Com uma trajetória de 20 anos, passando pelas rodas freestyle do RJ e chegando a milhões de plays nos streamings, Ramonzin acabou de lançar o seu segundo disco, Arteiro. Produzido por Rafael Tudesco, o álbum chega trazendo um time de convidados de peso: Luedji Luna, MV Bill, Djonga, BK’, L7NNON e Malía.
Retratando diversas cenas e sonoridades do Rio de Janeiro de hoje, Arteiro é como se fosse uma fotografia instantânea clicada pelo rapper. Ao longo das onze faixas do disco, Ramonzin abre espaço para celebrar tanto o bairro carioca de Madureira quanto o seu ambiente doméstico, trazendo áudios de seu pai. Há momentos de revolta e crítica assim como brechas para explorar a euforia e a sexualidade do Carnaval.
Unindo o rap ao funk, passando pelo trap e pela guitarra baiana, Arteiro é um disco que merece seu play. Ouça abaixo e confira o faixa a faixa feito pelo próprio Ramonzin.
Arteiro – Faixa a Faixa
por Ramonzin
“Fé na luta”
“A primeira faixa do disco é muito motivadora, traz muita energia, muita luz, é muito ‘do bem’, pra colocar todo mundo pra cima. Quando eu fiz esse beat com o Rafa, a gente estava querendo mesmo trazer um pouco dessa alegria e energia. Fé na luta fala sobre a vida simples, otimismo, cotidiano, mas de uma maneira alegre. É um rap em 150BPM cheio de melodias e um beat muito bom. Ela é mesmo muito inspiradora e tem todos os elementos de uma primeira faixa de um disco”.
“Made in Madureira”
“É uma música muito especial pela qual eu tenho muito carinho. Eu a trouxe do meu EP ‘Made in Madureira’ porque eu acho que completa bem o disco. Ela segue a mesma linha de ‘Fé na luta’, na qual eu misturo muito o funk com o rap de uma forma bem diferente. Eu tinha essa intenção de dar uma dinamicidade mais no rap com o trap e uma parte essencial da minha vida, que é o funk. A letra fala sobre questões raciais, de classe. É uma letra muito potente com uma batida que tá bem coligada. Essa música mostrou ao público a minha nova fase”.
“Carnaval Eterno”
“Essa é meu feat com a Malía e ficou incrível! Sou muito fã do trabalho dela. E o carnaval é uma coisa que a gente tem em comum na nossa vida. Eu quis fazer uma letra que falasse desse universo, na questão de corpos, da sexualidade livre, da liberdade. A música vai além de romantizar o carnaval ou o amor. Ela fala sobre essa liberdade entre as pessoas e o carnaval proporciona isso. O carnaval de rua é muito democrático e o trap com a voz da Malía ficou sensacional. A faixa é sobre o entendimento de novas formas de se amar, de se viver e traz esse sentimento do carnaval, que é muito forte”.
“Gueto Feroz”
“Essa música traz a participação do Djonga, outra pessoa incrível de quem eu sou fã. A gente teve uma sintonia muito espontânea, porque o próprio tema da faixa é muito forte. Eu a trabalhei em cima do rap com o funk, que estão extremamente ligados às periferias e favelas. ‘Gueto feroz’ fala sobre essa ferramenta do rap e do funk como ato de contestação social e de retomada de posse do poder que era do estado para o povo. É o povo entendendo sua função na sociedade, enquanto música, manifestação artística e tomando de volta esse poder de contestação pelo rap e pelo funk, como arma de guerra. É a tradução desse sentimento de revolta e de imposição do coletivo no sistema”.
“Vivência”
“Essa é uma das faixas que mais me retrata em minha forma mais essencial. O BK´ traduziu e adaptou muito bem a nossa mensagem. Nada mais é do que a gente falando sobre o cotidiano, família e vida mesmo. O BK´ faz essa ligação com o rap de forma brilhante e eu falei muito sobre minha vida e sobre meu cotidiano, com áudios do meu pai. É uma obra que eu considero eterna, um rap com muito sentimento, com uma batida forte, para eternizar”.
“Ideias Ideais”
“É o som que eu fiz com Luedji Luna. A primeira vez que eu fiz essa batida com Paulo Ney, eu já sabia que era a música com a levada mais MPB do disco. E eu já entendi que tinha que ser a voz da Luedji para encaixar perfeitamente. A música fala de amor, de uma forma bem simples e genuína. Fazer essa construção foi muito interessante, sempre fui fã da Luedji, ela tava isolada no meio da pandemia, com cada um de um lado e com pouco recurso, mas o tratamento deixou o som muito bonito. Eu tenho muito carinho por essa faixa. Primeiro porque tem a Luedji e não é todo dia que a gente tem uma oportunidade como essa. E segundo porque mostra um outro lado, uma outra característica minha de flertar com outros ritmos. Fiquei muito feliz com o resultado”.
“Caô”
“Essa faixa eu também trouxe do EP. Ela é bem diferente da linha do rap tradicional que eu costumo apresentar. Fiz um samba bem característico com uma levada de rap bem sambeada. Tem uma melodia bem simples, que se encaixa bem com o beat, mas o que fala mais alto é o samba, que sempre está presente na minha vida. ‘Caô’ fala de política, das coisas mais ligadas ao Rio, dos problemas do cotidiano da metrópole, política de sociedade, das pessoas, do comum, com uma atmosfera bem carioca. Ela tem muito som de cuíca, jogo de futebol ao fundo, é bem brasileira e se manifesta de maneira muito individual no disco”.
“Da nossa maneira”
“Acho que esta é a mais diferente do disco todo. Ela chega com particularidades de outros pontos, de outras partes do Brasil, com uma guitarrada típica baiana, sons de agogôs, em uma estética mais regional. Eu sou muito nacionalista nesse sentido, muito brasileiro, eu gosto muito de explorar os ritmos brasileiros. É uma faixa que diz muito pra mim, ela é bem sincopada, uma coisa mais tropicália, com um discurso com contexto social contestatório em uma levada bem alegre, acompanhada da guitarrada baiana e eu gosto muito dela”.
“RL”
“Essa faixa traduz muito o meu universo do rap, boom bap, com batidas mais fortes. Eu chamei o parceiro L7NNON, por isso o nome, R de Ramonzin e L de L7NNON. Ele é um garoto que escreve muito bem, a vibe dele é muito boa e combina muito com a energia do rap que eu imprimo dentro das batidas. Essa é a única do faixa do disco que tem assinatura do meu parceiro Suntiziu, que fez o beat. Ele conseguiu colocar muito bem a cara dele e a nossa cara. Essa música fala do nosso cotidiano, da vizinhança, dos coroas na rua, do jornal, galera da rua, o bar, a sinuca. Ela fala sobre um dia simples da rotina de qualquer periferia do Rio. Eu gosto muito dela porque traz muita energia”.
“Bicho Solto”
“Essa é a faixa que tem o boom bap clássico, que é a essência do meu trabalho. Eu já estava trabalhando nesse som, aí juntei com o Rafael e ele completou o beat de maneira perfeita. A letra fala sobre rap, vivência, papo de rua, o tipo de rap que eu fico mais à vontade de fazer. ‘Bicho solto’ traz a minha essência, dos meus 20 anos de carreira. É rap na sua essencial presença, é o que foi a nossa vida até o rap ganhar outros patamares. A faixa ainda conta com uma fala do meu parceiro MV Bill, que me mandou um áudio pelo WhatsApp, que fiz questão de colocar na música, porque tenho o maior respeito pela sua voz”.