Do gênero à tristeza, Baco Exu do Blues apresenta a nova fase “Bluesman”

23/11/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: João Wainer/Reprodução

23/11/2018

No final de 2015, as lista de “Melhores Discos do Ano” nacionais e internacionais eram praticamente unânimes em colocar o incrível To Pimp a Butterfly (2015), de Kendrick Lamar, na primeira posição. Exaustivamente celebrado e glorificado, foram necessário dois anos para que Kendrick lançasse o sucessor da obra-prima, o também exaltado Damn(2017).

Guardadas suas devidas proporções e realidades, Baco Exu do Blues se veria no mesmo dilema. Que caminhos seguir depois de ser glorificado? Com o pé na porta e apenas 21 anos à época, o rapper baiano apresentava Esú (2017), disco sucesso de crítica dentro e fora da cena do rap, recheado de faixas incríveis, entre elas a maior lovesong que ninguém sabia que precisava- “Te Amo Disgraça”.

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Mas Baco precisou de ainda menos tempo para desapegar-se da era Esú e se jogar no passo seguinte. Hoje, um ano e dois meses e alguns dias desde o disco de estreia, ele lança seu segundo e aguardado álbum: Bluesman, um disco que, à primeira escuta, mostra a experimentação de novos caminhos que podem muito bem levá-lo para a mesma glória experimentada no último ano de carreira. Ouça abaixo:

Algumas horas depois de sua estreia, já deu pra sentir uma atmosfera mais melancólica, introspectiva. As também nove faixas de Bluesman (mesma quantidade presente no Esú) não são tão explosivas e rápidas como o disco anterior, mas estão presentes as mesmas linhas ricas em referências, acidez e dedo na ferida. O resgate e a reinvenção da negritude brasileira, presente nos dilemas contemporâneos da população negra mescladas à ancestralidade, as violências do sistema racista – o genocídio do povo negro, a exotificação, os danos à sanidade mental, a estética branquificada – continuam sendo pautas aprofundadas na arte de Baco.

O diálogo com o “panteão” formado por ídolos negros da arte e da música vêm forte: Baco convoca a genialidade de Basquiat, as guitarras hipnotizantes do blues, o primor de BB King, a loucura de Kanye West e o reinado de Jay-Z.

Se você já chega de olhos compridos e ouvidos ansiosos atrás da nova “Te Amo Disgraça”, melhor voltar pra faixa original no disco Esú ou focar na trinca de faixas que ele soltou no final de agosto. Se antes as taças eram quebradas aos gritos de “a cidade é nossa”, agora Baco espera que você repare no coração partido e ouça Exaltasamba na quebrada gritando “eu me apaixonei pela pessoa errada”, como diz na belíssima e doída “Flamingo”, faixa em parceria com a Tuyo. “Girassóis de Van Gogh”, “BB King” e “Queima Minha Pele” figuram entre as canções que mais representam a fase atual e elucidam as rupturas com o trabalho anterior. “Preto e Prata” chega como um dos momentos mais explosivos do álbum.

Depois de fazer “a rima pra sua geração ver”, Baco chega pra cravar seu nome no “panteão” da música brasileira. Entre versos em crise, amargos e em busca da autoafirmação, o rapper celebra sua raça, sua cultura e as inúmeras formas de reinvenção, resistência e arte criadas pela comunidade negra em diáspora pelas terras das Américas. Em “BB King”, ele passa o recado que sintetiza o novo trabalho: “só eu posso fazer a minha arte, posso me descrever”, “”não sou obrigado a ser o que esperam”. Baco foi coroado, mas talvez o trono não tenha acomodado alguém que tá acostumado a ser divindade e entidade. Baco é bluesman.

E, como se não fosse bastante, ele soltou também um curta-metragem impressionante de 8 minutos com algumas faixas do disco. Assista:

Bluesman (2018)
01. Bluesman
02. Queima Minha Pele – ft. Tim Bernardes
03. Me Desculpa Jay-Z ft 1LUM3
04. Minotauro de Borges
05. Kanye West da Bahia ft. DKVPZ, Bibi Caetano
06. Flamingos – ft Tuyo
07. Girassóis de Van Gogh
08. Preto e Prata
09. BB King

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23/11/2018

Brenda Vidal

Brenda Vidal