Há poucos dias, o túnel da Conceição, no centro da capital gaúcha, amanheceu diferente. É que, durante a madrugada, estudantes de publicidade e design demonstraram toda a sua indignação com a sujeira da cidade, escrevendo a frase Por uma Porto Alegre Limpa na parede do lugar. Curiosa foi a maneira que eles encontraram pra escrever, surpreendendo até a polícia: no lugar de tinta, material de limpeza. A frase foi escrita a partir da limpeza da parede. Conversei com Felipe Vincensi, que contou como rolou tudo.
Como surgiu a ideia da manifestação?
A ideia veio da Biba (Gabriela Fontoura), inicialmente pra um trabalho da faculdade. Montamos um site com notícias de Porto Alegre e nele faríamos uma campanha pela limpeza da cidade. Então, ela comentou sobre um vídeo que viu, com um manifesto feito em São Paulo no Dia Mundial Sem Carro, que serviu de inspiração pra nós, assim como o vídeo do Alexandre Órion.
Quanto tempo durou a manifestação?
Saímos em direção ao túnel à 1h30min da manhã e voltamos umas 4h, 5h. Ou seja, em torno de 3 horas.
Foi muito cansativo?
Na verdade não, porque a fuligem sai com muita facilidade. Nós chegamos, planejamos o espaço em que caberia a mensagem e já começamos a escrever. Cada um fazia uma letra, e assim o trabalho ia mais rápido também.
Pra gente ter uma ideia, quantos centímetros de sujeira foram retirados até que a parede aparecesse?
Não chega a ser uma espessura de fuligem grossa. É uma camada fina, mas bem coberta em quase todo o túnel. Só de passar o dedo tu já consegue limpar e ver a cor da parede original. Sai muito fácil.
Como vocês se sentiram durante a abordagem policial?
Primeiro, veio um carro da Guarda Municipal, que chegou apontando armas e nos mandando deitar com a mão no chão. Acho que esse foi o momento mais tenso. Ninguém sabia o que podia acontecer, e ficamos deitados sem nos comunicar por um bom tempo, até chegarem outras viaturas com mais algemas. Foi quando eles algemaram todo mundo. Quando nos levantaram, começamos a conversar aos poucos com os policiais, explicando a situação, até que eles entenderam o que estava acontecendo e nos soltaram. Depois disso foi mais tranquilo, porque aos poucos a gente viu que a atitude deles foi mudando. E outra: desde o início, tinha uma equipe de TV gravando tudo de longe, o que nos deixou mais tranquilos de certa forma, pois os policiais não abusariam da autoridade sabendo que estavam sendo gravados.
Vocês estão satisfeitos com a repercussão que a ação está tendo?
A repercussão foi ótima e maior do que imaginávamos, chegando a sair em noticiários nacionais. E, quanto maior a repercussão, melhor. Assim a mensagem vai se espalhando e disseminando a conscientização que buscávamos.
Vocês estão notando um retorno do público, no sentido de colaborar com a limpeza da cidade?
Muitas pessoas comentaram, principalmente pela internet, que gostariam de participar, de ter feito parte de uma ação como essa. Acho que isso mostra que a população tem disposição pra fazer algo pela cidade. Eles querem, só falta um incentivo, uma motivação, que leve todos a ter a consciência de manter a cidade limpa.
Vocês pensam em dar continuidade, criando de fato uma campanha? De que forma pensam fazer isso?
Pensamos, sim. Queremos fazer algumas outras ações, mantendo sempre vídeos na internet, mas agora com mais tempo pra pensar e organizar o que for fazer. Depois da repercussão da primeira, várias pessoas se interessaram em participar. Então, sabemos que temos um grupo maior disposto a colaborar com o que fizermos. Queremos fazer disso uma ação de todos, com ideias de todo mundo. Nisso, a comunidade no Orkut tem sido uma boa forma de reunir os interessados, além da divulgação dos vídeos no YouTube.
Vocês teriam interesse ou receberam propostas de união com outras instituições que trabalham pelo mesmo fim?
Não recebemos propostas desse tipo, mas seria bem interessante e permitiria iniciativas maiores. Quanto mais gente unida pelo mesmo fim, melhor.
Vocês notam interesse dos jovens em relação ao meio ambiente?
Entre amigos e conhecidos, é um assunto que não surge muito. É algo que pouco se fala e age. Falta consciência. Nesse sentido, acho que se houvesse mais ações, mais conversa, de forma que atinja os jovens, como a ação do túnel, que se aproxima mais desse público, as pessoas teriam mais presente na cabeça a questão de “fazer sua parte”.
Que conselhos vocês dariam pra quem quer colaborar efetivamente com a limpeza da cidade?
Desde ações simples, como o clássico “botar o lixo no lixo”, até optar por formas mais “verdes” de transporte quando possível. Não queremos ver as pessoas limpando a cidade com vassouras por aí, mas cada um fazer sua parte com pequenas ações, conscientizando também pessoas próximas.
Aperte o play e assista ao vídeo da manifestação.
Participaram da ação: aislan’, Caroline Muller, Eduardo Biermann, Felipe Vincensi, Fernanda Ritter, Flora Guerreiro, Gabriela Fontoura, Gregório Kuhn, Samuel Franzen e Tanise Cabral.
Fotos: Eduardo Biermann