Os discos de vinil foram, durante um bom tempo e ao redor do mundo inteiro, o meio mais popular pelo qual circulavam gravações de música. Com o surgimento do CD e, posteriormente, dos arquivos digitais, os LPs perderam popularidade comercial e, em dado momento, por volta dos anos 1990, praticamente deixaram de ser produzidos. Hoje, em um período em que a circulação e a produção das bolachas voltou com muita força, já não se vislumbra, às nossas queridas companheiras, o primeiro lugar no pódio das mídias mais utilizadas para ouvir música, reservado ao streaming. Os discos se tornaram objetos de apreciação para pessoas que buscam o diferencial do som analógico e toda a experiência de construir uma coleção que pode protagonizar momentos marcantes e ser levada pela vida inteira (veja 8 motivos para começar sua coleção).
Por não ser um objeto corriqueiro, muitos de nós não fazemos sequer a mais remota ideia de como um vinil é feito. Mesmo quem já coleciona, muitas vezes não conhece o processo de fabricação que dá luz aos seus álbuns preferidos. Para poder pousar na sua vitrola e reproduzir um som especial, um disco passa por diversas etapas, que serão descritas, em linhas gerais, logo abaixo.
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Matrizes de Acetato e Remasterização
O início de tudo é a produção da primeira matriz, um disco de alumínio revestido por acetato de celulose, no qual é feito o registro das músicas que serão reproduzidas em todas as cópias de uma prensagem de LPs.
A masterização do áudio original (hoje em dia, normalmente, em formato digital) precisa ser adaptada para a mídia do vinil, seja durante o processo de finalização de um novo álbum (em que são produzidas masters diferentes para o formato digital e o do vinil) ou mesmo remasterizando um disco antigo. Esta etapa é necessária porque cada frequência da música exige um espaço físico na superfície dos LPs, ao contrário do que acontece no formato digital. Os graves, por exemplo, requerem ranhuras fundas e largas nos sulcos. Por isso, é preciso preparar uma master específica para aproveitar o que há de melhor nos discos de vinil.
Então, na fábrica de LPs, o arquivo do som é analisado pelo operador de acetato, que verifica se todos os pré-requisitos para o registro de um áudio de qualidade foram atendidos. Após a checagem, o disco de alumínio com acetato é colocado em um aparelho chamado torno de gravação fonográfica, para o momento de corte da matriz. O torno é um equipamento no qual o disco se mantém girando no centro, entrando em contato com uma agulha de diamante. Neste contato com a agulha, a informação da master, a partir da vibração da agulha, é traduzida na forma dos sulcos que vão sendo gravados (literalmente, riscados, fazendo um “corte”) no disco de acetato. Em uma próxima etapa, um microscópio é utilizado para verificar se os sulcos estão preservados. Após este processo, a música está registrada de forma física.
Originais e Madres
Após o corte no torno e a análise com microscópio, caso tudo esteja como desejado, o disco de acetato é enviado para a sala de galvanoplastia, onde passa por várias etapas. É coberto com cloreto de estanho, substância que gera aderência de outros metais, possibilitando, então, a aplicação de uma capa muito fina de prata. O disco, já revestido de prata, é submerso em níquel com aplicação de correntes elétricas, ficando completamente revestido.
Esta capa de prata e níquel é separada, e se torna uma cópia positiva da matriz de acetato, portando todas as informações que foram impressas nos sulcos anteriormente. Isso quer dizer que a música, impressa primeiramente na forma de sulcos na matriz de acetato, é traduzida em forma de alto-relevo. Este novo objeto de prata e níquel é o molde que posteriormente será levado à prensa e é chamado de “original”. Dele, se faz uma cópia negativa, que é chamada de “madre”, a qual é testada para que então o molde possa ser aplicado em série. Este processo é feito separadamente para o lado A e o lado B do disco, gerando moldes distintos.
Prensagem
Depois de tantas etapas, finalmente chegamos no momento tão esperado: a prensagem dos discos de vinil, produtos finais de todo esse processo.
Os moldes são encaixados em uma prensa hidráulica e junto é colocada uma pequena porção de PVC (material plástico chamado de vinil). A prensa aperta o molde de metal sobre a bolota de vinil com força e temperatura extremamente elevadas. O vinil se transforma em um disco, no qual o alto-relevo do molde é impresso enquanto sulcos. Nesses sulcos, está toda a informação de música que depois será captada pela agulha de algum toca-discos. O disco de vinil é retirado da prensa e levado à uma máquina, para que seja realizado seu acabamento. Ainda é necessário que o material descanse por aproximadamente um dia, para que todas as moléculas se acomodem.
Esse processo é repetido diversas vezes, até que sejam feitas todas as cópias encomendadas em uma prensagem. Alguns LPs fabricados são coletados por amostragem, para que sejam submetidos ao controle de qualidade, onde são escutados, para que se certifique a qualidade do produto final.
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Como acabamos de ver, a fabricação de um disco de vinil é extremamente complexa. Por ser um processo ainda tão artesanal, tudo requer muito cuidado e perícia. A produção de LPs em larga escala exige tempo para que a música gire nos toca-discos com o gostinho que é único do áudio analógico. Após produzidos, os discos são colocados em suas capas, com projetos gráficos únicos, e vão parar em coleções nos mais diversos lugares. Assim, os LPs oferecem uma experiência especial para quem ama música.
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