Há tempos que o punk rock parou de tocar nas rádios ou de aparecer nos grandes meios de comunicação. Talvez porque esteja fora de moda. Mas é exatamente essa a ideia do punk, passar longe do status quo ou de tendências e modismos. Não estamos falando só de música, mas de um estilo de vida, uma crença, uma atitude.
Denis Carrion e Daniel Ferro estiveram na última edição do It’s not Dead Festival, em San Bernardino, na California, e conversaram com algumas bandas e com o público do festival, que contou com cerca de 60 mil pagantes.
A dupla está fazendo o documentário independente It’s Not Dead – A Punk Rock Documentary mostrando como o punk rock está mais vivo do que nunca. Veja abaixo o primeiro teaser do doc, ainda sem data de lançamento prevista:
E aqui, você confere trechos das entrevistas feitas no evento, começando pelo backstage, com Chris Barker, da banda Anti-Flag.
Por que o punk rock não morreu?
Eu não me preocupo com a sobrevivência do punk rock. Sempre vai haver alguém jovem que acorda de manhã, se olha no espelho, não se sente bem consigo mesmo, e tem fome e desejo de encontrar um lugar onde possa existir. Eu acredito nisso. E aqui não importa se você é gay ou hetero, homem ou mulher. Aqui não existe homofobia, ou esse tipo de preconceito. Isso pra mim sempre vai ser punk rock. Aqui as minas tocam guitarra, chutam o amplificador, todo mundo se expressa.
As músicas do Lagwagon falam sobre envelhecer e continuar no punk rock. Mas as pessoas dizem que com o tempo você envelhece e começa a gostar de outros estilos. Você acha possível continuar vivendo o punk depois de uma certa idade?
A gente tem um pouco dessa cultura aqui na América do Norte. As pessoas se comprometem com um estilo de vida. Ou seja, se você tem 18 anos, você precisa ir atrás de um emprego, pagar suas contas. Você acaba não tendo tempo de ter uma personalidade. Não tem tempo de ir a shows. Acho que é por isso que aqui nos Estados Unidos, depois dos 18 anos, fica mais difícil ser punk. Na Europa já é diferente, você vai a um show de punk rock e tem um cara de 14 anos e outro de 40. Isso tem a ver com o estilo de vida que o lugar proporciona. Aqui se você tem uma banda de punk rock, depois de uma certa idade, seus amigos não aparecem mais nos shows. Eles têm filhos pra criar e muitos compromissos na vida. Talvez por isso algumas bandas façam letras dizendo “I don’t wanna grow up”.
CJ Ramone.
Você está vendo a cena punk rock aqui e ela não morreu, certo? Especialmente na América do Sul! Você esteve na América do Sul e sabe que o punk ainda é forte por lá.
Eu acredito que enquanto existirem jovens frustrados e com desejo de se expressar, você vai ter punk rock. O punk rock sempre vai estar lá. Metal e punk rock são assim. Você pode ir a qualquer lugar do mundo, ainda nas regiões de mais pobreza, e sempre vai encontrar cenas de punk e metal. São estilos que não morrem, seguem crescendo e se replicando através das gerações. No Brasil eu toquei em mais lugares do que em qualquer outro país até hoje, e tinham amantes do punk rock em cada cidade. O dance vai e vem, os diferentes estilos de música pop vão e vem, e isso não acontece com o punk. Na minha opinião punk e metal nunca pertenceram a grandes estádios. Eles pertencem a pequenos clubs. Até por que, quando entram em estádios, tudo passa a girar em torno de dinheiro. Eu tenho sorte por que a minha esposa entende que eu gosto de viajar e tocar em muitos lugares pequenos, ainda que eu não faça muita grana com isso. Eu gosto assim, eu não preciso fazer um milhão de dólares em um show. Gosto de olhar as pessoas no olho, de sentir o cheiro do público e que o público sinta o meu. Isso é um show de punk rock. Uma vez que se torna um grande sucesso comercial, as pessoas param de dar o verdadeiro valor à música, e tudo se torna mais passageiro. É muito mais legal ver um jovem local que tem um pouco de dinheiro extra organizar um show, fazer acontecer. Tudo funciona melhor quando não está todo mundo caçando dólares. Isso é cultura, não é só um estilo de música, não é algo que pode acabar tão fácil. Como eu disse, contando que você tenha jovens de cara, querendo se expressar, você vai ter punk rock.
John Christianson, trompetista do Reel Big Fish.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Por que todo mundo precisa mandar alguém se foder. Não é que você precise ser esse tipo de ser humano, mas você não vai ser grato a todos que cruzarem o seu caminho. Quanto mais cedo você aprender isso, melhor vai ser a sua vida. Então você deve aprender a dizer vai se fuder!” e isso é punk rock. Você não precisa se dar bem com todo mundo.
E o que é punk rock pra você?
Eu fui um grande fã de Suicidal Tendencies na adolescência. É uma forma de se expressar, quando você não se encaixa em outros estilos de vida, que a música pop oferece, por exemplo. Você mostrar sua voz, pinta o cabelo, faz muitas tatuagens. Mas eu sou punk rock e eu não tenho tatuagens. É sobre ser você mesmo. Eu vou mostrar meu dedo do meio para todos que não acreditam em mim e dar um abraço em todos que acreditam em mim, que me amam. E isso é punk rock pra mim.
Johnny Bonnel, líder do Swingin Utters.
O que é punk rock pra você?
O estilo mais fácil de música para se tocar. Você não precisa ser um expert e pode ser muito artístico. Não há uma barreira muito grande para começar. Você não deve ser um gênio de um instrumento para fazer um bom punk rock.
E pra você o punk rock se restringe a um tipo de música?
Eu não foco muito nisso. É um pouco estranho isso pra mim. Tem a ver com fazer tudo o que você quer, respeitando os outros, é claro. Eu gosto do fato de não haverem barreiras no punk. Pra mim é isso. Originalidade e paixão pelo que se faz.
Joey Briggs, vocalista e guitarrista do The Briggs.
O punk rock morreu?
O bom disso é que o punk rock não necessariamente morre, por que não é algo que está na moda. Não é algo que ficou popular por um segundo e que pode desaparecer fácil. Não é uma tendência. É uma atitude, é algo que as pessoas sentem. Não é só um estilo de música. A popularidade do punk pode oscilar, mas o punk não acaba nunca. Há uma nova geração de adolescentes e jovens que ainda estão descobrindo o punk rock. A conexão com os esportes radicais também continua forte, como o skate. Foi assim que eu comecei a curtir punk rock quando eu era jovem, assistia vídeos de skate e a trilha sonora era Pennywise, NOFX… Por isso eu acho que essa é uma boa entrada para todo esse mundo. Eu acredito que tem muita gente que gravita sobre o punk e ainda tem muito pra passar para as novas gerações.
Vocês têm planos de tocar no Brasil?
A gente nunca esteve no Brasil, mas adoraríamos! Eu ouvi muitas coisas legais sobre o seu país. Algo interessante é que nenhum dos nossos amigos de outras bandas conheciam a América do Sul. Mas ultimamente isso tem mudado, parece que esses países começaram a fazer parte das turnês internacionais… E isso é uma ótima notícia, principalmente pra vocês do Brasil.
Daniel Ferro encontrou o Milo Aukerman, vocalista do Descendents, e trocou uma ideia rápida com ele.
Quando vocês vêm ao Brasil?
Estou gravando as vozes do próximo disco e já temos algumas músicas novas prontas. Pretendemos ir ao Brasil sim, ainda em 2016.
Saímos do backstage e fomos atrás de respostas do público. Começando por este casal.
Por que vocês acham que o punk rock não morreu?
Por que punk rock é um estado de espírito, um movimento. O punk rock não está morto por que vem do coração e para as pessoas aqui, estar neste festival, é obviamente sobre um espírito, uma mentalidade. É sobre ser você mesmo.
O que você acha desse encontro de gerações que você vê aqui?
Minha mãe era punk e foi uma grande influencia pra mim. Então acho que é isso que acontece aqui, uma geração ensina a o outra.
E pra provar que o punk rock também é amor, encontramos até uma família.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Por que tem 60 mil pessoas aqui. Essa é a resposta.
O que trouxe vocês aqui?
Eu amo punk rock e eu toco em uma banda também então eu vim ver as bandas que eu cresci assistindo.
Você acha que o punk rock é um estilo musical ou vai além disso?
Acho que vai muito além disso, é uma cultura, um estilo de vida, é amor.
É família?
Isso, punk rock é família (risos).
E esta garota, chamada Jessica.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Provavelmente por que há um statuos quo e tem muita gente querendo sair disso.
E o que é punk rock pra você?
Acho que é um jeito de se pensar, não é só um estilo. É um jeito de viver, uma mentalidade.
O que você acha destas crianças que estão aqui, provavelmente para o seu primeiro show de rock convivendo com pessoas mais velhas, juntas pra verem os shows?
Essa é a maior prova de que o punk rock não está mais vivo do que nunca. Sempre vai haver um desejo de se livrar da opressão social, não importa o quão avançado você seja.
E o que te trouxe aqui?
A música, as pessoas, os amigos e as memórias.
Um punk, chamado Luk.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Por que você vê diferentes gerações aqui, tem garotos de 9 anos aqui. Esta é a maior prova. Talvez se chame rock clássico um dia, mas acho que vai demorar.
E o que te trouxe aqui?
A música, NOFX, Bad Religion, The Bouncing Souls, 7 seconds… Bandas que eu gostava desde que estava na escola.
E o que é punk rock pra você?
Punk rock é um estilo de vida. É sobre não ser um idiota. É se expressar, independente do que os outros vão pensar.
Os amigos Robert e Casey.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Por que as pessoas sempre vão querer se rebelar. As pessoas sempre vão querer ser punks. Enquanto houver música sendo feita, o punk rock não vai acabar.
E o que é punk rock pra você?
Punk não é uma coisa só. É muita coisa, é ter personalidade. Ser você mesmo e não ligar para o que os outros pensam.
O que te trouxe aqui?
As bandas. Fishbone, TSOL, Agent and Orange, Reel Big Fish, Pennywise.
Mais amigos, Thor e Lee.
Por que você acha que o punk rock não morreu?
Por que nós estamos aqui, e não importa a idade que você tem. Desde que você acredite nisso, que faça parte da sua vida, que seja a sua religião.
O que é punk pra você?
É música, é um estilo de vida. É uma comunidade!
O que te trouxe vocês aqui?
Um monte de bandas!
E vocês acham que o punk rock vai morrer?
Eu tenho seis filhos e eu ensinei cada um deles a gostar de punk rock.. Não foi difícil. É Por isso que o punk rock não vai morrer.