O contratempo ocorrido entre Chorão e Champignon ganhava força na internet, ao mesmo tempo em que nós dávamos início a um trabalho muito legal. Era o TIM Beta Live, um projeto da operadora de telefonia, do qual participamos através da Noize Fuzz (nosso núcleo de projetos especiais), e que tinha o Charlie Brown Jr. como atração principal.
O momento, no entanto, era de apreensão. Não sabíamos como as coisas rolariam em meio ao turbilhão de acontecimentos pelos quais a banda passava.
Só que, como o próprio Chorão escreveu, “no desafio, a união prevalece”.
E com a união, vieram os bons ventos, e o TIM Beta Live foi uma coisa linda de se ver.
Confira os melhores momentos:
Um dia antes do show, nossa equipe se reuniu com o Charlie Brown Jr. no skate park do Chorão, em Santos, para a transmissão de um hangout. Previsto para durar meia hora, ultrapassou o tempo em mais que o dobro, simplesmente porque fluiu. O clima era de harmonia. A banda estava curtindo estar ali.
Pedro Bruno, do Holger, apresentou o hangout. Era o primeiro encontro dele com a banda que ouvia na adolescência. Falamos com ele sobre a morte do músico:
– Caralho, que notícia! Eu fico triste, porque curti muito Charlie Brown quando era mais jovem. Admirava o Chorão por tudo o que ele conseguiu, por todo o sucesso que a banda fazia, mesmo depois de todas as crises. Todo mundo saiu, o Chorão ficou sozinho, mas a banda continuou, conquistando cada vez mais fãs e excursionando pelo Brasil inteiro. Ele era uma pessoa de excessos, mas vivia o Charlie Brown como se fosse a vida dele.
Pedro Bruno, Holger
Tiago Abrahão, do Wannabe Jalva, também participou do TIM Beta Live e guardou boas lembranças de Chorão:
– O Chorão tinha separado recentemente, mas parecia um cara supercoração, muito atencioso com todo mundo. Não dava nenhum indício de depressão ou algo do tipo. Não conhecia muito a vida dele, mas posso dizer que ele é um cara importante para mim. Me lembro perfeitamente de estar em casa e tirar “O Coro Vai Comê”, logo quando eu comecei a tocar guitarra. Reconheço o cara, sempre respeitei o trabalho do Chorão, e fico triste pelo jeito como ele se foi, sozinho em casa, sem ninguém por perto.
Tiago Abrahão, Wannabe Jalva
Confira como foi o hangout:
Quem também conviveu com o Chorão no ano passado foi a Comunidade Nin-Jitsu. O vocalista do Charlie Brown Jr. participou da gravação do DVD ao vivo, que está prestes a ser lançado. Mano Changes, vocalista da banda, lamentou a perda do amigo:
– Uma grande perda, principalmente se levarmos em conta o mundo internético em que vivemos, onde as pessoas não falam mais o que pensam. Mesmo nesse ambiente, o Chorão era muito verdadeiro, um cara de muita atitude. É por isso que ele deixa um legado importante para o rock nacional: só conquista alguma coisa quem é sincero. Ele participou na gravação do DVD da Comunidade Nin-Jitsu por gostar da banda, por entender o que isso representava para a gente. Um cara do bem, mesmo com problemas familiares. E isso vai dar para ver no nosso DVD. Nós tínhamos planos de uma turnê junto com o Charlie Brown, pois a sintonia era realmente muito grande. Ainda não caiu a ficha. Até porque foi assim, de um jeito tão inesperado e tão imaturo.
Mano Changes, Comunidade Nin-Jitsu
O Capital Inicial, por sua vez, tem uma ligação antiga com Chorão. E quem conta é Fê Lemos, baterista da banda, que guarda ótimas lembranças dos encontros com o músico:
– Minha história com o Chorão tem um início meio indireto. Em 1993, o Murilo Lima, que era um cantor de Santos, substituiu o Dinho Ouro Preto no Capital Inicial. E veja só que coincidência: a irmã do Murilo foi a primeira esposa do Chorão. Mas fui conhecer ele de verdade só anos depois, na estrada, quando o Capital Inicial tocou ao lado do Charlie Brown Jr. por aí. O Chorão era um cara bacana, sempre à vontade, que gostava de falar sobre a vida. Sempre me lembro das vezes em que nos encontramos no camarim, para beber um cerveja ou dar uma risada. Ele era um músico satisfeito, feliz com a banda dele. Tava em paz com a vida e gostava de estar na estrada. Foi uma grande surpresa receber a notícia da morte dele hoje pela manhã.
Fê Lemos, Capital Inicial
O Cachorro Grande também já cruzou com o Charlie Brown Jr. incontáveis vezes pelos palcos do Brasil, mas o último encontro rolou em 2012, no programa “Altas Horas”, da Rede Globo, durante uma homenagem a Erasmo Carlos. O vocalista Beto Bruno também conversou com a Noize:
– Perdemos uma grande lutador da causa rock’n’roll. Um cara que gostava de se divertir, que gostava de mulheres, que gostava de fazer show. Eu nunca vi ele de tempo ruim nesses diversos festivais em que tocamos juntos. Era brother mesmo, tratava todos da mesma maneira, da banda mais grande ao grupo mais pequeno (sic). Um cara muito simples que gravou músicas que se tornaram maiores do que ele. A verdade é que perdemos um dos grandes do nosso rock. Um cara que era muito parceiro, que nós da Cachorro Grande pudemos conhecer melhor durante a gravação do programa Altas Horas, tempos atrás. Sentimos muito.
Beto Bruno, Cachorro Grande
Nós, da Noize, também sentimos muito. Vá em paz, Chorão. Valeu por tudo!