“É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”: produtor fala sobre a faixa de “Ainda Estou Aqui”

06/01/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/ Arquivo Nacional

06/01/2025

Com a repercussão em torno do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles — que acaba de render um Globo de Ouro a Fernanda Torres — os ouvidos se voltaram também para a faixa “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos. Com letra de Roberto e música de Erasmo, a canção foi lançada no sétimo álbum do cantor, Carlos, Erasmo (1971). O período marca sua transição da Jovem Guarda para uma fase mais roqueira e amadurecida.

Após a estreia do filme, “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” figurou na lista viral do Spotify e alavancou streamings para Erasmo, sobretudo de uma nova geração.

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Conversamos com Manoel Barenbein, produtor desta e de outras faixas presentes em Ainda Estou Aqui, como “Baby”, dos Mutantes, e “Falsa Baiana”, de Gal Costa. Para além de Carlos, Erasmo, Manoel assina a produção de outros álbuns fundamentais da MPB, como o Tropicália ou Panis et Circencis (1968), Jorge Ben (1969), e Chico Buarque de Hollanda (1966). Ele também fez carreira em emissoras como o SBT, por onde lançou a emblemática coletânea Sertanejo 86, prevendo a iminência do sucesso do gênero em âmbito nacional.

Nesta entrevista feita por ligação — Manoel hoje mora em Israel — o produtor rememora curiosidades sobre a produção de Carlos, Erasmo, considerado por ele (e por muitos) o mais importante álbum do Tremendão.

Livro sobre o produtor Manoel Barenbein apresenta os bastidores da tropicália

Manoel Barenbein na plateia do show Rosa dos Ventos, de Maria Bethânia, em 1971, junto a Caetano, Gal, Wilma Dias, Waly Salomão, Jorge Salomão e Rogério Duprat.

Manoel, muito obrigada pela disponibilidade, é uma honra conversar com você! Primeiro, gostaríamos de saber como começa sua história com o Erasmo.

Eu que te agradeço! Bom, o Erasmo morava no Rio de Janeiro, então, ele gravava por lá. Mas volta e meia ele ia para São Paulo fazer o [programa da TV Record] Jovem Guarda. Então, a gente acabou combinando de gravar juntos. E aí, tive de fazer toda uma estratégia. Porque a base do trabalho do Erasmo era com a banda The Fevers, e ele estava dando início a um novo momento de sua carreira, era uma nova fase.

Por exemplo, para o Carlos, Erasmo, chamamos músicos como Lanny Gordin [que grava a guitarra de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”] e Marisa Fossa [que canta em “Masculino, Feminino”]. A gente se envolveu muito nessa época, viramos amigos mesmo. O Erasmo se mudou para São Paulo, em casarão no bairro do Brooklin. Ele e o Jorge Ben.

Que turma boa!

É, tem coisas muito legais pelas quais passamos juntos! Toda sexta à noite a gente acabava indo para uma casa noturna, ou comer feijoada… adorava a Narinha também [esposa de Erasmo], era uma pessoa maravilhosa.

E o Erasmo era um roqueiro nato, nós éramos fãs de Beatles… isso nos conectou e influenciou também no nosso trabalho, até na pegada roqueira de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”.

Você conta uma história ótima, de que o Erasmo queria colocar o som do Pica Pau em uma música (risos). Como era o Erasmo no estúdio? Ele costumava levar outras ideias para vocês trabalharem juntos?

Sim! Era ele quem levava essas ideias para o estúdio. Ele já era meio produtor, entendeu? Porque ele bolava o que queria fazer. Chegava com muita coisa pronta. Claro, eu dava palpite, mas ele também trazia as músicas mais arredondadas, às vezes na parceria entre ele e Roberto. Nesses casos, fica até difícil saber quem fazia o quê.

A gente pensava juntos também nos músicos que participariam. Era um bom trabalho em equipe. A última faixa deste disco do Erasmo, “Maria Joana” [que teria sido inspirado na maconha], tem participação dos músicos caribenhos da Caribe Steel Band, porque ele comentou que queria gravar com tambores caribenhos. Aproveitamos que os músicos estavam no Brasil para fazer o convite. Eles toparam, e trouxeram aqueles tambores enormes para estúdio! Isso foi importantíssimo para o disco.

“O Erasmo era um roqueiro nato”

E sobre “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”? O que você está achando dessa repercussão em torno da faixa pelo lançamento de “Ainda Estou Aqui”?

Eu ainda não consegui assistir ao filme porque não estou no Brasil, mas essa música é muito forte. Músicas como essas não morrem. São 53 anos, minha querida! Não é fácil [risos], é tempo e tanto!

Se você voltasse 10 anos atrás naquela época, essas músicas não entrariam em um disco do Erasmo. O texto dessa canção não tem nada a ver com aquele som da Jovem Guarda, por exemplo.

E essa música posteriormente foi interpretada como uma crítica à Ditadura Militar e ao inconformismo social. Apesar disso, ela foi liberada pela censura…

Todas essas músicas que estão no disco precisavam passar antes pela censura, era uma exigência da gravadora. Claro, teve alguns casos, como em “Apesar de Você”, do Chico Buarque… A gente achava que não ia passar, e passou… depois que os militares foram descobrir que a letra era em relação ao presidente [risos].

Abaixo, a liberação da faixa pela censura:

Este é um dos discos mais celebrados da carreira do Erasmo, e ganhou a devida importância com o passar dos anos,né. Como foi para você produzi-lo?

O álbum levou esse nome, Carlos Erasmo, imagino que por ser um novo artista que se apresentava, diferente daquele que o público conhecia na Jovem Guarda.

O Erasmo, assim como o Jorge Ben, era uma pessoa criativa demais. Você tem que dar acesso para essas pessoas, dar um chão para que elas caminhem, dar liberdade.

Meu princípio, como produtor, era fazer aquilo que você gosta e acredita. Essa é a base. E acredito mesmo que este foi o álbum mais importante da carreira do Erasmo.

Manoel Barenbein (Divulgação)

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06/01/2025

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Damy Coelho