Não sei vocês, mas singles não me convencem. Mesmo que “Out of the Black” tenha me prendido a atenção no início do ano pelo peso da bateria e da guitarra – que na verdade é o baixo de Mike Kerr –, eu precisava de mais para me convencer que o Royal Blood é uma banda que vale a pena ouvir.
Eis que o disco homônimo de estreia da dupla de Worthing, no Reino Unido, é lançado e me deparo com dez faixas e uma sonoridade que pode conquistar fãs de Led Zeppelin a Arctic Monkeys. Ouvi um disco com referências ótimas e claras, mas ainda assim moldadas ao estilo da banda. A explosiva “Out of the Black” praticamente grita logo no início: “ESSE É UM DISCO BARULHENTO”. Aleluia!
Parece que consigo ouvir Jack White cantando a narrativa “Figure It Out”. Ben Thatcher aumenta a velocidade e intensidade de suas baquetas na medida em que o garoto da letra fica cada vez mais angustiado. Em seguida vem a faixa mais sexy do disco, “You Can Be So Cruel”, e mais repiques de Thatcher na bateria. O que acaba tornando Royal Blood um disco difícil de ouvir estático. E não adianta se conter, é quase como um reflexo. O corpo e a cabeça acompanham fisicamente cada quebrada da bateria.
Se com a primeira metade do álbum eu já estava in love com a banda, a partir de “Blood Hands” a coisa começa a ficar melhor ainda. Essa é uma faixa que tem uma das coisas que procuro em uma banda de rock (digamos assim): vulnerabilidade. É claro que tem que ter muita bateria marcada, contratempos, algumas guitarras inusitadas (deixamos aqui o baixo de fora porque não é o caso do Royal Blood) e muita atitude. Mas também espero ouvir o que há de frágil nas bandas mais pesadas. Não no sentido de imperfeições técnicas, mas de diminuir o ritmo com elegância. Há de se louvar um grupo que consiga transferir a mesma intensidade das músicas energéticas para melodias mais lentas sem que a essência da banda se perca no meio disso. “Blood Hands” cumpre esse papel.
Mais um pouco de injeção de energia e riffs marcantes com “Little Monster” pra guitarra de Kerr ganhar um peso quase de nu metal em “Loose Change”. Essa é uma daquelas músicas que vão crescendo, crescendo, crescendo até acabar e você dar play de novo. “Ten Tonne Skeleton” é outra faixa brutal do final de Royal Blood: coração partido ao estilo stoner rock do Queens of the Stone Age.
Mike Kerr e Ben Thatcher é uma dupla que sabe o que está fazendo e ao mesmo tempo que consegue dialogar com o público mais old school do rock conversa também com os novatos do indie. Seu disco de estreia é superior a outros lançamentos desse ano e eu já estou ansiosa para o próximo.