No dia 3 de março de 1943, nascia no Rio de Janeiro um dos nossos malditos prediletos: Jards Macalé. Com uma carreira que não só atravessa a história cultural do Brasil, como também a constrói, resolvemos celebrar os 77 anos de vida de um dos artistas mais importantes da música brasileira revisitando cinco fatos de sua trajetória que talvez você ainda não saiba.
1) Apelido
Jards nem sempre foi Macalé. Nascido Jards Anet da Silva, o carioca vivia sem essa alcunha até se mudar do bairro da Tijuca para o de Ipanema. Lá, jogando futebol na praia, recebeu o apelido de “Macalé” em alusão ao um dos jogadores do Botafogo, considerado o pior do time na época. A homenagem “ingrata”, depois de um tempo, tornou-se nome artístico.
2) “Gotham City”
“Gotham City”, composição em parceria com o poeta Capinan, foi defendida por Jards ao lado da banda Os Brazões no IV Festival Internacional da Canção de 1969. Na ocasião, a performance foi bastante vaiada. Até hoje, é uma das canções emblemáticas em seus shows (ouça abaixo).
3) Cinema
O artista não tem intimidade só com a música, mas também com a sétima arte. Ele participa da composição das trilhas sonoras de filmes como Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha, A Rainha Diaba (1974), de Antônio Carlos Fontoura, Se Segura, Malandro! (1978), de Hugo Carvana, além de assinar a trilha para Amuleto de Ogum (1974) e compor para Tenda dos Milagres, longa no qual também atuou, ambos dirigidos por Nelson Pereira dos Santos.
4) Banquete dos Mendigos
Na noite do dia 10 de dezembro do ano de 1973, Jards, junto do artista Xico Chaves, organizou uma das manifestações artísticas mais impensáveis para se realizar em plena Ditadura Militar. Foi no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que aconteceu O Banquete dos Mendigos, show em celebração aos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Com apoio da ONU Brasil, Jards articulou uma programação com uma verdadeira constelação da música brasileira: Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Luiz Melodia, Chico Buarque – que, na ocasião, cantou pela primeira vez a faixa “Jorge Maravilha”-, Dominguinhos, Gal Costa, Raul Seixas, Jorge Mautner, entre outros. Ao longo do espetáculo, Jards entoava alguns dos artigos presentes na Declaração. O acontecimento foi registrado em vinil duplo que tinha a previsão de lançamento para 1974. Porém, antes mesmo de chegar às lojas, foi censurado pelo Governo Militar, sendo liberado apenas em 79.
5) A(s) capa(s) de Contrastes
Na sua prensagem original, o disco Contrastes (1977) veio ao mundo com uma capa que se tornou icônica, mas também polêmica. Na foto, captada pelo fotógrafo Ivan Cardoso, Jards aparece beijando a escritora Ana Maria Miranda, sua companheira de então. O registro fazia sentido enquanto apaixonados porém, uma vez separados, a escritora não quis mais sua imagem atrelada ao álbum, o que o deixou anos fora de catálogo. Em 2003, um relançamento via Dubas decidiu resolver a questão com uma solução estética que dividiu opiniões. Em entrevista concedida ao canal Brasil no ano passado, o designer responsável, Beto Martins, conta que ao ouvir os versos “Mesmo assim fiquei pensando que/ Que a gente podia viajar/ E fazer um álbum de fotografias/ Pra depois queimar, lembrar, queimar” da faixa “Sem Essa”, presente no disco, teve o insight e concebeu a nova capa, na qual a parte em que Ana Maria Miranda está aparece queimada. Em 2015, em novo relançamento, outra capa: agora, o fundo engole o casal e tudo que se vê são só as samambaias.