Armado com a inspiração dos poetas, Black Alien venceu uma longa batalha contra si mesmo. Onze anos após sair seu único disco solo, Babylon by Gus – vol. I: O Ano do Macaco (2004), finalmente o artista encerra a turnê desse álbum e se prepara para abrir a porta de uma nova fase de sua obra.
O segundo álbum do rapper, Babylon by Gus – vol. II: No Princípio Era o Verbo, será lançado para download gratuito no próximo dia 3 de setembro. Muito aguardado pelo público, o novo álbum é resultado de um longo processo de reestruturação artística, psicológica e emocional pelo qual o músico passou nos últimos anos, que incluiu a passagem por uma clínica de reabilitação. Trocamos uma ideia com o Black Alien sobre esse momento tão importante em sua vida, leia abaixo.
Você imaginou que seu primeiro álbum pudesse render tanto e ser tão marcante quanto foi?
Não, não imaginei não. Sempre trabalhei com a máxima de que a pretensão é a mãe da decepção. Quando escrevo vem direto do coração, simplesmente. Só tenho a agradecer por ter atingido os corações desta forma, e continuar atingindo até hoje.
Seu novo disco trará como convidados Luiz Melodia, Céu, Edi Rock, Kamau e Parteum. Como foi trabalhar com esse pessoal todo?
Foi muito tranquilo e prazeroso, tentei deixá-los a vontade para que soasse o mais natural possível, livres para criar, seja escrevendo um verso, trabalhando um flow ou uma melodia. Aprendi bastante com cada um deles e gostei muito do resultado, além de estar super honrado em tê-los eternizados junto à minha obra.
“Este é o álbum em sua sequência, à priori. Arte da capa em produção agora por @petitpoisstudio. I’m comin’!” #babylonbygusvol2 #noprincipioeraoverbo #SomosOMundo #Jahblesswewarriors #oraievigiai
Posted by Black Alien on Terça, 7 de julho de 2015
Apesar dos convidados, li uma declaração sua dizendo que Babylon by Gus – vol. II: No Princípio Era o Verbo é um disco bem autobiográfico. Qual foi o maior desafio que você enfrentou ao compô-lo?
O maior desafio foi conceber um álbum enquanto me reconfigurava como ser humano. Um é um processo de criação e, o outro, é um processo de recriação, ao mesmo tempo.
Nesse sentido, que papel a música tem na forma como você lida com seus demônios internos?
“Os demônios na escuridão crescem, e na luz desaparecem”. A música que vem do meu coração é o que traz esses demônios à luz, o que os exorciza. A música que me acalma é o jazz, e a música que inspira minhas reflexões são a de pensadores/poetas como Gil Scott-Heron, por exemplo.
Na sua última conversa com a NOIZE, você comentou que tem sido bastante crítico à política atual e ao funk ostentação, por exemplo. Que temas você sente que precisam ser abordados por um artista hoje? O que falta ser dito na música brasileira?
Eu acho que o artísta é livre para falar do que quiser, a arte em si é liberdade! Porém, ao mesmo tempo, é crucial a responsabilidade com o que se diz. A arte, por ter um papel tão importante como informar, esclarecer, entreter e aliviar corações, entre outras benesses, não deve ser desperdiçada. Se tratando da música brasileira, rica em gênios e talentos inigualáveis que passaram por períodos como uma ditadura militar, tudo já foi dito, e brilhantemente. Mas nem tudo chega a todos, infelizmente.
Naquela mesma ocasião, você comentou também que faria um projeto de reggae gravado na Jamaica. Esse projeto está em stand-by por causa do Vol. II ou está andando em paralelo
Está em stand-by e vai continuar em stand-by por um bom tempo. Fazer um disco é uma trabalheira da moléstia! rsrs… O reggae é um universo a parte e um assunto muito sério para mim. É uma vontade que farei o possível para realizar no seu devido tempo. Meu principal foco agora é a minha saúde.
Muitos artistas, quando passam um tempo mais afastados, são deixados de lado pelo seu próprio público. Mas você não. Apesar do disco ser de 2004, me parece que seu público nunca foi tão carinhoso contigo quanto é hoje.O que você pensa sobre isso?
Fico tão emocionado que nem consigo falar sobre, só tenho a agradecer do fundo do meu coração. Me sinto abençoado.