Entrevistas: Ariel Fagundes
Quase ninguém estava esperando que 2020 fosse governado por um contexto pandêmico global que limita eventos com um grande fluxo de participantes. Os envolvidos na exibição da exposição Björk Digital junto aos Centros de Cultura Banco do Brasil também não esperavam por isso e se viram no desafio de transportar o lúdico, complexo e múltiplo universo de Björk em algo capaz de sobrepor espaços culturais e se conectar com os seus visitantes em qualquer lugar. A exposição passou pela unidade do CCBB na cidade de Brasília, chegou a passar pelo Rio de Janeiro no começo de março, mas foi interrompida pela pandemia do novo Coronavírus e nem chegou a visitar Belo Horizonte. Mas é ela quem serve de inspiração para um novo projeto de imersão online.
Desse intento, nasceram um catálogo online, um filtro de Instagram e lives imperdíveis. O catálogo online Björk Digital oferece conteúdos exclusivos e bastidores da mostra que podem ser acessados de forma gratuita desde o início do mês aqui. Já Utopia Silicone é o filtro de Instagram inspirado na máscara utilizada pela artista islandesa em seus espetáculos. Criado por James Merry, diretor criativo e braço direito da cantora, o filtro contou ainda com a participação das diretoras de criação brasileiras Andrezza Valentin e Vivi Adade.
A expansão do universo de Björk se dá ainda através das lives #CCBBEMCASA: Imersão, Arte e Música. Nos dias 17 e 18 outubro, das 18h às 22h, o canal oficial da Cinnamon Comunicação na Twitch irá transmitir uma programação de entrevistas, talks e sets. No primeiro dia, Merry participa de uma conversa ao lado do multiartista brasileiro Alma Negrot; em sequência, Jessie Kanda – músico e diretor dos clipes “Mouth Mantra” e “Arisens My Senses” realiza um DJ set que terá como esquenta um talk com a artista Linn da Quebrada. No dia 18, é a vez de Andrew Thomas Huang – diretor de clipes como “Notget” e “Family” bater um papo com o jornalista Zeca Camargo. Na sequência, Santiago Felipe, fotógrafo oficial de Björk, bate um papo com a modelo e diretora Aisha Mbikila. O fechamento fica por conta da performance musical de L’Homme Statue. O público pode interagir nesses momentos e todas as lives serão mediadas por Bárbara Paz e Guilherme Guedes.
Abaixo, confira um papo exclusivo com os diretores criativos da programação online #CCBBEMCASA, Jonathan e Meg Wells.
Como foi o desafio de adaptar a exposição devido ao atual contexto de pandemia?
Começamos negociando a vinda de Bjork Digital ao Brasil em 2016, então você pode imaginar que foi um baque quando as exposições para Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte tiveram que, respectivamente, serem fechadas e canceladas. Nós ouvimos de muitos fãs pelo Brasil que estavam ansiosos e que inclusive já tinham adquirido os ingressos para a exposição, que eles não teriam mais como experienciá-la. É muito difícil descrever a experiência em Realidade Virtual para alguém, [é o tipo de coisa] que você realmente tem que experimentar por si mesmo. Mas Björk Digital sempre foi mais do que apenas Realidade Virtual, foi inovadora porque Björk reuniu seu amigos e colaboradores mais próximos para criar obras de arte imersivas filmadas e geradas em CG para cada faixa do álbum Vulnicura usando tecnologia nascente. Todos eles aprenderam juntos enquanto faziam. Quando nos confrontamos com “como substituir o insubstituível”, parecia melhor nos voltarmos aos mesmos colaboradores da artista e celebrar o elo de Björk, aonde arte, música, imersão e as colaborações criativas mais importantes se amalgamam. O final de semana de 17 e 18 de outubro irá reunir um incrível grupo de artistas internacionais e brasileiros.
Como surgiram os paralelos entre os artistas convidados?
Björk possui um invejável histórico em escolher os artistas, designers e musicistas mais vanguardistas e inovadores do momento como seus parceiros na arte. Tanto os convidados internacionais quanto os brasileiros são criadores com múltiplas habilidades que não podem ser rotulados a uma só coisa. Muitos dos paralelos entre os convidados surgiram naturalmente; por exemplo, o fotógrafo e diretor Santiago Felipe foi um pioneiro na documentação da vida noturna e da cena drag da cidade de Nova York antes de se tornar o fotógrafo oficial de Björk. James Merry, entre muitos outras coisas, é renomado pela sua máscaras feitas à mão, enquanto Alma Negrot tornou-se famosa por transformar a si mesmo através de máscaras deslumbrantes e pela moda.
Na sequência, você também lê um papo com Andrezza Valentin*:
Como foi o processo de desenvolvimento da máscara digital Utopia Silicone?
O processo foi muito colaborativo, fluído e divertido. Desde o começo, quando eu tive a ideia de criar um filtro com as headpieces de James, até convidar Roof e Vivi para trazê-las à vida em Realidade Aumenta, o processo foi cheio de entusiasmo e todos tinham muitas ideias inspiradoras para contribuir. Visto que nós todos estávamos em diferentes lugares do mundo, usamos o paper do Dropbox como nossa tela de brainstorm. Nela, nós compartilhamos as referências iniciais, especificações técnicas, e ideias para o direcionamento artístico. James sugeriu ideias realmente inesperadas sobre como ele imaginou sua máscara ganhando vida em Realidade Aumentada, e todos nós trabalhamos com base nisso.
Que elementos visuais inspiraram o time de criação desse projeto? Que sensações vocês buscaram provocar no público?
O principal elemento visual que inspirou a todos nós foi, claro, as belas e intrigantes máscaras criadas por James para Björk. Eu seguia [seu perfil oficial] no Instagram antes desse projeto surgir e sempre quis poder usar alguma de suas peças. Então, quando Jonathan e Meg me convidaram para colaborar nesse projeto, foi uma reação instintiva para mim sugerir uma versão em Realidade Amentada das peças faciais de James.
Comente, por favor, a importância da Björk enquanto uma artista que busca experimentações digitais e está sempre trabalhando com outros artistas para expandir a sua obra.
Björk sempre foi inovadora do seu próprio jeito, seja em filmes, na música e, agora, no digital. Ela sempre se cercou de criativos talentosos e de ponta ao longo de sua carreira como musicista e performer. Para qualquer profissional das artes visuais, ela é uma prolífica fonte de inspiração. Eu sempre amei o trabalho dela, especialmente sua habilidade de envolver; muda, mas continua sendo algo que é único dela. Sua curiosidade e sua flexibilidade mental em permitir a si mesma explorar diferentes aspectos de sua personalidade e de seu trabalho dá a liberdade para os artistas serem eles mesmos e quererem ultrapassar os limites de sua expressão criativa.
* A entrevista com Andrezza Valentin foi adicionada ao post em atualização da publicação realizada no dia 16 de outubro de 2020, após a publicação original.