Trip Hop, a música que me pega nos rins

16/03/2012

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

16/03/2012

_por Fabiano Liporoni

Música pra mim funciona de uma forma estranha: não necessariamente eu me “apaixono” por uma banda pelo som simplesmente, precisa me pegar no estômago, ou nos rins, ou num tapa na cara ou mesmo numa “bad trip”.

*

Essa semana eu fui chamado pra ser dj numa festa de trip hop aqui em São Paulo, a Protection.

O trip hop é aquele som que veio do interior inglês lá nos idos dos anos 90 e que tinha o hip hop como base principal, só que bem ao contrário. Era um hip hop bem viajandão, numa batida bem mais lenta, criando climas que pra mim eram sempre apocalípticos, sensações extremas mesmo, uma delícia para os iniciados e um susto numa primeira audição.

Claro que com o tempo os nossos ouvidos e nossos ossos e as nossas células vão se acostumando com quase tudo, inclusive com o fim do mundo que o Massive Attack me mostrava a cada música, por exemplo.
O trip hop nunca foi um som “bacana”, descolado” que estava em campanhas publicitárias pelas TVs do mundo afora.

O Portishead era, junto do Massive Attack, a outra banda expoente do trip hop e principalmente por causa de sua vocalista Beth Gibbons, tinha uma legião de admiradores gigante. A aura criada por causa dos poucos discos lançados, dos longos tempos entre shows e aparições foi fazendo com que o Portishead fosse quase que motivo de culto.

Já o Massive Attack sempre foi mais prolífico, lançando mais músicas e mais clipes e fazendo mais shows mas mesmo assim, sempre a margem de um sucesso mundial.

Uma das coisas legais do Massive Attack foi sempre convidar vocalistas para suas músicas, apesar de seus integrantes também cantarem. E essas cantoras convidadas eram sempre as mais bacanas inglesas e pra surpresa minha, a grande Tina Turner lá pelos anos 90 lançou sua versão de “Unfinished Sympathy” dos caras – o que pra mim foi um susto e um deleite, uma das melhores gravações da diva.

Um dos meus sonhos sempre foi ver um show do Massive Attack que se tornou realidade, se não me falha a memória, que sempre me falha, foi em 2004 aqui em São Paulo.

Eu estava muito excitado por vê-los ao vivo mesmo e já na segunda música, disso eu lembro bem, me senti num mundo pós apocalíptico num lugar qualquer da Jamaica, ouvindo uma música desesperada, muito pesada e muito lenta, com uma luz estroboscópica na minha cara, vinda do palco e fazendo com que minha cabeça se perdesse e nesse deleite tive a melhor bad trip da minha vida (se é que isso seja possível). Toda a fofura de músicas como “Teardrop” ou “Angel” se transformou em uma carga de emoção irreconhecível pra mim mesmo até então.

Eu achei que fosse morrer , ou melhor, achei que já tivesse morrido, ou algo assim, que não estava mais em São Paulo no show dos caras. Claro que eu olhava pros lados e via o que estava acontecendo de verdade mas essa sensação causada por um bando de músicos ingleses me fez entender de uma vez por todas que a melhor arte é aquela que te transporta pra dimensões inexplicáveis nem que por alguns momentos de um show e que essas sensações nos fazem entender a vida e, apesar da “viagem ruim”, foi a viagem mais certa pra um momento certo que abriu algumas portas de percepções que até hoje me ajudam e muito.

(aqui um show na íntegra do Massive Attack no Melt Music Festival em 2010)

@fabilipo é fazedor de filmes e tocador de músicas

Tags:, ,

16/03/2012

Revista NOIZE

Revista NOIZE