Não é rock, não é reggae, não é funk – o som do Amplexos não é parecido com fórmulas ou conceitos pré-concebidos. Formado em 2005, o grupo se banha nas águas primordiais de todos esses gêneros, mas seu som busca algo além de todos eles. Os primeiros trabalhos lançados por eles, o Manifesta EP (2008) e o álbum A Música da Alma (2012), soam como o fruto de uma grande suruba musical unindo o A Tábua de Esmeralda (1974), o Catch A Fire (1973) e o Samba Esquema Noise (1994). Mas no recente single Jerusalém (2014) os integrantes do Amplexos mergulharam em si mesmos e emergiram trazendo um som mais forte e maduro do que nunca.
A banda vem desenvolvendo sem medo o elemento experimentalista que sempre esteve presente na sua música. E isso não é obra do acaso, mas sim o resultado de anos de comunhão musical entre os membros do grupo que vivem em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro, e compartilham um ponto de encontro que ao mesmo é em que é um coletivo de artistas é também estúdio:
“A gente se encontra todos os dias para reuniões de planejamento, estratégia, produção, metas. Mas na real, a gente tá junto quase 24 horas por dia. É uma família”, diz o vocalista Guga. “Não é só uma banda, é uma vivencia mesmo. E isso influencia tudo. A gente é produtor, assessor de imprensa, técnico de som…”, comenta Leandro Vilela, guitarrista.
Dentre as tantas atribuições dos músicos do Amplexos está também a de alunos de Oghene Kologbo, guitarrista que gravou mais de trinta discos com Fela Kuti e inclusive foi seu assistente de gravação. A banda conheceu ele em 2011, quando Kologbo veio ao Brasil tocar junto com Tony Allen (baterista do Fela Kuti): “Descobrimos que ele tava a fim de colar com uns músicos jovens, queria conhecer a nova geração pra ensinar o afrobeat. Porque ele acredita que só quem faz o afrobeat genuinamente é ele e mais alguns, e daqui a pouco ele vai morrer, então quer passar a parada adiante. Ele faz isso no mundo inteiro. Conseguimos o contato dele e, em alguns dias, ele tava aqui em Volta Redonda fazendo som com a gente”, conta Leandro.
Kologbo morou três semanas com o Amplexos, fez cerca de dez shows junto com o grupo e ensinou um pouco de sua técnica musical aos cariocas: “Virou um amigo, um professor. Ele passou métodos dele e os métodos que o Fela Kuti ensinou pra ele. A visão política do mundo também mudou, ele deixou claro que estávamos certos em tudo que a gente acreditava e já cantava no início. Ele mostrou como a gente pode ir além. Foi um encontro pra sempre”, diz Leandro.
Porém, o Amplexos não é um grupo de afrobeat, essa é mais uma de suas várias referências sonoras, e Guga lembra como isso chegou a incomodar Kologbo. “Ele tava na criação da parada e quer manter aquela parada original viva. A gente acredita nisso, mas de um jeito diferente: pra nós, manter o afrobeat vivo é absorver aquela vibração e criar outras coisas”. “Demorou um pouco pra ele entender que a gente queria absorver a linguagem do afrobeat e colocar nele coisas novas. Chegou a rolar conflitos mesmo, o Kologbo ficou nervoso com a gente em vários momentos, mas hoje eu tenho certeza absoluta de que ele nos entende e nos respeita muito porque ele percebeu que temos uma personalidade nossa e não queremos imitar o Fela Kuti”, afirma Leandro.
Na verdade, segundo o guitarrista Leandro Vilela, o que o Amplexos quer é “passar uma mensagem de amor através da música”. A banda conta que a criação de sua música acabou abrindo as portas para uma consciência mais nítida da vida através da reflexão crítica sobre si mesmos: “Nos descobrimos como artistas e vimos que a arte comunica muito mais do que imaginávamos, é capaz de libertar o indivíduo da escravidão mental se sentindo timoneiro do próprio barco. Vimos que somos capazes de evoluir através da mudança de comportamento e esse processo mudou nossa visão sobre a alimentação, cuidado físico, família, consumo”, explica o vocalista Guga, que segue:
“Em ‘Jerusalém’ fizemos uma colagem de fatos, notícias de jornal, falácias das redes sociais, conversas. Tem notícia que não é verdadeira, tem estatística falsa… Nada é confiável e as pessoas estão se confundindo nessa quantidade de informação: é ciência, religião, indústria farmacêutica, cosmética, alimentícia… A galera tá se apoiando nisso tudo e esqueceu do essencial – da comunhão. As pessoas subestimam o poder de transformação do amor, que é o amor defendido por Buda, Jesus Cristo, etc. A gente vive num mundo muito cruel em que não dá tempo de pensar nessas coisas. E o inimigo não é o Sistema, o problema é o Homem que criou o Sistema. A gente tem é que mudar o próprio Homem.”.
O próximo passo do Amplexos, que foi divulgado hoje, é fazer uma versão dub do disco A Música da Alma (2012):
Mais Amplexos:
www.amplexos.com
soundcloud.com/amplexos
tvamplexos