Euforia e diversidade marcaram o Vaca Amarela 2017

25/09/2017

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Por: Luisa Guimarães

Fotos: Mariana Moreira | Carol Chicarolli

25/09/2017

Desde segunda-feira passada, 18, Goiânia recebeu a programação da 16ª edição do Festival Vaca Amarela, que passou por diversos locais da cidade até o domingo, 24. Diversidade, aliás, é a palavra usada pelo festival para pautar sua programação, que busca reunir diferentes representantes do cenário musical atual. Depois de ocupar bares, centros culturais, boates e pubs durante a semana, o festival chegou ao Centro Cultural Oscar Niemeyer – CCON na sexta e no sábado. O domingo teve uma programação especial em homenagem aos 30 anos do acidente com o Césio 137 no República Underground.

Acompanhamos presencialmente o final de semana do festival no CCON, que teve seus ingressos esgotados já na quarta-feira (20/09). A justificativa era de que os shows aconteceriam dentro do teatro do CCON, o Palácio da Música, e não na esplanada, como de costume na maioria dos eventos. Esse detalhe – importantíssimo – explicava o porque de terem sido colocados à venda apenas 3 mil ingressos. Mesmo assim, um novo lote limitadíssimo foi aberto na sexta e esgotado em questão de minutos. Com a ciência do espaço reduzido a euforia tomava conta da sexta-feira, mas era de se esperar que o cenário do primeiro dia não fosse o ideal.

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A programação da sexta-feira começou um pouco mais tarde, com o primeiro show marcado pras 20h, já que sexta é um dia útil. O público começava a chegar ao local nas primeiras apresentações da noite, que começaram com as goianas Chell, seguida de Niela. Antes da próxima atração começar, uma surpresa no palco: uma mesa de DJ que retornaria ao longo da noite, com discotecagens de pop nos intervalos dos shows. A curadoria dos DJs era da boate Roxy Goiânia. A Deb and The Mentals (SP) subiu ao palco com algumas falhas no som, que foram amenizadas pelas piadas do bem humorado baixista Bi. A plateia ainda era pouca para conferir a banda que, claramente, não era muito conhecida ali – teve até comparação com a banda Paramore, imediatamente repreendida pelo baixista. Mesmo com um estilo destoante da headliner, que atraiu a grande maioria dos presentes da sexta, a apresentação segurou quem estava assistindo com a performance da vocalista Deborah Babilônia e com o punk de garagem cheio de referências dos anos 90 do álbum Mess, que são tocadas mais rápidas ao vivo. “Não comam carne, amem os animais. Sejam livres! Meninos, usem maquiagem. Meninas, não usem, só se quiser” foi o momento do falante Bi que mais arrancou aplausos da plateia.

Até então esvaziado, o teatro se encheu no momento que o DJ preenchia o intervalo até a próxima atração. Seguindo a programação, Bruna Mendez apresentou o disco O Mesmo Mar Que Nega a Terra Cede à Sua Calma. As melodias e os arranjos bem pensados de suas músicas embalaram alguns dos presentes. Quem conseguiu conquistar a plateia foi o grupo Sapabonde, de Brasília, com suas versões de funk carioca e músicas cheias de referências ao universo LGBT. A energia no palco, as críticas ao atual governo e a forte interação por parte das integrantes fizeram do show delas o primeiro a mostrar a euforia do público da sexta-feira. Teve até ritual de “cura hétero” no palco – em crítica à decisão do juiz que autorizou “cura gay” na última semana.ƒ

Quando a Carne Doce subiu ao palco já era quase à 1h da manhã. Os músicos tiveram que fazer um show reduzido que, pra quem já os assistiu ao vivo antes, sabe que não fez jus às apresentações intensas e memoráveis da banda. A ansiedade pelo show de Pabllo Vittar era quase palpável no Palácio da Música quando o produtor João Lucas subiu ao palco para anunciar o show principal. Rolou uma bronca por parte da equipe da cantora ao produtor quando ele incentivou a plateia a cantar “Todo Dia”, que Pabllo está proibida de cantar por decisão da justiça.

O fenômeno que se tornou Pabllo Vittar pôde ser visto e sentido nos segundos iniciais de apresentação nos primeiros versos de “No Chão”. A euforia da plateia e a performance de Pabllo foram impressionantes de se assistir, chegando a ser assustadores em alguns momentos, quando as grades pareciam que não iriam aguentar as tentativas dos fãs de chegar mais perto do palco.
Com uma energia de dar inveja a qualquer um, a cantora se entregou do início ao fim, chegando perto da plateia diversas vezes e dando a mão para os mais próximos. Em momentos como quando cantou “Man Down” de Rihanna a capella, “Joia” (que tem sample de “Diamonds” da mesma cantora) e “Indestrutível”, Pabllo arrancou lágrimas da plateia. O show teve direito a entrega de cartinhas dos fãs e invasões no palco, que se repetiram outras muitas vezes até o final. O teatro quase veio abaixo com os hits “Sua Cara” e “K.O.”, quando Pabllo dançava na frente do palco. Mais invasões aconteciam da plateia que driblava os seguranças e abraçava a diva, que demonstrou ter toda a simpatia e paciência do mundo. O show acabou com o novo single “Corpo Sensual”, acompanhado aos gritos pelos fãs.

No sábado de Vaca Amarela a diversidade de estilos começou com os representantes do cenário rock da cidade, como a Sixxen, e a Lutre. A Hell Oh!, do Rio de Janeiro, fez um bom show mesmo que para uma plateia reduzida, seguida do DJ escalado para o intervalo antes da próxima atração, dessa vez com discotecagem passando longe do pop e do funk. A Overfuzz fez sua habitual apresentação enérgica, que atraiu algumas pessoas que estavam do lado de fora para dentro do teatro. O baterista Victor até convenceu uma galera que estava sentada nas cadeiras ao fundo a chegarem perto do palco. “A gente não morde”, disse em tom de brincadeira. O interesse da plateia começou a ser mais visível com o show da banda goiana.

Um dos momentos memoráveis da noite foi quando Djonga subiu ao palco. O rapper mineiro foi acompanhado do início ao fim pelos fãs que pulavam e cantavam as músicas do seu álbum Heresia, lançado esse ano. Ele desceu pra frente do palco em “Fantasma”, quando os versos “andam dizendo que o capeta é o pai do rock/ andam dizendo que eu sou o pai do rap” foram
entoados bem próximos à plateia, mas ainda separados pela grade. Djonga, então, foi para o meio do público que ficou eufórico, provando mais uma vez a força do estilo no cenário independente e nos festivais. Ao final, o rapper convidou três MCs locais que fazem freestyle pra rimar no palco.

A presença de palco e a performance de Linn da Quebrada foram bem fortes. Muita gente estava presente especialmente para vê-la, mas a MC conquistou até quem não estava familiarizada com seu trabalho. Em músicas como “Bixa Preta”, os que não estavam cantando junto estavam totalmente envolvidos e atentos. Rolou até uma brincadeira chamando a cidade de “Gayânia”, como já faziam por aqui. Quando revezou o refrão de “A Lenda” com a plateia que respondia “eu tô bonita?/ tá engraçada”, Linn da Quebrada mostrou que tinha o público na mão.

Reiterando o discurso da diversidade, Curumin levou seu último trabalho, o elogiado Boca, para o Vaca Amarela 2017. Ele, que já participou do festival antes e teve outras passagens por Goiânia, mesclou as novas músicas com antigas como “Fever na Magrela”, que foi acompanhada por algumas pessoas. A apresentação conseguiu segurar e envolver a plateia, mesmo que ele e a banda tivessem MC Carol na sequência.

No último show do sábado já se via uma movimentação grande por parte dos seguranças na frente do palco a fim de evitar outros episódios de invasões como na atração principal da noite anterior. MC Carol foi outra diva headliner da programação do festival, que já entrou no palco ovacionada pela plateia. Acompanhada de um DJ que solta as batidas, a MC fez um show curto, mas com todos os hits que o público tinha direito. “Bateu Uma Onda” foi apresentada enquanto ela tomava um toddynho, arrancando risadas dos presentes. “Eu cresci/prazer, Carol bandida/represento as mulheres/100% feminista” foi o momento de cantar em alto e bom tom o porque da força de MC Carol. Com um repeteco de “Bateu Uma Onda”, ela encerrou o segundo dia de festival.

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25/09/2017

Luisa Guimarães