aquilo tudo como uma benção.
Benção mesmo, porém, é poder vê-lo em plena forma. Apesar da idade avançada e de sua aparência de tio-avô, ele se diverte de verdade no palco, demonstrando uma vontade impressionante de estar ali, e isso emociona. Ozzy poderia estar aposentado, curtindo uma pacata vidinha entre cães e gatos em sua casa, mas não. Ele prefere estar ali, prometendo não parar e enfileirando os clássicos que ouvimos a vida toda.
“Bark at the Moon”, “Mr. Crowley”, “Road to Nowhere”, “Suicide Solution”, “Shot in the Dark”, “Crazy Train”… Estavam todas lá. Isso sem contar as do Sabbath, como “Fairies Wear Boots”, “War Pigs” e “Iron Man”. “Rat Salad” teve os solos do guitarrista Gus G e do baterista Tommy Clufetos, enquanto “Paranoid” encerrou a apresentação lindamente. Sendo bem clichê, foi pra lavar a alma.
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