Não faltaram shows imperdíveis neste 2024 — ficou até difícil escolher os favoritos. Ainda assim, coube à redação e aos colaboradores da revista Noize a missão de eleger aqueles que mais marcaram o ano. Teve de tudo: de MPB, passando pelo rock ao pop, de novos nomes a artistas consagrados, de nacionais a internacionais.
Porém, temos uma favorita: Liniker e sua tour Caju levou dois votos (por shows realizados em locais diferentes do país, vale frisar).
Confira a lista completa:
Shows nacionais:
Liniker – Caju (Vivo Rio, Rio de Janeiro – RJ)
É impossível colocar qualquer outro show no topo da lista se não for o da turnê Caju da Liniker, no Vivo Rio. As palavras simplesmente não conseguem transmitir as sensações vividas naquela noite. Durante mais de duas horas de espetáculo, ela revelou ser uma artista completa. Suas interações descontraídas com os backing vocals e o público, a potência vocal impressionante e a superprodução foram apenas alguns dos destaques. Se continuar, vou me perder em adjetivos. Armando Holanda/Colaborador revista Noize.
Juçara Marçal (Festival Música Quente, Belo Horizonte – MG)
A expectativa para o show de Juçara Marçal já era alta, considerando que esta seria a primeira apresentação do repertório de seu segundo disco, Delta Estácio Blues (2021) na capital mineira. Dividiu o line-up com nomes extremos (deafkids, TEST e LIGHTNING BOLT) e — por influência desta ocasião ou não — a cantora e sua banda tocaram as faixas do álbum com um peso surpreendente. Kiko Dinucci, Alana Ananias e Marcelo Cabral, que acompanhavam Juçara, não apenas costuraram a tapeçaria de ruídos, arranjos milimétricos e samples das canções de DEB com exatidão e ternura, mas adicionaram um volume tortuosamente catártico, punk, espesso. Em meio a uma faixa e outra, enquanto recuperávamos da emoção pela voz de Juçara, ela dançava vinhetas compostas por beats de funk dos remixes do álbum, que seriam lançados duas semanas depois no disco DEB RMX — mostrando como se pode fragmentar, sempre, a música em direção a novos lugares com ainda muito a se dizer. Ainda houve espaço para canções redentoras como “Velho Amarelo”, do álbum Encarnado (2014), fechando a percepção de que é imprescindível ouvir e ver Juçara de novo e de novo. Bruna Vilela/Colaboradora da revista Noize.
Liniker – Caju (Festival Carambola, Maceió – AL)
Montar um show com uma banda robusta e afiada, e enfileirar sucessos na boca do povo, não é para qualquer uma. Existem alguns artistas no Brasil capazes de realizar essa proeza, mas, geralmente, são aqueles já consolidados no mainstream, como é o caso de cânones como Caetano Veloso e Maria Bethânia, ou mesmo fenômenos populares, como Ivete Sangalo. Mas, quando vemos Liniker chegar nesse patamar ainda no seu segundo disco solo, Caju (2024), é ainda mais especial. A artista tem todo o mérito por criar um repertório tão arrojado, capaz de enfeitiçar o público mesmo quando vai na contramão do mercado e propõe um som pop mais orgânico, até contemplativo. Quando tudo isso absorve a realidade em um show com a força da interpretação de uma cantora trans negra e sua banda, o mundo ainda ganha outra dimensão. Esse outro plano, em que todos estão conectados pela busca do Caju e se reconhecem meio Liniker, mesmo que diferentes dela, é o Brasil em que se vale viver. Camila Estephania/Colaboradora da revista Noize.
João Bosco e Quarteto – (Coala Festival, São Paulo)
O show do mestre João Bosco foi uma grata surpresa no Coala Festival, para quem esperava pelos Palaramas do Sucesso ou Arthur Verocai (que, infelizmente, teve a apresentação cancelada devido a uma queda que o músico sofreu durante a passagem de som). Mesmo tocando sob um sol escaldante na tarde de sábado, João Bosco levantou o público junto ao seu quarteto. Passeou por sucessos com arranjos especiais para as versões ao vivo e animou quem transitava pelos palcos do festival, especialmente em “Prêt-à-Porter de Tafetá” e em uma acústica “Papel Marchê”, que botou todo mundo para cantar junto. Damy Coelho/Editora assistente.
Marcelo D2 – Iboru (Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre – RS)
O show de Marcelo D2 foi, sem dúvida, uma verdadeira aula de como fazer uma apresentação memorável. Mesmo sem ter ouvido tanto o último álbum, senti como se conhecesse todas as músicas, imersa em algo que ia além delas. Misturando clássicos consagrados do samba, sucessos de sua carreira e faixas mais recentes, a combinação da roda de samba com uma direção de arte impecável resultou em uma experiência única e inesquecível. Emanuele Dal Sasso/Planejamento.
Planet Hemp – JARDINEIROS (Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre – RS)
Foi incrível presenciar a volta aos palcos do Planet Hemp, com direito à banda completa. O momento também marcou a volta do Daniel Ganjaman ao grupo, na direção do show. D2 e BNegão botaram o clima lá no alto, a roda punk foi bonita, a fumaça tomou conta do auditório, era a primeira vez que eu estava assistindo ao Planet tocar o repertório novo. É uma das minhas bandas preferidas e, há oito anos, eu tinha assistido ao último show deles em Porto Alegre. Erick Bonder/Redator.
Laura Lavieri e Cacá Machado – Melhor Que o Silêncio (Blue Note Copacabana, Rio de Janeiro – RJ)
Laura Lavieri e Cacá Machado realizaram um intenso estudo nas sonoridades e nos silêncios do clássico João Gilberto (1973), popularmente conhecido como “álbum branco” e, ainda assim, sem se darem “a ingrata missão de imitar o João Gilberto”. A apresentação se tornou um marco ao transpor com excelência o clima intimista do disco para o palco. Além da dupla, o show contou com o percussionista Igor Caracas, que tocou cesta de vime, folhagens e outros instrumentos não convencionais para recriar a percussão minimalista das faixas. Entre as músicas, a cantora também apresentou à plateia informações sobre os bastidores da gravação, ressaltando a importância da produtora Wendy Carlos e levando o público a mergulhar neste disco, que é uma das obras-primas da música brasileira. Lucas Vieira/Colaborador revista Noize.
Os Paralamas do Sucesso – Paralamas Clássicos (Auditório Araújo Viana, Porto Alegre – RS)
A banda retornou ao Rio Grande do Sul depois dos eventos climáticos que prejudicaram o estado, e fizeram uma apresentação em Porto Alegre, no dia 24/08. O Araújo Viana estava praticamente lotado e a plateia animadíssima para a apresentação que prometia muito e entregou tudo, com os maiores hits desses 40 anos de carreira da banda. Foi bonito ver famílias reunidas, mostrando que música boa não tem data de validade e os Paralamas são atemporais. O ponto alto foi a parte romântica. Para todo lado onde se olhava, podia-se observar pessoas cantando a plenos pulmões músicas como “Cuide Bem do Seu Amor”, “Aonde Quer que Eu Vá” e “Lanterna dos Afogados”. Além do repertório muito bem escolhido, as projeções que compunham a cenografia do palco deram um show à parte. Raul Tano/Gerente de Projetos.
Jaloo (Audio, São Paulo – SP)
Quantas vezes você não voltou de um show com vontade de ter escutado aquela música que não entrou no setlist? De “Jaloo: 3 Eras”, ninguém saiu com esse sentimento. A paraense celebrou seus três discos na íntegra, além de ter pensado em figurinos para cada um dos atos. A presença de MC Tha, sua parceira criativa de longa data, deixou a noite ainda mais emocionante; enquanto Gaby Amarantos fez história na Audio, cantando direto do mezanino. Thaís Ferreira/Colaboradora Revista Noize.
Maria Beraldo – Colinho (Sesc Pompeia, São Paulo – SP)
O show de lançamento de Colinho no Sesc Pompeia foi eletrizante, definitivamente o meu melhor do ano. Com direção de Felipe Hirsch, luzes de Olivia Munhoz e styling de Alma Negrot, Maria Beraldo subiu ao palco ao lado do baterista Sérgio Machado e do baixista Fábio Sá. Grande elenco. Com os nstrumentos dispostos em diversos pontos do palco, Beraldo teve que ziguezaguear a arena de acordo com o setlist. Dominou o palco, sem deixar de lado sua natural destreza e precisão. Tocou clarinete, sax, piano e violão. Do repertório de Cavala (2018) até Colinho (2024), o show também passou por “Nobreza”, de Djavan, e “Ivy”, de Frank Ocean, sendo essa última que arrematou a apresentação. Absolutamente hipnotizante. Thais Regina/Colaboradora revista Noize.
Sepultura (Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre – RS)
Foi meu primeiro show do Sepultura e achei bastante especial que tenha sido na turnê de despedida Celebrating Life Through Death. Depois de 40 anos de trajetória, a banda encerrou os trabalhos com uma série de shows que relembrava sua história através de seus grandes sucessos, e reuniu gerações de fãs em um espaço lotado, que ficou pequeno para o carinho do público e a saudade que já se fazia presente. Foi um grande show! Thuanny Judes, colaboradora revista Noize.
Shows internacionais:
Daniel Ceaser (Vivo Rio, Rio de Janeiro – RJ)
Um dos melhores shows internacionais que tive o privilégio de assistir este ano foi, sem sombra de dúvida, o de Daniel Caesar, no Vivo Rio. O artista soube conduzir a noite com seus maiores sucessos e, para deixar tudo ainda mais especial, convidou a carioca Ludmilla para dividir o palco, trazendo um brilho mágico e contagiante ao espetáculo. Armando Holanda/Colaborador revista Noize.
Bikini Kill (Audio, São Paulo – SP)
Com um set curto, sem grandes surpresas, porém devidamente intenso, assistimos a Kathleen Hanna, Tobi Vail, Kathi Wilcox e Sara Landeau subirem ao palco com roupas coloridas, trocarem instrumentos entre si e conduzirem as rodas punk com a sensação de que 34 anos poderiam ser 3 minutos. “We’re Bikini Kill and we want revolution girl-style now”, a voz e a dança enérgica de um lado ao outro da icônica “punk singer” eram as mesmas que pavimentaram tantos primeiros passos dados nos anos 90. E o discurso, como digno de todos os nossos possíveis ídolos, se atualizou, com a banda pontuando que pessoas trans e não-binárias têm lugar no front das garotas. Sem conseguir me ater simplesmente à persona fã e jornalista, enquanto guitarrista, eu sabia que a celebração do “carnaval punk feminista” seria apoteótica, encontrando tantas pessoas queridas que, há anos, ganharam sentido, amizade, vivências e firmeza para tocar um instrumento (ou fazer qualquer outra coisa) através da banda. Bruna Vilela/Colaboradora da revista Noize.
Madonna – “The Celebration Tour” (Copacabana, Rio de Janeiro – RJ)
De norte a sul, Madonna ainda vai ser assunto no Brasil por um bom tempo. Qualquer um que assistiu ao seu show, presencialmente na praia de Copacabana, ou pela transmissão na TV, certamente não saiu ileso a tudo que aconteceu no palco. Claro que um show com um público tão amplo sempre dividirá opiniões, mas essa perspectiva não intimidou a cantora norte-americana, que manteve a narrativa ousada do show teatralizado sobre sua trajetória. Ao relembrar sua história e performar suas músicas mais emblemáticas, Madonna não só exibiu a riqueza musical do seu trabalho para os mais novos, como também despertou o debate nacional sobre temas como homofobia, machismo e liberdade sexual feminina em todas as idades. O tipo de show que mobiliza a sociedade também é capaz de mudá-la de lugar. Eu amei, e amei que minha mãe amou. Camila Estephania/Colaboradora da revista Noize.
Dinosaur Jr. (Balaclava Festival, São Paulo – SP)
O palco do Balaclava Fest, montado com uma paredão de caixas Marshall, já entregava o que viria por ai: sonzeira no talo, a especialidade dos estadunidentes do Dinosaur Jr, que fecharam o line. Espécie de patronos do rock alternativo, o trio entregou um show cheio de energia, mesmo alegando cansaço no inicio da apresentação. Talvez por isso, não intetagiram tanto com o público, mas nem precisava. O trio abriu com “The Lung” e entregou outras do aclamado You’re Living All Over Me (1987), como a “In a Jar”, para além do famoso cover de “Just Like Heaven”, do The Cure, já na reta final do show, sempre acompanhados pela energia intensa da plateia. O momento de deleite coletivo veio com o “Feel The Pain”, do Without a Sound (1994). Nessa hora, todo mundo vibrou e pulou como se não houvesse amanhã. Com justiça, um dos shows mais altos e enérgicos do ano. Damy Coelho/Editora-assistente
Msafari Zawose, Música da Tanzânia ( Casa de Francisca, São Paulo – SP)
Conheci ao vivo a música de Msafari, músico do povo Gogo, da Tanzânia, que usa instrumentos africanos tradicionais, como o zeze, feitos por ele mesmo. O show foi no porão da Casa de Francisca, em São Paulo, e a performance do artista, impressionante. Zawose faz música com o corpo, com guizos presos nas pernas, enquanto canta na língua gogo e toca lindamente. O show também contou com participações, como a de Curumin. Erick Bonder/Redator.
Devendra Banhart (Queremos, Rio de Janeiro, RJ)
Um dos destaques do line-up da quinta edição do festival Queremos, Devendra Banhart apresentou seu som indie dividido entre momentos para dançar e outros para viajar. Com um vestido de cortes retos, o artista tocou faixas do álbum Flying Wig (2023), além de canções de diversas fases de sua carreira e até covers de Madonna e da canção popular “Marinheiro Só”. Primeira apresentação do músico no Brasil em sete anos, o show contemplou a plateia com momentos marcantes, divididos entre novidades, surpresas e clássicos. Lucas Vieira/Colaborador revista Noize.
Mayra Andrade (Sesc Pompeia, São Paulo – SP)
Ao pensar na disposição do teatro do Sesc Pompeia, Lina Bo Bardi queria que o público compartilhasse uma marcante experiência coletiva. Esse foi o feito de Mayra Andrade nas duas noites em que se apresentou no espaço. Sentada numa poltrona, rodeada de plantas, a cabo-verdiana cantou apenas músicas compostas por ela, com o acompanhamento de Djodje Almeida no violão. Foi como estar no conforto da sala de casa, mas com mais de 700 pessoas. Thaís Ferreira, colaboradora revista Noize.
Milo J (Córdoba, Argentina)
Ver um artista na sua cidade, estado ou país de origem é sempre especial. Agora, ver Milo J em um festival de música de Córdoba, na Argentina, um mês antes do cantor e compositor de 18 anos virar capa da Rolling Stone, foi único. Logo antes desse show, todas as bancas de jornal e os vidros traseiros de ônibus de Buenos Aires estampavam seu rosto — e, claro, todos estavam cortando seu cabelo exatamente como ele. Milo segurou bem um palco grande, com músicas quase que invariavelmente sobre desejo, conquistas e perdas amorosas. Rimou bem, inclusive em bases que flertam com o funk brasileiro. Mais do que virtuoso, foi um show bonito. No seu rosto, tinha uma serenidade de ter conseguido tudo, e tão rápido. Thaís Regina, colaboradora revista Noize.
Jerry Cantrell (Audio, São Paulo- SP)
Sou uma grande fã de Alice In Chains e, sem dúvidas, assistir o fundador da banda ao vivo, de pertinho, foi um dos pontos altos do meu ano. No show que faz parte da turnê do álbum I Want Blood (2024), Jerry tocou singles do lançamento e trouxe também grandes sucessos da sua carreira, como “Psychotic Break”, “My Song” e até “Angel Eyes”. E claro que ele também aproveitou para presentear os fãs do Alice In Chains com hits como “Would?”, “Man In A Box” e “Sea Of Sorrow”. Acompanhar o show dessa lenda viva do grunge foi maravilhoso e já estou ansiosa para o próximo. Thuanny Judes, colaboradora revista Noize.
LEIA MAIS