O décimo disco da banda americana Bright Eyes, Down In The Weeds, Where the World Once Was (2020), será finalmente lançado nesta sexta-feira, 21.8. O primeiro trabalho desde The People’s Key (2011), levou dois anos para ficar pronto entre as idas e vindas dos músicos Conor Oberst, Mike Mogis e Nate Walcott em estúdios nas cidades de Los Angeles e Nebraska. O álbum conta com colaboração da cantora Jesca Hoop, do baixista Flea e do baterista Jon Theodore (Mars Volta/ QOTSA). O processo de gravação foi finalizado em janeiro, e quatro singles foram lançados ao longo do primeiro semestre – “Persona Non Grata”, “Forced Convalescence”, “One and Done” e “Mariana Trench”.
Este ano também marca alguns aniversários significativos na discografia da banda. Fever and Mirrors (2000) completou 20 anos em maio, Digital Ash in a Digital Urn (2005) e I’m Wide Awake It’s Morning (2005) completaram quinze. “Não queremos soar como uma máquina do tempo. Reflete onde estamos em nossas vida agora. As músicas que escrevi com 19 anos soam diferentes daquelas que escrevi aos 38”, disse Conor à revista GQ.
No tempo de hiato, os integrantes não ficaram parados, todos possuem carreiras prolíficas fora do grupo. Mogis produziu bandas folk como First Aid Kit e também mixou Stranger in the Alps (2017), disco début da cantora Phoebe Bridgers. Ao lado de Walcott, a dupla escreveu trilha sonoras para filmes de Hollywood, desde “A Culpa é das Estrelas” até mesmo “Ainda Adoráveis”. Já Walcott trabalhou arranjando para artistas como Mavis Staples e tocando teclado no Red Hot Chilli Peppers.
A carreira solo e projetos paralelos de Conor rende uma história a parte. O músico lança músicas há quase 30 anos, tem dois discos com a banda punk Desaparecidos – Read Music/ Speak Spanish (2002) e Payola (2015) e mais três sozinho – Salutations (2017), Ruminations (2016), and Upside Down Mountain (2014). No ano passado, lançou o primeiro registro do projeto ao lado de Phoebe Bridgers, Better Oblivion Community Center, agradando o público de ambos artistas.
Com o passar dos anos, o grupo caiu no gosto da música pop, ganhando versões ou menções em faixas de artistas dos mais variados gêneros musicais – desde Mac Miller, Lorde, The Killers, passando por Lil Peep e Young Thug. A identificação é real e marcante para os fãs das letras confessionais de Oberst. “Por mais que elas sejam emocionais – e até depressivas – nunca me deixaram mais tristes: me confortaram e me faziam refletir sobre o que eu estava passando”, explica Rafael Andres, social media e super fã há mais de uma década da banda.
O Bright Eyes é um exemplo de banda onde os ouvintes constroem relações profundas com o conteúdo das letras, criam significados que se transformam conforme as fases da vida. Por esse motivo, o lançamento do aguardado Down In The Weeds, Where the World Once Was, veio a casar especialmente com este momento singular da história, talvez para propor não só reflexão, mas também para trazer esperança.
Convidamos cinco entusiastas de Bright Eyes para dividir memórias e contar como foi a espera de quase dez anos para o novo material da banda:
As expectativas estão altas para o novo disco?
Carol Machado, analista de crédito e risco: Altíssimas. Eu gosto muito do vocal desesperado do Conor e das composições dele, tanto solo, quanto no Bright Eyes. Se seguir a linha do que ele lançou nos últimos tempos (Better Oblivion Community Center), o que eu espero, estarei feliz 🙂
Gabriela Ferreira, jornalista: Estou bem ansiosa porque gosto muito do último disco solo do Conor e do projeto dele com a Phoebe Bridgers – são os melhores trampos dele em muito tempo, então pra ele ter voltado a fazer coisa com o Bright Eyes, é porque aí tem. Eu tento não esperar muita coisa para não cair do cavalo, mas como eu gosto muito do Better Oblivion Community Center, fico bem nervosa pra saber o que pode ser o novo disco.
Julia Salazar, estudante de museologia: Minhas expectativas estão muito altas porque estou acompanhando o lançamento dos singles e eles estão incríveis. A princípio, fiquei meio receosa porque não sou uma grande fã do The People’s Key (2011), o último álbum que eles lançaram enquanto banda. Sempre fico apreensiva quando bandas retornam depois de muito tempo. O lançamento de “Persona Non Grata” me deixou super empolgada. “Mariana Trench” e aquele vídeo lindo, a estética nova, tudo o que veio depois também promete um álbum excelente, mal posso esperar pra ouvir assim que for lançado.
Rafael Andres, social media: Toda longa espera gera uma grande expectativa, ainda mais de uma banda como o Bright Eyes, que mesmo o álbum mais fraco ainda é muito bom. Antes de escutar as músicas novas, fiquei pensando em como seria essa volta, se eles voltariam com a carga emocional e instrumental de sempre, ou iriam para uma outra direção totalmente diferente. Afinal, quase dez anos de hiato, acredito que todo mundo volta com uma perspectiva diferente do que se fazer como banda. “Persona Non Grata” mostrou que a magia “Bright Eyes” capaz de emocionar ainda está ali, enquanto as outras mostraram que eles não ficarão presos só no “mais do mesmo”, o que é bom, gosto quando bandas que tem um certo estilo exploram sua sonoridade.
Rodrigo Gianesi, fotógrafo: Infelizmente estão altas hahaha! Não gosto muito de ir com expectativa alta para não me decepcionar, mas gostei muito dos quatro singles que lançaram, mais do que gostei do último disco. Espero um álbum com bastante cara de Bright Eyes: os singles me fizeram lembrar de diversas fases da banda, ao mesmo tempo apresenta uma coisa diferente do resto, sabe? Então acho que espero um disco que seja ao mesmo tempo familiar e novo.
Quais são as suas músicas favoritas?
CM: Eu amo demais o I’m Wide Awake, It’s Morning, 2005 é um ano que considero um baita ano para lançamento de disco haha. Desse, fico com “First Day of My Life”, que integrou todas as playlists românticas que fiz nos últimos 15 anos! Gosto de “A scale, a mirror and those indifferent clocks” e “Four Winds” – músicas que escuto até hoje.
GF: “Poison Oak”, “Lover I Don’t Have To Love” e a “Perfect Sonnet”.
JS: Sou uma grande fã das músicas mais tristes hahaha. A minha favorita de todas é “No Lies, Just Love” porque apesar de ser uma espécie de carta de despedida, ela termina, de alguma forma, esperançosa. É a combinação perfeita de uma letra dramática, melancolia na voz do Conor com uma luz no fim do túnel. “Easy/Lucky/Free e Waste of Paint” também estão no topo e “First Day of My Life”, que tem um lugar especial por ter sido a primeira que eu ouvi deles.
RA: Se fosse fazer um Top 5: “Lover I Don’t Have To Love”, “Haligh, Haligh, A Lie, Haligh”, “At The Bottom Of Everything”, “The City Has Sex” e “Poison Oak” – me acompanham em grande parte das minhas playlists e não saíram do meu MP3 na época do colégio.
RG: Nossa aí é muito complicado de escolher! Cada hora muda, né? Acho que no momento escolheria “Nothing Gets Crossed Out”, “Something Vague”, “A Perfect Sonnet”, “You Will. You? Will. You? Will. You? Will” e “Gold Mine Gutted” pra um Top 5 pessoal. Mas é muito de momento, se perguntar semana que vem vou ter mudado hahah.
Quando começou a curtir a banda?
CM: Quando eu era mais nova, acompanhava muitas revistas e publicações de música, conseguia fazer lista de “100 melhores discos de 200x” hahaha – hoje se eu chego em 10 é uma vitória. A primeira banda que eu ouvi do Conor na realidade foi Desaparecidos, e através dela conheci o Bright Eyes. Isso lá pro começo de 2000.
GF: Conheci bem nova por causa do Seth Cohen, do The O.C. Em 2014, eu revi a série e aí agarrei de verdade no Bright Eyes.
JS: Por volta de 2009: quando eu saí do ensino fundamental e entrei no ensino médio. Nessa época, passei a frequentar muitos fóruns sobre música no Orkut e comecei a me interessar pelo que eles chamavam de indie lá atrás hahaha. Eu meio que conheci quase todas as bandas que ainda são minhas favoritas nessa época, foi como tive o primeiro contato com Bright Eyes, Radiohead, Death Cab For Cutie.
RA: A minha porta de entrada para muitas bandas foi a trilha sonora de The OC. Mesmo tendo uma música do álbum de natal do Bright Eyes na série, assisti um episódio que tocou “Lover I Don’t Have to Love” pela banda Bettie Serveert, depois descobri que era um cover, fui atrás do Bright Eyes e acabei me apaixonando pela banda, isso deve ter sido em 2005/2006.
RG: Foi em 2003/2004, tinha uns 13/14 anos e ficava fuçando em fóruns ou no mIRC, para descobrir bandas que eu gostava quando comecei a conhecer o emo, indie, etc. Numa dessas eu encontrei um vídeo deles tocando “A Perfect Sonnet” e gostei muito logo de cara. Baixei algumas músicas do LIFTED (2002) e do Fevers and Mirrors (2000) e virei fã.
O que mais te chama atenção no som deles?
CM: Composição e vocal. Acho que o Conor canta com um certo desespero, carrega uma dor na voz que fazia PLENO SENTIDO quando eu tinha 18 anos e às vezes ainda faz. E também tem aquela velha história do vocal “ruim”, que eu aprecio, não sou do rolê de cantor virtuoso. A maioria das bandas que eu gosto, o vocal seria considerado uma ofensa para essas bandas mais “falsete-fred-mercury” haha (J Mascis, Elliott Smith). As letras do I’m Wide Awake (2005) eram perfeitas pra quem, aos 20 anos, vivia tendo o coração partido – totalmente o meu caso–, o disco caía como uma luva!
GF: As letras do Conor muito honestas e muito bem feitas. Para mim, o Bright Eyes tem um equilíbrio daora de melodia fofinha e leve, com umas letras mais pesadas.
JS: A combinação entre as letras e a característica voz do Conor, que acho muito única. Gosto de falar que ele é desafinado e soa como se estivesse à beira das lágrimas, mas realmente penso que isso seja uma característica positiva e capaz de transmitir muita vulnerabilidade. Quando você é adolescente e cruza com uma banda que dialoga com o que você sente, não tem como não ficar encantado. O tipo de coisa que fica com você.
RA: A combinação entre o instrumental delicado e a letra emocional, que adicionada a voz de Conor Oberst fazem das músicas únicas em um gênero musical onde muitas vezes as coisas acabam soando igual – o Bright Eyes se sobressai. Como elas conseguem ser a trilha sonora do meu eu adolescente, meio perdido, desapontado e triste. Por mais que as músicas sejam emocionais – e até depressivas – elas nunca me deixaram mais tristes, mas me confortaram e me faziam refletir sobre o que eu estava passando.
RG: Primeiro, as letras, mesmo. O Conor escreve muito bem, desde muito novo. Gosto muito também que o Bright Eyes tem bastante coisa diferente, eles tentam fugir do óbvio. Se você ouve o I’m Wide Awake, It’s Morning (2005) e o Digital Ash in a Digital Urn (2005) parece que são duas bandas diferentes, e os dois álbuns foram lançados no mesmo dia. Também tem a questão de ter marcado minha adolescência, cresci ouvindo esses discos, então tem um carinho especial.