Os amores de Malu Magri em ‘Morrendo de Prazer’

31/10/2024

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Damy Coelho

Por: Damy Coelho

Fotos: Júlia Pessini / Divulgação

31/10/2024

Malu Magri lançou o primeiro álbum de sua carreira deixando a vulnerabilidade aflorar – processo, afinal de contas, comum na entrega artística. A paulistana conta que o título, Morrendo de Prazer (2024), para além de amarrar o conceito estético das nove canções, simboliza o entendimento de que seguir desejos não significa colher liberdade.

“A gente tem que morrer nos nossos desejos e prazeres para que outros possam emergir”

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Com inspirações que vão de Rita Lee a Djavan e Arthur Verocai, a música de Malu é intensa, vulnerável, sensual e às vezes autodebochada. Entre a vivência dos amores e seus fins, a solitude, traição e os arrependimentos são postos em xeque nas composições, que chegaram ao público com o lançamento do primeiro single, “Tuas Veias”.

Morrendo de Prazer tem produção de Zé Nigro (Liniker, João Donato, Francisco, el Hombre) e participações de Assucena (em Movimento) e Rodrigo Alarcon (Traia me Traia). “Tinha o sonho de colaborar com a Assucena desde que a ouvi pela primeira vez, ela tem uma das vozes mais lindas dessa geração”, conta Malu. “Já a parceria com Alarcon veio como um presente para amarrarmos o projeto”, explica.

Confira o Faixa a Faixa abaixo:

“Cabeça-Inferno” – “Essa música veio daquela expressão ‘Cabeça vazia é oficina do Diabo’. É uma pegada muito capitalista, a gente ter que produzir o tempo inteiro para alimentar uma funcionalidade em um sistema em que a gente sempre tem que trazer resultado e funcionar como uma engrenagem. Aí um dia eu estava na Chapada dos Veadeiros com a Helena Papini, que também participou do disco em ‘Tuas Veias’, então pensei: ‘Meu Deus do céu! Como é bom separar grande parte do nosso tempo, inclusive, para a gente pensar no ócio como uma coisa positiva’. Se essa é a coisa do Diabo, então vai ser muito bem-vindo para dançar comigo e me trazer esses pensamentos que são contra sistêmicos

“Minha Casa” – “Essa canção fala sobre o espaço dentro da morte do prazer, que é uma coisa que eu nunca tinha pensado antes da concepção do disco. Acho que é fundamental para a gente se autoconhecer sem ter sempre uma relação, principalmente afetiva-romântica, de outra pessoa – pois muitas vezes é no auge da paixão que a gente fica se moldando para ser aceito. Então, acho que essa música é sobre essa nova perspectiva de se encontrar na gente, de sermos a nossa própria casa para a gente habitar”.

“Talvez eu tenha me arrependido (interlúdio)” – “Este registro, na verdade, era um áudio que enviei para uma de minhas melhores e maiores parceiras que encontrei nessa vida, com um desabafo sobre uma relação da época. Ali, eu entendi que o medo é uma das emoções mais perigosas da vida, por nos enfiar numa fantasia que, na maioria das vezes, não tem nada a ver com o nosso lugar real”.

“Movimento” feat Assucena – “Esta eu escrevi com a Elis Menezes. Eu estava mal, fomos para um parque e, assim que abrimos o caderno, as coisas simplesmente vieram sem a gente pensar. Veio como escrita até psicanalítica, assim. Quando percebemos a junção das frases, a canção nasceu. Este processo de decomposição é uma das coisas que mais prezo nessas criações conjuntas, de não ficar girando tanto a lâmpada para ver o que o nosso inconsciente tem a nos dizer”.

“Traia me traia” feat Rodrigo Alarcon – “Nessa, eu verso sobre o prazer da relação que, às vezes, acaba nos afastando do que precisamos ser e viver. Eu começo falando ‘traia me traia, mas não me distraia de mim’, para refletir sobre esta idealização sobre o outro, sobre nós. Principalmente dentro de uma relação monogâmica, sem entrar num lugar hierárquico, é como um ‘pode me trair, pode fazer o que você quiser, só não me distraia do que eu preciso viver, não me distrai da minha dor do meu prazer’. Acho que é isso”.

“Tuas Veias” – “Essa canção faz parte de um movimento de trazer minhas dores e frustrações para um lugar mais dançante, para aprender a dançar com a dor, literalmente. E todo este processo criativo me ajudou a lidar com tudo de um jeito mais leve. Acredito que toda a carga subjetiva que essa composição traz, abre espaço para interpretações muito plurais”. 

“Baby-Baby” – “Foi uma música que escrevi no momento em que mais me vi afundada na depressão em minha vida, quando eu morava em Boston e cursava música. Sempre foi um grande sonho estudar lá e quando eu finalmente consegui, logo percebi que não era o que eu queria, que a música brasileira é a grande paixão da minha vida. E foi uma longa caminhada entre entender isso, me forçar a estar lá achando que o sonho e idealizações que eu tinha criado iam fazer com que eu sobrevivesse, mas acontece que sonho, teoria e realidade são muito distantes. Então, coloquei todos esses pensamentos, angústias e realizações no papel, num misto de inglês e português, versando ‘I’m sorry darling, você quer que eu traduza, mas em english não dá mais para mim’. Eu lembro que sempre que cantava música brasileira lá eles pediam para eu ficar traduzindo, mas tem coisas da nossa vida que não se traduz, principalmente o que a gente aprende na música brasileira”.

“Cartas de Silêncio” – “É uma música extremamente importante na minha reflexão sobre a desconstrução de ego, pois, ao longo das relações que vivi, recebi algumas percepções sobre a minha escuta, tanto do lado positivo quanto do lado negativo. Então, em ‘Cartas de Silêncio’ é sobre aquelas cartas que a gente escreve para o outro sem antes escutá-lo, às vezes tem coisas que a gente fala, mas que, na verdade não cabem na escuta da outra pessoa. Penso que é muito importante a gente se desfazer desse prazer de querer ser ouvido o tempo inteiro, se desfazer desse prazer de querer dizer tudo que a gente quer falar o tempo inteiro, numa competição de qual fala é mais importante”

“Vida Solear” – “É uma música que existia há bastante tempo, sobre esses momentos difíceis de encarar o prazer. Escolhemos esta para ser a última música do disco, principalmente, por ela trazer um pouco dessa morte. A faixa tem um arranjo que vai para um lugar bem caótico, e em algum momento ela termina com um grito, que é justamente esse ponto auge do gozo que precede a morte do prazer, antes de surgir outro. Às vezes a gente tem muita pressa de correr no sentido do prazer, de produzir o dia inteiro achando que é na conclusão das tarefas que ele virá, quando, muitas vezes, ele está na calmaria, está dentro do próprio processo”.

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31/10/2024

Damy Coelho

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