_por Leo Felipe
Diferente do rock que, em suas origens, está associado à noção de rebeldia juvenil, a música eletrônica nasceu em um ambiente muito mais adulto e intelectualizado (a associação como hedonismo das pistas de dança veio depois). Hoje, é claro que existem muitos jovens imersos nesta cena (penso, por exemplo, no menino-prodígio berlinense Moritz Friedrich, pseudônimo Siriusmo, que começou sua carreira antes dos 20 anos e foi chamado de “o Mozart da música eletrônica”), mas a turma mais “madura” pode seguir transitando nela sem constrangimentos. Festas eletrônicas podem ser boas opções para alguém que passou dos 30 e ainda curte sair à noite, mas se sente deslocado em baladas indie repletas de adolescentes.
A mesma sensação de deslocamento pode acontecer nos grandes festivais brasileiros, que parecem priorizar um elenco de atrações mais teen. E aí entra a razão deste texto: nos dias 11 e 12 de maio, no Anhembi, acontece a versão paulistana do excelente Sónar, Festival Internacional de Música Avançada e Arte New Media. Dedicado à produção artística de vanguarda o festival foi criado em Barcelona, em 2002, e já esteve na cidade em 2004.
A programação deste ano inclui, como usualmente no Sónar, artistas dedicados a uma produção mais experimental, mais adulta, menos associada à visceralidade juvenil do rock. Destaco a música abstrata de Kieran Hebden em seu elogiado projeto, o Four Tet; o pós-rock do Mogwai; os edits anticlimáticos da dupla Tiger & Woods; o hip-hop psicodélico de Flying Lotus; o espetáculo sensorial da diva freak Björk e a união quase erudita do compositor japonês Ryuichi Sakamoto e do artista visual e produtor alemão Alva Noto.
Mas nem só de cabecice experimental é feita a programação musical do festival (a propósito, ela inclui mostras de cinema e arte tecnológica), o pessoal mais ligado no pop (de qualidade) poderá se deleitar com Cee Lo Green, Justice, Chromeo, T.E.E.D., James Blake, Criolo e Gui Borato. A programação completa: www.sonarsaopaulo.com.br.
@leoafelipe é mestrando em história e crítica de arte pelo PPGAV-UFRGS. Escritor, jornalista e DJ, atualmente é gerente artístico da Galeria Ecarta, em Porto Alegre.