Rod Krieger apresenta o álbum ‘Assembleia Extraordinária’ faixa a faixa

23/10/2024

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Daryan Dornelles / Divulgação

23/10/2024

O isolamento na pequena aldeia Sobral do Parelhão, no oeste de Portugal, foi definidor para Rod Krieger. Foi nesse contexto que veio a inspiração e a lapidação do segundo álbum de sua carreira solo, Assembleia Extraordinária (2024), que também vai virar filme.

Para além das costuras sonoras de space rock que o álbum apresenta, sua produção foi também um experimento para que Rod mergulhasse em outros processos da produção fonográfica. “Foi o primeiro trabalho que fiz praticamente tudo sozinho”, conta. “Tive momentos em que precisei acertar-me comigo mesmo. O aprendizado foi técnico e pessoal, pois fui músico, produtor, compositor e engenheiro de áudio”, completa. O trabalho mostra uma faceta bem diferente daquela conhecida pelo grande público na banda Cachorro Grande.

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O autoexílio também fez com que Rod se aproximasse mais do Brasil. Esse processo mora nas influências para a feitura do álbum, que vão de Alceu Valença a Beto Guedes e Arnaldo Baptista. Dos portugueses, destaca Jorge Palma, José Cid e Sérgio Godinho como referências.

Além do músico, participam do álbum João Nogueira e João Mello nas teclas e flauta; respectivamente, e Fabio Kidesh no sitar e tambura.

O próprio artista nos guia pelas nove faixas do álbum. Confira abaixo:

A Assembleia Extraordinária

A faixa que abre o disco e dá título ao álbum é um recorte de algumas texturas sonoras que tinha guardado em meus arquivos, mescladas com sons intuitivos que fui criando durante o processo de composição. 

Recordo que no disco anterior, tinha feito um tema de abertura e que, por algum motivo, tirei de última hora. Já era um desejo abrir um disco com algo que conectasse o ouvinte à obra, e quando estava finalizando o álbum achei pertinente investir nisso. Além do mais, essas colagens sonoras remetem aos vídeos que venho trabalhando, pois são também colagens, mas no caso de imagens que se sobrepõem. Algo como se a música entregasse a essência dos vídeos e vice-versa.

“Cai o Sol e Sobe a Lua

Pode se dizer que essa faixa foi o fio condutor do disco, ela foi a primeira a ser escrita e durante o processo de procura pela textura sonora ideal, acabei testando alguns arranjos e timbres que influenciaram em outras músicas. A batida eletrônica substituiu a analógica na mixagem e gostei da simplicidade que soa junto ao baixo marcado, e isso acabou dando espaço para os sintetizadores e flautas fazerem a cama para a melodia vocal. 

A letra da música fala sobre pensamentos que nos rondam durante o dia todo, onde transitamos em futuros utópicos e em sentimentos antigos, algo sobre como conseguimos nos situar em lugares com o poder da memória e da imaginação.

Era”

Criei e gravei todos os instrumentos dessa música, assim como 90% do álbum. Era foi a última faixa que produzi e tudo já estava mais claro na minha cabeça, pode ter sido esse um dos motivos que escolhi ela para ser o single do disco. A estética Space Rock, gênero para o qual venho me direcionando, se encaixa bem nessa música, pois, por mais que tenha um lado mais dançante, ela vai parar em algumas sonoridades mais obscuras. 

Provoquei a dualidade em vários momentos da Assembleia Extraordinária, e aqui podemos ter um exemplo disso. Nas partes em que canto falo um pouco sobre às vezes parar e respirar um pouco, deixar as coisas acontecerem naturalmente, pois aquilo que nos preocupa na maioria das vezes não acontece. Uma canção que fala sobre o tempo, tema que abordo desde o álbum anterior.

Em Qualquer Lugar que Existir

Pode-se dizer que essa é a mais antiga de todas as músicas do disco. Essa sequência de acordes tem mais de 10 anos, com certeza. Já arrisquei em diversos formatos diferentes e nunca tive um resultado satisfatório, por isso ela saiu e entrou da gaveta diversas vezes. 

Algumas referências tropicais já começam a dar as caras, pois nessa versão explorei alguns instrumentos, como o clavinete, que deram uma balançada no começo da música, além dos Mellotrons do refrão somados à tuba trouxeram aquele lado circense, ecos de Arnaldo Baptista. 

Cabelos Longos

Indiscutivelmente Portugal me aproximou musicalmente do Brasil, talvez a melhor herança que eu poderia ter dessa experiência. Lisboa tem uma veia pulsante nos anos 70 brasileiro não só na música, mas como nas artes em geral. Mergulhei em alguns discos e o Alceu frequentemente ia para os meus alto-falantes. 

Quando re escutei o disco Molhado de Suor, de 1974, lembrei da faixa Cabelos Longos que eu já havia pensado em gravar no passado. Então foi muito rápido o processo de rearranjo, busquei um loop de bateria hipnótico e tive o trabalho de arrastá-la do Brasil para a Índia, substituindo a guitarra pelo sitar com a ajuda do meu amigo sitarista Fábio Kidesh, que sempre está presente em meus álbuns.

O Fluxo das Coisas

Ela tem uma pegada mais Rock n Roll e as influências do passado ficam mais explícitas nessa música, muito pelo riff de guitarra da introdução e pelo refrão que tem um pé nos anos 70. Somados às batidas eletrônicas, dão um clima mais quente à música. 

A mensagem que eu venho passar é sobre essa diferença que colocamos entre nós e o planeta, o que na verdade não existe. Somos apenas uma coisa, e precisamos nos cuidar. Não existe “a natureza”, nós somos a natureza e se a gente não cuidar da gente como um ser só uma hora acaba a festa. O reflexo de minhas conversas com o rapper indígena Owerá estão explícitas na letra dessa música.

Transmimento

O nome da música partiu de um dia que estava com a Lucinha (companheira de Arnaldo Baptista) em uma troca de mensagens via telefone e mandamos a mesma mensagem falando sobre o mesmo assunto ao mesmo tempo e logo em seguida um de nós escreveu a frase “Transmimento de Pensação”, as risadas foram simultâneas. Tempos depois recebi um quadro do Arnaldo com a mesma frase que acabou batizando a faixa instrumental e por pouco não foi o nome do álbum.

“Este Comboio não para em Arroios

Tenho me inclinado para temas instrumentais há muito tempo e nessa fase de reconexão com a guitarra elétrica mais ainda. 

Este Comboio foi escrita após o ensaio para os concertos da tour do disco A Elasticidade do Tempo. Na época, estava ensaiando com uma banda em formato power trio – dois rapazes com 10 anos a menos que traziam muita energia para o ensaio. Quando voltava de metrô escutava a frase que dá nome a música, e que é mencionada no final, na estação que no momento estava interditada – a frase acabou ganhando uma homenagem para marcar minha temporada em Lisboa.

A Loucura do Habitual

Qualquer semelhança com o Arnaldo Baptista não é mera coincidência. Em uma brincadeira com os acordes me soou parecido com algumas coisas do Arnaldo quando ele se arrisca nas seis cordas e coube bem com o contexto do disco para fechar. 

A princípio, seria um interlúdio, mas depois de circular pelo álbum teve seu espaço bem escolhido para finalizar o disco. A letra é um pouco autobiográfica e fala sobre a simplicidade das coisas e de dar uma chance ao suficiente.

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23/10/2024

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