BQVNC Entrevista | The Amazing Broken Man

31/08/2010

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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31/08/2010


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The Amazing Broken Man é um projeto bonito, nascido e criado de forma solo. Quem assina é Odorico Leal. Ele tem 27 anos, é músico, estudante e atualmente trabalha num projeto para doutorado em Teoria da Literatura, na USP. Desde março em São Paulo, Odorico é natural de Picos, no Piauí, onde morou até os 13 anos. Mas a atmosfera folk que, como ele mesmo descreve, traz referências de “cidades irreais e visões do campo”, faz com que a sonoridade pareça vir de lugar nenhum. Basicamente construindo sua carreira musical divulgando músicas no Myspace, Odorico foi descoberto primeiro pelo produtor musical Kyle Lynd, do seriado “Skins” (aquele que é quase uma síntese do jovem inglês). Como o protocolo manda, depois disso foi o Brasil. Talvez o mais interessante no The Amazing Broken Man seja o fato de que ele é um projeto secundário. Oficialmente, Odorico compõe com Ciro Figueredo e Gustavo Vidal, na banda que – por enquanto – chama-se October Leaves: “Em dois ou três meses, a banda provavelmente passará a ser o meu único projeto, e o The Amazing Broken Man vai desaparecer”, fala Odorico. E, ah, eles também foram descobertos: acabam de finalizar três músicas para a trilha sonora do novo documentário da cineasta francesa Angelique Bosio, que contará com depoimentos de cineastas como o Gus Van Sant e o Richard Kern.

Confira a entrevista na íntegra:

Apresente-se (instrumento, de onde você é, idade, com quem já tocou, principais trabalhos e sua formação.)

Bem, sou de Picos, Piauí, onde morei até os 13 anos. Depois vivi 10 anos em Fortaleza, depois dois anos em BH e, agora, moro em São Paulo, desde março. Componho, geralmente, ao violão. Não tenho uma formação musical tradicional, embora desejasse muito tê-la – tornaria todo o processo de composição menos misterioso, menos aleatório, menos inconsistente. Minha formação é em Letras, se é que se pode chamar de formação, se você considera o baixo nível das faculdades no Brasil.

Mudar de Fortaleza para São Paulo parece uma transição grande. A cidade participa das suas composições? Por que a mudança?

Desde que cheguei em São Paulo, tenho composto compulsivamente. É algo que aconteceu também quando mudei para BH, nos primeiros seis meses. O que há de comum nas duas situações é que, em ambos os lugares, eu praticamente não conhecia ninguém. Os outros estão longe de ser o inferno, mas o fato é que uma vida cotidiana normal, com uma rotina que envolve estar muito tempo fora de casa e cercado por pessoas, naturalmente lhe afasta um pouco das disposições mais intensas do seu temperamento. Mas, como essas disposições são as mais intensas – uma questão de necessidade -, tão logo você se recolhe mais em si mesmo, você é tragado para dentro delas e passa a viver dentro do estado mental em que elas lhe colocam. É isso que tem acontecido aqui em São Paulo. Mas aqui a situação é um pouco diferente, porque vim com meus amigos de banda. Temporariamente, a banda se chama October Leaves. Dividimos apartamento aqui e estamos gravando nosso primeiro disco, “Postmodern Bullshit”.

O lance de “ser descoberto pelo myspace” é uma pauta jornalística conhecida. Alguma vez te incomodou uma certa procura estereotipada?

Não, porque é melhor que aja alguma procura, mesmo estereotipada, do que procura nenhuma. Além disso, ainda não tenho nenhum trabalho sólido, com a banda ou sozinho, que se possa julgar com cuidado. Há apenas um punhado de músicas, de diversas épocas diferentes da minha vida, que sequer funcionariam em um mesmo disco. É algo bastante fragmentado. Mas, uma vez que o disco da October Leaves estiver gravado e solto à luz do dia, espero que as pessoas escutem. Se escutarem direito, e se for realmente bom, como eu acredito que é, qualquer estereótipo vai ser destruído pelas músicas.

Com a October Leaves você faz algo diferente, não? O que muda no processo de criação?

Muda bastante. Somos três pessoas: Ciro Figueredo, que é nosso baterista, baixista, engenheiro de som; Gustavo Vidal, que é guitarrista, pianista e compositor; e eu, que componho também e, supostamente, toco guitarra. Pessoalmente, eu sou bastante desleixado. Se eu não tivesse esses amigos, provavelmente eu gravaria minhas músicas apenas ao violão, do jeito mais apressado possível e pronto. Mas o Vidal é um perfeccionista, de modo que, na October Leaves, há uma preocupação maior com os arranjos. Como banda, acho que levamos qualquer coisa que um de nós fez sozinho para outro nível de qualidade. O que, porém, atrasa tudo, já que, ao mesmo tempo, estamos envolvidos com as burocracias da vida cotidiana. Para ter uma idéia do que estou falando em relação à qualidade, basta ouvir “Rainbow Street”, na versão solo, que está no myspace do The Amazing Broken Man, e a versão com a banda, que está no myspace da October Leaves. Essa versão com a banda, por hora, é só instrumental, mas vai estar no disco com a parte do canto e da letra. Ainda mudaremos a dinâmica dela, mas, só nesse esboço, já dá para ter uma idéia do que pode acontecer com uma música quando trabalhamos nela juntos.

A October Leaves está fazendo uma trilha sonora, não? Dá pra falar mais sobre filme e projeto?

Já terminamos. É uma trilha-sonora para um documentário da cineasta francesa Angelique Bosio. Ela tem um documentário sobre a cena alternativa em Nova York, nos anos 80, chamado Kill your Idols, com entrevistas com Sonic Youth e outros artistas. Esse novo documentário dela é sobre Bruce Labruce, um polêmico diretor canadense – no documentário, cineastas como o Gus Van Sant e o Richard Kern falam sobre a obra dele. Mas não foi uma trilha tradicional, porque não compomos para as cenas do filme em si. Nós apenas gravamos três músicas nossas em um formato instrumental e enviamos para a diretora, que resolveu onde pôr as músicas. Foi divertido e instrutivo, porque nos serviu principalmente para praticarmos o processo de gravação.  Esperamos ter outra chance de fazer uma trilha, especialmente uma trilha tradicional, quer dizer, focada para as imagens e os movimentos mesmo, seja para teatro, dança ou cinema.

Quanto à banda: a October Leaves é meu projeto oficial. Na verdade, depois de lançarmos o “Postmodern Bullshit”, que deve estar pronto em dois ou três meses, a banda provavelmente passará a ser o meu único projeto, e o The Amazing Broken Man vai desaparecer.  Antes, vamos mudar de nome – porque já existe uma banda chamada October Leaves (que é muito ruinzinha por sinal). Pensamos em Ghost in the Shell, mas também já existe uma banda com esse nome (também muito ruinzinha por sinal).

Escute “Rainbow Street”:

October Leaves – Rainbow street revisited

Como você descreveria o som do The Amazing Broken Man para uma pessoa surda?

Difícil essa. Talvez as pessoas surdas tenham mais sensibilidade para perceber as sutilezas do silêncio. Imagino que há espécies de silêncio que nós, que ouvimos os barulhos do mundo, não diferenciamos, não descriminamos. Surdos devem ser virtuoses do silêncio. Não sei como descreveria nosso som para uma pessoa surda, mas eu definitivamente gostaria que ela me descrevesse que tipo de silêncio, que tipo de vibração silenciosa, é a nossa música.

Você acabou recentemente seu projeto de mestrado. Pode falar sobre o tema?

Defendi a dissertação em março, lá em BH, na UFMG. Era basicamente sobre impessoalidade na poesia moderna, a partir da poesia de T. S. Eliot e de Fernando Pessoa, embora eu escreva muito sobre o Baudelaire, o Wordsworth, o Keats e outros. Em resumo, é como se eu estivesse estudando por que a poesia moderna precisou se aproximar mais do enigma, rejeitando a estratégia discursiva do eu confessional, como um modo de nos tragar mais para dentro da experiência poética, sem a figura de um ‘eu’ que nos sirva de ponto de referência.

Música e estudos acadêmicos: você pretende seguir com os dois? Atualmente, qual está em primeiro plano?

Atualmente, a música. Mas vou continuar estudando, sim. Tudo se relaciona de algum modo – um campo da sua vida influencia o outro.

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31/08/2010

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