Em 1973, a Phonogram, realizou um festival com as grandes estrelas do seu elenco. Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Nara Leão, Jorge Ben e diversos outros ídolos compuseram o line up do evento. Idealizado por André Midani, diretor geral da multinacional no país, e Armando Pittigliani, diretor de serviços criativos, o festival aconteceu em São Paulo, no Centro de Convenções Anhembi, e ficou marcado para sempre na história da música brasileira.
A proposta era simples: cada artista apresentaria um dueto com outro nome do casting, além de uma apresentação solo. O formato se afastava dos festivais competitivos realizados por redes de televisão, com os quais o público estava habituado, e era um prato cheio para o marketing da gravadora. As apresentações foram registradas e posteriormente lançadas em três LPs, que até hoje você pode encontrar em sebos ou sites especializados.
Apesar dos momentos de euforia e das impecáveis apresentações, o episódio mais lembrado do Phono 73 é lamentável. O Brasil vivia, naquele momento, um dos períodos mais truculentos da ditadura civil-militar e os órgãos de censura atuavam a todo vapor. “Cálice”, composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, havia sido previamente analisada e a letra da canção fora proibida. Entretanto, os artistas não deixaram-se intimidar e subiram ao palco para apresentar a música. Gil cantou a melodia da composição e, ao chegar no refrão, Chico bradava apenas a palavra de ordem “cale-se”. O som de seu microfone foi cortado e a apresentação interrompida. Armando Pittigliani declarou, anos depois: “Um agente do Dops obrigou o técnico [de som] a desligar. Não havia o que fazer. Mas ele e o [Roberto] Menescal só desligaram o som local, não o da mesa, nem o da rádio, que transmitia ao vivo”.
Outra apresentação que vale ser lembrada foi a parceria entre Gal Costa e Maria Bethânia. As baianas subiram ao palco para performar “Oração de Mãe Menininha” de Dorival Caymmi. Além do impressionante dueto vocal entre duas das maiores cantoras do Brasil, que pode ser ouvido nas gravações do festival, o momento ficou marcado pela ousadia. Gal e Bethânia vestiam figurinos que as deixavam seminuas e, durante o show, enquanto cantavam, deram um beijo na boca, chocando os conservadores da época.
Houve também uma dupla bem inusitada, formada especialmente para o Phono 73: Caetano Veloso e Odair José subiram ao palco e cantaram juntos “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”. O episódio ficou marcado pelas vaias do público, composto por jovens de classe média, que consideravam Odair brega. Caetano, revoltado com a situação, jogou seu microfone no chão e retirou-se do palco gritando: “Não há nada mais Z do que a classe A”. Já Odair, alvo principal das críticas, pareceu não ter se incomodado tanto e em entrevista para Paulo César de Araújo, disse: “Nunca tive como meta atravessar o ‘outro lado’ da MPB, eu só sei fazer o que faço e pronto. Se é brega, popular ou outra coisa não me importo”.
Diversos outros artistas gigantes da época, que faziam parte do elenco da Phonogram, também realizaram apresentações incríveis. Foram eles: Erasmo Carlos, Wanderléa, Os Mutantes, Hermeto Pascoal, Sérgio Sampaio, Jards Macalé, Raul Seixas, Wilson Simonal, Fagner, Luiz Melodia, Rita Lee, Ivan Lins, Vinicius de Moraes, Toquinho e MPB4.
Quer saber mais sobre o Phono 73 e conhecer os outros shows que rolaram no evento? Em comemoração aos 50 anos deste festival que ficará para sempre marcado na memória da MPB, a NOIZE fez uma pesquisa buscando entender o que aconteceu nos d. Para contar essa história, usamos as imagens gravadas por Guga de Oliveira e lançadas em DVD, em 2005, pela Universal Music (antiga Phonogram), acompanhando os CDs com registros das performances musicais. Também usamos imagens de veículos que cobriram o evento na época, como o Estadão, com fotos de Alfredo Rizzutti e Claudinê Petrolli. Confira no nosso TikTok:
@revistanoize Você conhece a história do Phono 73? Há 50 anos, este festival marcou definitivamente a MPB. Reunindo grandes nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Jorge Ben, Gal Costa, Maria Bethânia e muitos outros, o evento foi repleto de acontecimentos memoráveis. 📷: Guga de Oliveira/ Alfredo Rizzutti/ Claudinê Petrolli #mpb #musicabrasileira #festivaldemusica #historiadamusica ♬ som original – NOIZE