Rodízio da Selton

29/03/2011

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

29/03/2011

Por Reginaldo Pujol Filho

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Nunca fui à Itália. E não sei se conheço algum italiano, mas tem um lugar comum que é o seguinte: se um pizzaiollo da Itália acordasse agora, nesse instante, em uma pizzaria brasileira, diz que o sujeito ia ter um choque.

Não, não pelas condições de higiene. Não, não é porque está tocando Luan Santana enquanto ele faz a massa. É por causa do que a gente fez, ao longo dos tempos, com a tradicional pizza italiana aqui no nosso país. Dos quatro sabores típicos, fomos pra trezentos e setenta e seis, fora as combinações, o queijo duplo e as opções de borda. Aqui em Porto Alegre tem rodízio que oferece até o delicioso sabor hot dog. Uma heresia, não, mama mia?

Pois bem, viva a heresia. No último domingo, que para muitos brasileiros é domingão de pizza, eu estava no Ocidente para conferir um show da Selton. Não vou explicar a trajetória desses guris, pois a NOIZE já fez isso aqui. Vou é falar da pizza à moda da casa desses guris. E aí, viva a heresia, e perdão ao pizzaiollo.

Não sei o nome do produtor que descobriu os guris em Barcelona e os importou para a Itália, mas esse cara estava fazendo um troço como levar o dono da Chuca ou da Al Cappone (uma rajada de sabor) para o coração de uma pizzaria italiana. Poderia se dizer, em bom lugar comum, que o que a Selton faz, e apresentou ontem aqui pra gente, é uma salada rítmica. Mas eu prefiro dizer que eles fazem mesmo é um rodízio de pizza musical. Quando deixaram o país para viver na Europa, os guris saíram daqui com as mais variadas influências, como Beatles, Beach Boys, Mutantes, Graforréia, Chico Buarque, Raul Seixas, Strokes e vamos que vamos, e, ô, se vamos. Mas não sei onde tudo isso ia dar se eles não tivessem ido parar na terra do Berlsuconi. Pense em música italiana. Champagne per brindare un incontro? Furico li, Furico lá? O sole mio? Pode ser, porque não é o clichê que vai transparecer do som da Selton. Dá para dizer que eles fizeram um (ou dois, já que estão no segundo lançamento) disco de massa de pizza como uma base feita da sua experiência italiana e começaram a despejar seus ingredientes favoritos ali.

Desde o primeiro disco, Banana a Milanesa (um senhor achado a começar pelo título), tem rock, tem música típica italiana, tem ritmo brasileiro, tem experimentação, tem humor, muito humor, tem letra, tem vocais lindamente harmonizados, tem pra todos os gostos no cardápio desse rodízio chamado Selton. Quer um refrão italiano que vira rock com guitarras anos 2010 e vocalizações que remetem a “Ob-la-di Ob-la-da”? Peça pra ouvir “Non Lo So”. Quer vocal raulsseixiano, com boa letra e delícia de backing vocal? Sugerimos “Eu Quero Mudar”. Quer thcutchururus mezzo italiano, mezzo português? A “Anima Leggera” está ótima. Quer baladinha folk e assobios doces? “I Wood” saindo do forno? Quer uma pegada country, dançante, com humor e inglês de sotaque indiano? Experimente “Be Water”. Quer releituras de clássicos populares italianos? O senhor vai gostar de “Vengo Anch’io No Tu No”. Quer uma música antológica, experimental, com bandolim e humor ácido? “Eu Vi um Rei”, acompanhado de uma cervejinha. Pode confiar.

E isso é só parte do cardápio que a Selton ofereceu na noite do último domingo aqui em Porto Alegre, e que estão levando para o Rio e São Paulo ainda nesta semana. Mas este show do Ocidente (o segundo da turnê brasileira) tinha ainda mais especiarias. Não bastasse cada música vir servida pela paixão de uma banda jovem que ainda toca colada, aproximada pela intimidade e pelo tamanho do palco, trocando olhares e sorrisos internos a cada acorde que só eles sabem porque foi tão especial, não bastasse isso, esta apresentação da Selton foi uma reunião de amigos, no palco e na platéia. Era um show íntimo, o tal do pettit comité. Os amigos do colégio e da faculdade assistindo aos guris chamarem para o palco seus convidados especiais, de Daniel Tessler e Dingo Bells até Carlinhos Carneiro e Tchê Gomes, do TNT.

Só que o mais impressionante da Selton e dos seus shows, dos seus discos, é que listem-se referências, listem-se participações especiais, listem-se influências e, quando você escutar, talvez ache outra coisa. Algo diferente, com outro gosto. Porque, se os caras têm essa coisa de pizzaiollo de rodízio, quase irresponsável, na mistura de tudo e mais um pouco, na verdade eles também são chefs no que fazem. Tudo, da balada ao experimental, das harmonizações de vozes a la Beatles à tarantella, tudo acaba saindo com um baita gosto de Selton. Um gosto diferente como a borda de salsicha que a Pizza Hut tentou empurrar uma época. Só que bom, muito bom.

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29/03/2011

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