A Banda Mais Bonita da Cidade acaba de voltar de sua mais recente passagem pelo Uruguai, onde participaram do festival Aquel Abrazo.
Muito bem recebidos por nossos vizinhos, Uyara Torrente conta como foi o reencontro do grupo com o público uruguaio. “Eles nos recebem com muito carinho, conhecem as músicas, cantam junto. É engraçado como a internet nos possibilita ter um público mesmo em outro país”.
Carinhosa e empolgada, é assim que costuma ser a plateia uruguaia. A vocalista nunca se esquecerá da reação dos fãs durante sua turnê latino-americana de 2013. “No fim do show de Montevidéu, na ‘euforia fim-do-show-cabe-essa-oração’, o público começou a entoar um hino de estádio a plenos pulmões. Usaram seu próprio código coletivo para demonstrar sua emoção. Para nós foi uma imagem fortíssima, linda… Para guardar pra sempre”.
Prestes a iniciar a produção de seu terceiro disco, o Aquel Abrazo foi também um momento de conhecer outros artistas e se aproximar da música produzida fora do Brasil. “Festival tem uma coisa muito bonita que é a troca que existe entre os artistas, a gente sempre vai embora cheio de novas referências, discos, possibilidades e isso em outro país é potência elevada ao cubo”, conta Uyara, que também comenta de conversas mais “sérias” com outras bandas durante o evento. “É muito legal falar com outros artistas sobre como cada um organiza burocraticamente seus trabalhos, ainda mais se tratando de bandas independentes. Para além da parte musical a gente também aprende muito para a nossa autogestão.”
Por fim, antes de aproveitar suas merecidas férias, Uyara compartilhou com a Noize o pequeno diário que você confere abaixo, ilustrado com as fotos tiradas pelo grupo durante a viagem.
AQUEL ABRAZO, então abrace!
Começamos bastante cedo. Nosso vôo era bem no início da manhã. Se por um lado foi difícil acordar e existir tão cedo, por outro nos fez chegar em Montevidéu no horário do almoço e ter um dia todo pra aproveitar (porque fomos um dia antes do show). E foi o que fizemos. Normalmente nossa logística nas viagens é muito muito apertada, corrida, dormimos pouco, não temos tempo pra turismo ou descanso, então aquilo parecia um prenúncio das nossas tão merecidas férias.
No dia seguinte fomos ao local do show para a “prueba de sonido” e só então pude perceber o tamanho do festival que estávamos participando. Aquel Abrazo (lindo nome pra um festival, não?) tinha mais de mil artistas, muitos palcos, chegar naquele lugar era como chegar num filme, minha cabeça não podia relacionar aquilo tudo a nenhuma experiência já vivida em festivais. Um lugar lindo, na beira da praia (quando olhei do palco pro mar, me lembrei que a menos de um mês atrás eu estava vendo um documentário do Dave Grohl, que tinha uma cena dele tocando com o mar de fundo e eu pensei “que demais!”). Acho o mar uma coisa tão poderosa que parece que fazer o seu trabalho diante dele torna tudo mais potente. E de repente eu estava ali, fazendo o meu trabalho diante do mar, e sim, aquilo tornava tudo mais potente. Agradeci em pensamento algumas vezes.
O lugar era enorme, contornado pela praia, com muitos palcos, artistas pintando quadros ao vivo ao som de djs, estúdio de tatuagem ao ar livre, pequenos e grandes produtores vendendo seus produtos, discos, comidas, artesanatos. Num canto tinha uma roda de capoeira, no outro uma de hip hop. Muita gente e um pôr do sol cor de rosa.
Nosso show começou um tanto tímido. No início da primeira música não tinha muita gente, as pessoas estavam espalhadas pelo festival. Eu estava bastante nervosa, então fechei meus olhos e cantei quase a primeira música toda de olhos fechados. No fim da música, quando abri os olhos, o número de pessoas assistindo o show tinha triplicado e então nós tínhamos um público muito lindo sentado no gramado em frente ao palco e eles cantavam junto e sorriam. O meu nervosismo deu lugar ao prazer. Eu estava muito feliz de estar ali, com aquelas pessoas.
Foi o nosso último show de 2015. Achei muito simbólico terminar o ano ali, naquele clima, naquele lugar.
Montevidéu foi um carinho muito grande, como se de certo modo a vida nos dissesse “parabéns crianças, vocês passaram no teste, o ano foi longo e louco e agora vocês estão sendo recompensados, sorriam”. E nós sorrimos, claro.