O que não faz uma viagem. Marcelo B. Conter (o mesmo que entrevistou Lee Ranaldo para NOIZE) fez um doutorado em Nova Iorque pesquisando o lo-fi na música pop e, lá, começou a criar o material que se tornaria o som do The Gentrificators. Essa banda de um homem só está lançando hoje seu disco de estreia, State: Province, um manifesto de riffs e ruídos que o artista explica abaixo.
– Eu estudava em Manhattan, mas morava no Brooklyn e conheci o termo “gentrificação” lá. O Brooklyn está sendo repovoado por pessoas “bem nascidas”, enquanto a especulação imobiliária manda as pessoas que moravam em Wiliamsburg [bairro afastado de lá] pra mais longe ainda – afirma Conter.
Vendo isso, o músico não conseguiu deixar de notar semelhanças com o acontece em Porto Alegre – até porque hoje ele vive em Canoas, na região metropolitana da capital gaúcha. “Voltei e me vi numa situação parecida. Há um processo de gentrificação acontecendo na nossa metrópole, não necessariamente imobiliária, mas também cultural e política”, garante.
“Gentrificação” é a tradução da palavra inglesa “gentrification”, que se refere ao que ocorre quando uma região tem sua dinâmica social alterada por uma súbita valorização econômica do espaço. Por exemplo: quando a inauguração de um shopping de luxo faz aumentar o valor do metro quadrado de um bairro, subindo o preço dos alugueis e forçando as pessoas que já moravam ali a se mudarem para locais mais baratos (geralmente mais afastados dos centros).
– Comecei a gravar e pensei que essa temática era importante, ninguém estava refletindo sobre isso com as ferramentas teóricas adequadas. Reclamamos do encarecimento da Cidade Baixa [bairro boêmio de Porto Alegre que está sendo elitizado nos últimos anos], mas somos todos tarados por cerveja artesanal, bares temáticos de cineastas, comida gourmet. O que eu gostaria é de uma cidade onde as pessoas ocupassem os espaços públicos e o transporte público fosse eficiente e 24h. Também tem que ter cerveja artesanal, comida gourmet e bares temáticos. Mas não só de cineastas, também de artistas outsiders. Imagina só um lugar chamado “Café Tony da Gatorra”? – diz Conter.
Gravado inteiramente sozinho na casa de Marcelo B. Conter, segundo ele, State: Province (2015) “é uma reflexão da vida boêmia/roqueira pós Junho de 2013”. “Baixou a poeira das manifestações, ok, e agora? Como é viver em Canoas em 2015? Como é esperar o trem das 5h30 para voltar pra casa?”, pergunta.
O álbum está sendo lançado hoje nas plataformas de streaming e seu lançamento oficial será na Parada Gráfica, em Porto Alegre, mas sua pré-venda já está disponível no site do Lezma Records.
Ouça abaixo: