É bonito de ver quando um artista gringo vem pro Brasil por crowdfunding. Mais que a oportunidade de ver o show daquela banda que você sempre quis, o povo que está lá também está compartilhando esse sentimento, e isso faz com que a coisa fique ainda mais bonita. Foi o caso do show do The Cat Empire, no Circo Voador, na última sexta-feira, organizado pelo Queremos.com.
Eu e minha namorada chegamos ao Rio de Janeiro, às 4h20, meio cabisbaixos porque não ia rolar entrevistar a banda.
Mesmo assim, a gente estava indo pra curtir aquele show que você se pega pensando, às vezes, “caralho, o dia que essa banda fizer um show no Brasil vai ser muito foda…”. Pois então, estávamos a apenas algumas horas disso.
Chegamos na Lapa, meio perdidos e resolvemos dar uma caminhada. Gente de todo tipo, patricinha com caipirinha na mão, pessoal do sertanejo tomando uma cerveja e até mendigo pedindo uns trocados pro Felix Riebl.
Espera… Felix Riebl? O cara é um dos vocalistas da banda, e está ali, com um outro gringo tirando umas fotos, escondido, avulso e precisando de ajuda. Os olhos brilharam.
– No portuguese, no portuguese – ele dizia.
Chegamos perto, e o os olhos do cidadão que pedia uma esmola também brilharam:
– Vocês falam português, né? FINALMENTE alguém que fale português!
Lá vem…
– Queria pedir uma ajuda, tô a dois dias na rua, preciso comprar leite pras cri…
– FOI MAL! Desculpa velho, mas agora não vai dar, preciso conversar com ele aqui!
Não sei se cheguei a ser grosseiro com ele, mas já ajudei muita gente nessa vida. Perdão.
Felix estava a dois dias no Rio, curtindo as cachoeiras, as praias, a cidade, a vibe. Pela primeira vez no Brasil, e como a maioria dos gringos que vêm pra cá, estava impressionado com a maravilha do lugar e das pessoas. Interessadíssimo na Bahia, Salvador. Mal conheceu o Rio e já queria subir pro Norte, isso pode ser uma segunda vinda da banda pra cá. Comer um acarajé, quem sabe?
Perguntei o que ele fazia ali, e ele me comentou que tem o costume de ficar fora do camarim, pelas ruas de onde vai realizar os shows. Assim, sente a vibe do lugar e das pessoas e consegue transmitir isso no show. Achei preza.
– Essa cidade tem muita cor. Isso é muito inspirador. Às vezes, parece que escuto sons saindo das paredes e árvores. Espero que consiga transmitir isso hoje no show – disse.
E conseguiu.
O Circo Voador não estava lotado. O número de pessoas era perfeito pra poder pular, dançar e até poguear. Nítido ver, no rosto das pessoas, a realização de estar curtindo aquele momento com uma banda que parecia tão distante, e estava ali, no palco. Cada um daqueles sorrisos foi responsável por trazer o show pro Brasil, e a eles, eu digo:
– Obrigado, galera!
Complicado explicar tudo isso em palavras, então filmei.
Obrigado, The Cat Empire, por um dos melhores shows a que já fui. Vocês são foda.
(Fotos: Rodrigo Esper/I Hate Flash)