Lucky in New York City

04/06/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

04/06/2014

Em um trecho de “New York City”, Joey Ramone canta: “I’m lucky in this city, in this New York City”. E acho que é dessa forma que posso descrever esta viagem. Me senti com sorte e voltei para casa com a bagagem repleta de histórias inesquecíveis.

Estar em Nova Iorque é como estar em um filme (ou algum seriado como “Friends” ou “How I Met Your Mother”), mas o que motivou a ida para lá foi uma única coisa, que é muito importante para mim: música. Eu e meu namorado compramos ingressos para dois eventos imperdíveis e baratos: o show do CJ Ramone e o Joey Ramone Birthday Bash, que acontece todos os anos, no mesmo dia, 19 de maio.

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Aliás, para quem gosta de Ramones, Nova Iorque é uma cidade onde é possível montar um roteiro de passeios baseado na história da banda. Entre os lugares, há bares onde eles tocaram, o antigo CBGB, que atualmente é a loja de roupas John Varvatos, a loja Schott, onde os integrantes compravam as jaquetas perfecto, as ruas 53rd & 3, o túnel no Central Park, onde foi feita a foto da capa do disco “Too Tough To Die”, a loja Guitar Center (foto abaixo)… Enfim, a cidade é um prato cheio para os fãs da banda.

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Quero conhecer CJ Ramone
Chegamos no dia do show do CJ, 10 de maio. Nunca tinha assistido ao seu show, apesar de ele já ter vindo ao Brasil algumas vezes. Por 15 dólares, em Nova Iorque foi a minha vez. O lugar, chamado Bowery Eletric, não poderia ficar em outra região: a um quarteirão do saudoso CBGB e a poucos metros do Joey Ramone Place. É pequeno e aconchegante e, sendo assim, ficar próxima a CJ e sua banda nunca foi tão fácil.

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O show já começa com “Judy Is A Punk”, dos Ramones. Aliás, além das músicas do excelente álbum “Reconquista”, de 2012, o set list é repleto de Ramones. Entre os sucessos da banda, CJ toca “Strength To Endure”, “Wanna Be Your Boyfriend” e “Blitzkrieg Bop”. Em “Three Angels”, do seu mais recente disco, ele homenageia Joey, Dee Dee e Johnny, e quando a anuncia, é aplaudido pelo pessoal. A última música é “R.A.M.O.N.E.S.”, do Motörhead, que leva o público à loucura.

Assista também aos vídeos das músicas “What We Gonna Do Now” e “You’re The Only One”, aqui e aqui.

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O tempo passa, mas a voz dele continua a mesma da época dos Ramones. O que impressiona no CJ é a empatia e a maneira como ele lida com o público. E bom, ele é um Ramone. Poderia agir de qualquer forma que aceitaríamos, mas prefere ser atencioso e isso faz o show valer ainda mais. Tanto que, no dia 13, decidimos pegar um trem até uma cidade chamada Poughkeepsie – troquei tantas vezes esse nome com o da bebida Popokelvis… – para mais uma apresentação do CJ, que ficamos sabendo que rolaria quando já estávamos em NYC.

Como chegamos cedo, fomos conhecer a cidade. Só que tudo estava sendo tão incrível e inusitado, que algo tinha que acontecer no caminho. Enquanto caminhava pelas ruas de Poughkeepsie, eu cantava em alto e bom som a música “Yoqueria”, da banda gaúcha Os Torto. Acredite: exatamente quando estava no trecho “Yo queria conocer Dee Dee Ramone, CJ Ramone…”, dobramos a esquina e demos de cara com o CJ e Steve Soto, guitarrista da banda. Recebi um “oi”’ simpático de ambos.

A cidade tem cerca de 30 mil habitantes e me lembra muito minha terra natal, Soledade (RS), não fosse por um detalhe: o show estava praticamente vazio. No interior do Rio Grande do Sul, quando tem show desse porte, é comum o pessoal das cidades vizinhas comparecer. O lugar do show se chama The Chance, e o set list foi parecidíssimo com o de Nova Iorque. Mesmo com menos de 40 pessoas na plateia, a banda fez um show incrível. Nos sentimos privilegiados por estar ali, tão perto e em um show tão intimista. Como não tive a oportunidade de ver Ramones ao vivo, estar frente a frente com um integrante é emocionante.

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Após o show, conversamos com CJ, tiramos fotos e ainda falamos que o esperávamos no Brasil. Saímos de Poughkeepsie felizes, com um sorriso de orelha a orelha, nem pensando na hipótese de ter que esperar o primeiro trem do dia seguinte. Por sorte, tinha um à meia-noite.

Chegou a hora do Joey entrar nesta história
Depois dos dois shows do CJ, fomos sem grandes expectativas ao Joey Ramone Birthday Bash, no Bowery Eletric, mas como Nova Iorque é uma cidade surpreendente, ainda tínhamos uma longa noite pela frente. A propósito, Green Day e Blondie foram bandas que já fizeram parte do evento em outros anos. Quando chegamos ao local, uma das primeiras pessoas que vimos foi Monte Melnick (foto abaixo), empresário dos Ramones e autor do livro “Na Estrada com os Ramones” (saiba mais aqui), onde o descrevem como “mãe, pai, babá, professor, ombro para chorar, mão para segurar, o cara da limpeza etc”. Um dos pontos altos da festa é a junção de fãs e músicos, pessoas que estão ali reunidas porque adoravam, idolatravam e sentem falta de Joey Ramone.

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John Holmstron, artista que desenhou a capa do livro “Na Estrada com os Ramones” e dos álbuns “Road to Ruin” e “Rocket to Russia”, era um dos anfitriões da noite, ao lado de Monte Melnick. Clem Burke (foto abaixo), conhecido como Elvis Ramone (e foi com esse nome que ele nos deu um autógrafo), baterista do Blondie, também foi prestigiar o evento.

No Joey Ramone Birthday Bash, assistimos ao show da banda que Joey produzia, The Independents, e fomos surpreendidos pela voz do vocalista Evil Presly, que em algumas músicas, lembra mesmo o glorioso rei do rock (por isso o nome artístico com o trocadilho). Além de Independents, Glen Matlock, da formação original dos Sex Pistols, também tocou alguns sucessos da sua antiga banda, como “Anarchy In The UK” e “God Save The Queen”, compostas por ele.

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Mickey Leigh, irmão de Joey e autor do livro “Eu Dormi com Joey Ramone – Memórias de Uma Família Punk Rock” (veja a matéria exclusiva com ele na NOIZE #64), cantou e tocou alguns sucessos da carreira solo do vocalista dos Ramones, como “Waiting For The Railroad” e “What A Wonderful World” (uma regravação de Louis Armstrong).

Assista ao vídeo de Mickey tocando “Waiting For The Railroad” aqui.

Conseguimos conversar com ele e fui surpreendida com a pergunta: por que você não me avisou que viria? É que, durante a tarde, comentei uma foto que ele postou no Facebook, e ele me reconheceu o/. “Vocês são de Porto Alegre, né? Eu conheço! Inclusive, estou sempre no Brasil”, contou.

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Simpático, o irmão de Joey tirou fotos conosco e até sorriu para uma “selfie” comigo no Joey Ramone Place. Também ficou surpreso quando confessei que não tinha seu livro. “Tenho seis versões do livro em português. Me escrevam amanhã, que te dou uma”, disse ele. Chego a imaginar que, não tivesse que voltar ao Brasil no dia seguinte, teria tomado uns drinks com o cara e ganhado, de fato, o livro.

Ainda na frente do Joey Ramone Place, um músico veio conversar com a gente. Só depois ficamos sabendo que seu nome era David Peel, e ele era muito conhecido em Nova Iorque, principalmente nos anos 60. O cara era amigo de John Lennon e Yoko Ono, imagina!

Pensamos que a noite incrível tinha acabado por ali, mas antes de irmos embora, resolvemos passar na frente do Continental, lugar onde Joey fez seu último show, em dezembro de 2000. Lá também tocaram grandes nomes, como Guns N’ Roses, Iggy Pop e Patti Smith. Trigger, dono do bar, nos chamou para conversar, porque viu que vestíamos camiseta dos Ramones. “Eu era amigo da banda, Joey morava logo ali”, disse, apontando para um prédio próximo. Ele contou ainda que conhece o Brasil e que é amigo do Supla. Conversa vai, conversa vem, Trigger nos levou para o backstage do Continental. Lá, nos mostrou desenhos e frases do Dee Dee pintados na parede, que ele nunca apagou para poder sempre lembrar do amigo louco, como ele se referia ao ex-baixista dos Ramones. Antes de irmos embora, Trigger nos presenteou com um álbum da banda, gravado no próprio Continental.

No dia seguinte, ainda no roteiro Ramones, fomos até a loja Guitar Center, cuja vitrine é repleta de equipamentos da banda. Também há roupas usadas pelos integrantes: os famosos jeans Levi’s e as jaquetas perfecto de couro estão lá.

E como coisas inesperadas aconteceram durante toda a viagem, no último dia não poderia ser diferente, né? Enquanto olhávamos a vitrine, um grupo de pessoas se aproximou e ouvimos alguém falar “Linda, olha ali”, apontando a jaqueta do Johnny. Estávamos lado a lado com a nada discreta Linda Cummings (foto abaixo), ex-namorada de Joey e viúva de Johnny, a responsável por ambos não se falarem mais. Mas é importante lembrar que, apesar de todo o mal que causou a Joey, ela também o inspirou a escrever belas canções de amor <3 10360535_10202585097283037_1214159571970224033_n

Infelizmente, nossa viagem embalada por Ramones acabou naquele dia, mas em agosto/setembro, tem show do CJ Ramone no Brasil para relembrar esses bons momentos (acompanhe as infos no site dele). Quem sabe ele nos reconhece? Se sim, tenho certeza que vai pensar, apavorado: Ah, Meu Deus, aqueles brasileiros que estavam em Poughkeepsie estão aqui? Socorro!

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04/06/2014

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