Thais Serafini, designer, jornalista e gaúcha, tentando ganhar a vida em euros no país da pizza. Em seu tumblr, você pode conferir mais fotos: http://thaispserafini.tumblr.com
Um inglês, um americano e dois brasileiros criticam o mundo nos muros
Banksy: fight for art
22 a 30 de março 2010
Superstudio più – Milão
Shephard Fairey
22 a 30 de março 2010
Superstudio più – Milão
Os Gêmeos: Nos Braços de um anjo
25/01 a 25/03 de 2010
Galleria Patricia Armocida – Milão
Além do atual destaque nas galerias de arte moderna de Milão, os três principais expoentes da street art têm em comum o fato de conseguir provar que uma parede pintada tem sim algo a dizer, e que não é apenas um muro sujo e feio.
Banksy, o inglês sem-rosto, consagrado internacionalmente desde 2005, é o rei dos símbolos extremos e bem humorados de protesto contra o capitalismo, a guerra e as instituições. A primeira mostra do artista na Itália espera iluminar esse povo, que ainda discute a legitimidade artística da street art, com quinze das suas principais obras: vovozinhas tricotando para os punks, crianças abraçadas em bombas, smileys junto a tanques de guerra e os famosos ratos manifestantes. Segundo o artista, o ‘rat’ (que curiosamente forma o anagrama de ‘art’) é a própria essência da street art: vive nas ruas das metrópoles, é indesejado pelo homem, mas ainda assim sobrevive. Os estêncils de Banksy também devem sobreviver, infelizmente, pois sua sobrevivência é sinal de que muita coisa ainda está errada.
O americano Shephard Fairey também quer ver o mundo mudar. Dono de uma agência de publicidade nos Estados Unidos e conhecido por ter criado o mais eficaz pôster de apoio à campanha de Obama em 2008 (‘Hope’), Fairey já foi preso por conta de seus protestos.
As obras apresentadas na mostra da galeria Superstudio Più fazem parte da série Obey Giant. Os slogans “Obey” (obedeça) e “This is Your God” (Este é o Seu Deus) são o desenvolvimento da campanha chamada “André the Giant Has a Posse”. Iniciada em 1989, essa campanha gerou um manifesto publicado em 1990.
Inspirado na teoria filosófica da Fenomenologia e no filme ‘They Live’, de John Carpenter, Fairey usa principalmente vermelho e preto, estampas e imagens orientais e comunistas, bem como mensagens subliminares. Assim, ele provoca questionamentos sobre a paz, consciência coletiva e, principalmente, sobre a quem você obedece.
Se o sonho lúdico pode ser um protesto, só mesmo os Gêmeos o sabem fazer. Sua composição é uma mistura de um povo de pele amarela, de olhos pequenos, roupas coloridas e com muito do nordeste brasileiro.
A galeria Patricia Armocida expôs durante dois meses o trabalho dos irmãos brasileiros que, há três anos, apresentaram também a mostra inaugural da própria galeria milanesa.
É quase como se eu voltasse pra casa ao reconhecer esses personagens que, em 2004, coloriram também o Tensurb de Porto Alegre.
Além de expor as duas únicas telas em que os artistas usaram de profundidade, ao invés do costumeiro fundo de uma cor ou uma textura só, os sortudos visitantes da ‘Nos braços de um anjo’ puderam conhecer a particular instalação construída na própria galeria. Uma cama, uma colcha, quadros, espelho, colheres, livros e uma tv, na qual passava o vídeo que os artistas gravaram, apresentando moradores de rua em São Paulo, praticando suas pequenas loucuras diárias, apoiadas no vicio da cola. São esses a emprestar os traços e a inspiração para os personagens de pele amarela.
Por enquanto é isso! Un bacio, Brasil.