#NoizeMorrostock | Psicodelia, deboche e (dois) discos novos em 30 minutos com Boogarins

07/12/2016

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Ariel Fagundes

07/12/2016

Por Leonardo Baldessarelli e Ariel Fagundes

Nos primeiros momentos da tarde de domingo, o Boogarins subiu ao Palco Pachamama do Morrostock para fazer aquele ritual meio chato, mas indispensável para todo show: a passagem de som. Como o quarteto revelou poucos minutos depois, na entrevista que fizemos dentro do camarim, eles estavam se preparando para a primeira apresentação em um festival com o clima do Morro, a céu aberto, meio hippie e com estrutura no meio do campo – e a banda concordou que tudo aquilo era incrível e muito simbólico para o som nacional, apontando para um crescimento perceptível em todos os meios independentes.

*

Foi mais ou menos por aí que começou nossa conversa com Dinho Almeida, Benke Ferraz, Ynaiã Benthroldo e Raphael Vaz Costa, os quatro músicos que formam o Boogarins. Daí em diante, pudemos nos aprofundar em assuntos como a indústria musical do país, a “cena” e os modos de estourar dentro dela, a evolução do show da banda e, por fim, um disco ao vivo planejado para o ano que vem (e que ainda não foi divulgado oficialmente) e o terceiro álbum de estúdio, que tem como grandes referências de Kanye West e Drake (!!!), nas palavras do próprio Benke. Pra sacar o bate-papo de meia hora que tivemos, é só ler a entrevista completa aqui embaixo.

O Morrostock completa 10 anos tendo crescido muito ao mesmo tempo em que outros festivais também estão crescendo, outros estão surgindo, e isso vem junto com o crescimento da cena independente brasileira. Vocês, sendo um nome grande dessa cena, como se sentem aqui no Morrostock hoje e como veem esse contexto geral da cena?
Dinho Almeida: A gente é uma banda grande dentro desse cena em crescimento, né… A gente acha massa um festival abertão, essa coisa de a galera ficar acampada, tem o Psicodália que é nessa vibe também, mas a gente nunca tocou lá.
Benke Ferraz: É a primeira vez que a gente toca em um festival com esse clima, por mais que a gente tenha rodado bastante por vários festivais do Brasil. É muito massa essa coisa de chegar aqui na passagem de som e ver a galera acordando com a passagem… É um tipo de festival que eu acho que custa muito mais pra você fazer. Além da estrutura, você tem que ter outro tipo de cuidado porque as pessoas não vão embora e voltam depois, a manutenção do lugar é 24h. É massa! Acho que não é só tanto pelo crescimento da cena independente, acho que a cena independente cresceu, mas também os produtores e os artistas foram se profissionalizando e conseguindo entrar de verdade em briga por editais, criar pautas pra levar dinheiro público e também levantar o interesse das marcas pra entrar nos festivais. Então é realmente um crescimento pra conseguir estruturar um mercado que ainda não existe de fato nem pros produtores nem pras bandas. Pro produtor de festival aqui no Brasil ainda é muito difícil conseguir fazer um festival de pequeno/médio porte, pra 2 mil pessoas, 5 mil pessoas, sem ter dinheiro público. Só no valor do ingresso ele não consegue trazer um gringo ou uma atração grande nacional. Porque se você joga o ingresso pra mais de R$50, R$60, fica difícil pro público pagar. Acho que tudo está se estruturando, esperamos que isso não pare e se estagne e entre em decadência. Tem que continuar se mantendo mesmo porque a gente vê que público pra esse tipo de coisa tem. Tá sendo criado.

Vocês conhecem um termo que alguns selos têm usado pra se descrever que é o “midstream”? Algo entre o mainstream e o underground. Tirando juízos de valor sobre a validade do termo, é inegável que vocês estariam nesse local. Como é a sobrevivência nesse meio?
Benke: Ah, pra gente foi tudo muito rápido, né?
Dinho: A gente entrou rápido nessa de viver disso e estamos vivendo disso. Eu nunca tinha escutado esse midstream não, mas lidamos com isso tentando não parar de fazer show, ficando ativos. Tem várias posições que você pode tomar nas coisas que você faz, pode deixar a coisa vir até você ou pode estar sempre por conta. O jeito que a gente se põe é uma posição de estar sempre correndo atrás, e fazendo coisas. Lançando discos, materiais, fazendo show igual um doido. Acho que a gente não para de tocar desde 2013, que a gente lançou o disco e começamos a fazer show com a banda. A gente faz umas pausas de um mês, mas sempre tem show. Na época em que eu tinha um trabalho sério eu tinha mais férias do que agora.
Benke: Do mesmo jeito, isso é o que possibilita a gente estar vivendo de música. Essa é a questão de como a gente lida e como a gente faz pra ser sustentável sendo músico de rock midstream no Brasil. A gente não tá estourado num nível que a gente consiga vender mil, dois mil tickets em cada cidade que a gente vai, ou mais que isso, mas também vem um tipo de renda nesse mercado pequeno. Acho que nem chega a ser “mid” porque é um lance pra galera da internet mesmo, e só. Ninguém aqui [no Morrostock] escuta música na rádio ou em qualquer canal da televisão. Boogarins deve ter sido citado nesses canais uma, duas, três vezes no máximo. Aconteceu no Prêmio Multishow, aconteceu na indicação ao Grammy, mas são coisas muito pontuais e que também não servem muito de nada, não dá um corpo pra coisa toda que faça ter mais gente realmente indo atrás e pesquisando…
Dinho: …ou comprando discos, ou indo no show…
Benke: …ou vendo a banda e se identificando na hora, tipo: “Caralho, eles são a nova banda mesmo”. Geralmente quem gosta de música independente, de música alternativa, quando vê essas bandas no Prêmio Multishow fica até com o nariz torcido, na verdade. Quem realmente dá moral pro Prêmio Multishow não quer saber das bandas que estão tocando pra 300 pessoas, quer saber de quem tá estourado.
Ynaiã Benthroldo: Essa coisa do midstream é muito foda porque você coloca a nomenclatura como se tivesse toda uma amarra sendo que não tem amarra nenhuma. Midstream seria se tivesse uma coisa amarrada, aí teriam as rádios do midstream, as casas de shows desse cenário, um circuito… A gente é completamente dependente disso e consegue ocupar alguns espaços que dão abertura pra essas bandas, mas não é uma coisa de mercado ou de estrutura da indústria da música brasileira. Não existe isso, existe é as bandas correndo atrás do público e os produtores fazendo os festivais do jeito que conseguem. Você tem vários modelos de festivais, vários tipos de festivais que conseguem fazer com grana pública, outros não conseguem, uns conseguem com 100% de patrocínio, outros não conseguem, então não existe um padrão dentro da estrutura de música independente no Brasil.
Dinho: Todo mundo é caçador.

Esse termo acaba sendo usado mais como marketing, vimos que a Slap está se colocando como “a” gravadora do midstream no Brasil.
Dinho: E a Slap é um braço…
Ynaiã: …de uma major né?
Dinho: E a major tem interesse de criar esse diálogo. Pra ela é fundamental isso. É tipo você dar uma escada e querer vender tentando subir no trem. Numa certa lógica, pra quem está fazendo a coisa, acho que não tem como nenhuma banda nova ficar cega nisso. Acho que essa é uma ideia que a gente troca, por exemplo, com qualquer menino mais novo que tá começando uma banda e chega perguntando: “Como que vocês fizeram as coisas? O que tem que fazer?”. Por mais que pra gente tenha acontecido muito rápido muita coisa, não…
Benke: …não é nisso que você tem que se prender. Seu sucesso e suas ambições não podem ser baseados numa coisa assim. Você não tem um modus operandi, se você sair em tal blog brasileiro, ser capa da Folha, isso tudo não significa nada no final das contas. São coisas bem pontuais que adicionam pro seu currículo, mas isso não significa que você vai chegar aqui e atingir duas mil pessoas a mais.
Ynaiã: Você não vai vender 50 tickets a mais por isso. Se formos ver, depois do Prêmio [Multishow], quantas pessoas a mais foram nos shows? Sei lá, dez?
Benke: É porque tem gente que não tem essa gana de pesquisar música do mesmo jeito que muita gente hoje em dia faz. Tem gente que não depende disso, vai ver o clipe na MTV, mesmo que ela tenha uma programação pras bandas independentes bem reduzida comparada a 10 anos atrás. E aí vai conhecer a banda da MTV, vai conhecer a banda que tá passando no Multishow, no Play TV, no BIS, rola essas coisas. Eu fico assistindo BIS quando tô vendo TV em casa, então não é como se fosse impossível. Mas os canais que dão um pequeno espaço pra músicos como a gente não são os canais de TV aberta, tirando o Cultura Livre da TV Cultura não tem nenhum programa de TV aberta que leve bandas independentes pra tocar.
Dinho: Primeiro você faz, aí os outros veem que você fez, falam, aí você é lembrado, aí você toca. É bom ser lembrado, você ter um respaldo, mas dentro do ciclo ainda começa no tocar, no fazer alguma coisa.
Ynaiã: Sem tocar, não adianta.
Dinho: Tem que entender os processos, tem que entender que existe um meio que tá te massacrando ali, que você tem que estar correndo atrás se não você não vai conseguir, pode dar nomenclatura, pode fazer a porra que for, mas ficar cegão nos processos também não dá. Porque se não você não vai fazer o trampo que é a música, você vai trabalhar com produção.
Benke: Se você não conseguir engajar 50 pessoas da sua cidade com a sua banda pra ir lá e cantar as músicas e você acreditar naquilo mesmo, você não vai engajar 10, ou 20 ou 30 mil pessoas na internet. Se a partir do essencial você não estiver conseguindo chamar atenção das pessoas e conseguir um retorno legal a ponto de você se sentir recompensado por aquilo que saiu do nada, que você criou com seus amigos, o que vier depois não vai ser suficiente pra manter. Você pode conseguir um assessor que vai fazer um trabalho legal, e patrocinar post de Facebook, ter bastante views, isso tudo acontece, mas tem muita gente fazendo isso aí hoje em dia. Você tem que ter algo além disso pra conseguir perpetuar o negócio e ter gente querendo ver você ao vivo. Porque os views às vezes acontecem de um jeito bem nebuloso, você não tem o controle de todo processo. O real é o que vale mesmo.

Tem gente que nunca saiu do quarto, mas é amigo de alguém e lança um clipe em um blog e já quer que esteja estourando.
Dinho: Cara, é o que eu falo dos meninos mais novos que vem perguntar. Às vezes fica um negócio complicado de entender o que o cara está querendo saber. “Como é que faz pra começar uma banda?”. Tem que tocar, né?
Ynaiã: O que a banda faz? A banda toca.
Dinho: Você até pode dar uma dica de com quem ele tem que falar, como seria um jeito melhor de lançar algo, que é o que eu falei de entender os processos, mas…
Ynaiã: …isso é outro papo.
Dinho: Às vezes o jeito que as coisas têm chegado pra galera pela internet faz os caras darem uma cegada. Vê o link da matéria, mas não pega o troço porque não é aquilo ali. Eu não sei, por exemplo, o quanto isso vale pra tocar em um festival.
Benke: Tanto que, no caso do Boogarins, o disco saiu na gringa, aí teve resenha não sei aonde, post não sei aonde dos gringos, tudo mais. E a gente só foi conseguir tocar de verdade no Brasil depois que passamos seis meses fazendo turnê fora. Nessa época não foi tanto pelos blogs, a galera viu é que a gente tava fazendo show mesmo em outros lugares. E tocando, tocando, tocando… Acho que aí sim deu uma segurança dos produtores nos chamarem pra tocar. Conforme você tá tocando e fazendo show o tempo todo, vai ter gente pensando que compensa chamar essa banda. Mas antes a gente tinha disco lançado lá fora, já tinha vinil, post na Pithfork, não sei o quê, e mesmo assim era um lance bem reduzido. A gente tinha tocado em São Paulo e Recife, nunca tinha tocado muito fora de Goiânia até então. Aí depois que voltamos da primeira turnê fora que a gente foi conseguindo fazer o Sul, Rio de Janeiro, outras cidades do Nordeste.

E sobre os seus lançamentos, já faz mais de um ano que saiu o Manual, como vocês estão sentindo o disco ao vivo? As músicas vêm mudando, aumentando de tamanho, etc?
Benke: A gente era bem pior do que é hoje. A gente achava que tava mandando bem…
Dinho: Tava bom, né? Aí ficou ruim. Aí ficou bom de novo!
Benke: Sei lá, nesse fluxo de ficar fazendo turnê sem parar, principalmente nesse esquema de ir pros Estados Unidos, onde você consegue emendar cinco shows seguidos todos dias, aí fica cinco dias parados, e depois faz mais cinco shows seguidos…
Dinho: …com o mesmo equipamento.
Benke: …você vai pegando uma experiência, uma facilidade de comunicação no palco não-musical que é bem foda. De começo já, a gente toca ao vivo bem mais alto. E nessa lógica também de a gente ter aprendido a tocar no rock independente, a gente nunca teve um purismo de “não, eu quero meu timbre de guitarra, meu amplificador, não sei o quê”. Nessa coisa de sempre estar fazendo show e nem sempre ter as condições ideais, e não se importar com isso porque foi assim mesmo que a gente começou a tocar – todos nós tínhamos banda em Goiânia e às vezes pegava um Bananada onde tinha um palcão ou então tocava numa casinha pra 100 pessoas onde você levava seu ampzinho de estudo e ligava a voz na caixa ativa – a gente foi meio que treinado nessa base. O negão com a Macaco Bong rodou o Brasil inteiro por dez aí fazendo show em tudo que é tipo de lugar. Acho que o nosso apego ao que é o disco é diferente, conforme a gente vai ensaiando e vai tocando ao vivo a canção vai pegando a forma, mas que não necessariamente tem a ver com uma pureza do disco, que é bem limpinho, bem calmo, até as músicas que são mais pegadas, por ter sido gravado na fita, o resultado dele foi bem orgânico. Mais um lance de textura, com a banda tocando junto, do que um lance bem altão. Ao vivo vira um lance diferente. Fora essa parte do improviso, que fomos desenvolvendo com o passar do tempo.
Dinho: Pra não enjoar das músicas.
Benke: Também, porque a gente toca tanto. E o Manual, no caso, é pior ainda. Porque os As Plantas a gente tocou bastante, e quando chegou o Manual começamos a tocar as do Manual. Só que na turnê do As Plantas a gente já tava tocando músicas do Manual porque o show era muito curto, não tinha músicas suficientes pra fazer o show, então fazíamos “Avalanche”, “6000 dias”… “6000 dias” é uma música que a gente toca desde o primeiro show da banda. E cresceu muito, mudou muita coisa.
Ynaiã: “Fim” também, não?
Benke: “Fim” também mudou pra caramba porque a gente toca há muito tempo. No começo já era a música que dava liberdade pra caramba de se abrir, fazer noise… Depois, com o negão entrando, já com essa coisa de ele gostar muito de ter banda instrumental, né?
Dinho: (Risos) O cara gosta de tocar!
Benke: “Não não, canta agora não, vamos tocar mais”. Aí foi uma música que entrou pra isso, no disco ela deve ter uns 3 minutos, com o Hans [Castro, primeiro baterista] a gente tocava ela com uns 5, 6 minutos, hoje em dia ela bate os 10 minutos. Com partes bem definidas, né? Não é só livre. Tem partes livres, mas só dessa coisa de ficar tocando, tocando, tocando, de tanto a gente tocar a gente já foi se entendendo naturalmente e foi criando forma. Mesmo sem ter sido algo que alguém criou e propôs, é uma coisa que surgiu no palco mesmo. Mas nesses últimos shows a gente tem tentado fazer mais músicas porque a gente tava aloprando demais.
Dinho: A gente fez shows de 1h…
Ynaiã: …com cinco músicas! Era 1h com cinco músicas, 40 minutos com cinco músicas e quatro músicas em meia hora. Ou duas músicas em meia hora. Tocamos em vários formatos.
Benke: No Porão do Rock a gente tocou lá e fizemos esse show, eram 40 minutos e tocamos quatro músicas. Aí a resenha no Tenho Mais Discos Que Amigos falou que a gente não tava preparada para um festival daquele porte.
Dinho: Isso que a gente fez um show sem passar som depois da Nação Zumbi.
Benke: Ah não, mas o pessoal não consegue quem passa som ou não, quando eu vi achei que era muito mais um lance de… ah, só porque não tocaram os hits, sei lá, uma coisa assim.
Ynaiã: Foi um show que foi uma intervenção sonora.
Dinho: Foi o show que eles pediram, né? 40 minutos é esse.
Ynaiã: Festival é foda, né cara?
Benke: É, tinha 10 mil pessoas assistindo, deviam ter umas 600 que conheciam a banda e piraram no show. No Twitter não vi ninguém falando mal, todo mundo era “nossa, foda pra caralho”, “meditação no meio do festival”, aí se você via os blogs da galera que tava ali pra ver, sei lá, o Ira!… Eles não entenderam o que rolou.
Dinho: A gente tá ensaiando um cover aí.
Ynaiã: (Risos) De tanto tocar, a gente aprendeu, né?
Dinho: (cantando) “Menina veneno, seu corpo é pequeno…”
Benke: Essa letra ficou boa, “menina veneno, seu corpo é pequeno demais pra nós dois” (risos).
Dinho: Dá pra fazer um show só de paródias do Boogarins.
Ynaiã: Isso vai ficar bom, vai ser o Brincarins. Quando sair esse disco aí vai ser foda. Vai ser tipo Mamonas Assassinas. Já tá na hora de voltar o Mamonas Assassinas.
Dinho: Já deu tempo, né. Da psicodelia ao deboche em 30 segundos.
Ynaiã: Quem mais? Daqui a pouco aparece outro Raimundos, outro Mamonas, outro Charlie Brown… Só que os caras vão ter que mudar as letras hoje em dia porque com aquelas letras lá…
Dinho: A galera da internet vai cair matando!
Ynaiã: Imagina “Mulher de Fases” hoje em dia! “Complicada e perfeitinha”… POW! Esse show aí vai ter fila de protesto. “Robocop Gay”…

Imagina “Aquela”.
Dinho: Caralho… O Rodolfo foi esperto de virar crente.

Tá gente, pra fechar, e o terceiro disco?
Dinho: A gente lançou uma música nova aí esses tempos [“Elogio à Instituição do Cinismo”].

Além de perguntar se vocês estão compondo ele, queríamos saber o que ele traz de novidades, o que vocês têm ouvido e curtido e que vai aparecer no disco.
Ynaiã: A gente já gravou, né?
Benke: Logo deve sair. Saiu o primeiro single, que é bem diferente do que a gente já lançou.
Dinho: Diferente e perto, né?
Benke: É perto porque acho que a gente manteve o mesmo tipo de canção. E foi composto do mesmo jeito, querendo ou não, sentado tocando violão e cantando. Foi um disco que a gente conseguiu produzir parecido com o primeiro, em relação a ser a gente parado em casa com o equipamento gravando por conta própria. No segundo a gente estava num estúdio todo analógico, então a gente não conseguiria manipular todo equipamento, os rolos de fita, então teve a mão de alguém que tava operando, que era o Jorge [], que também participou. Só que aí, nesse terceiro disco, a gente estava nos Estados Unidos e a gente alugou bastante equipamento, foi pra uma casa e ficou gravando durante um mês. Então meio que volta pra essa coisa do As Plantas, de inspiração de um disco ao vivo, que não foi no Manual, esse foi basicamente todo gravado ao vivo. Então acho que a construção das canções dele é mais parecida com a do As Plantas, mais maluca. Mas com equipamento bom! Com som mais nervoso, mais altinho, um lance mais moderno, com synths também. A maior referência foi o Drake. (Risos) Drake, Kanye West, em todos os baixos das músicas o Rafael pensou muito no The Life Of Pablo.

Vai ter pitch shifting?
Benke: Tem também! Mas sei lá. É tudo isso melhorado.
Dinho: Otimizado!
Ynaiã: A parte boa.
Benke: 2016. Sem o brega que o mainstream deixa nas coisas às vezes. Isso sou eu falando do alto da minha modéstia! (Risos)
Dinho: É o melhor disco já produzido! (Risos)
Benke: É, vai ser o melhor disco de 2017. Sem dúvida! Tô falando mentira?
Dinho: É o melhor, é o melhor… Na minha visão…
Benke: De tudo que eu ouvi de 2017, é o melhor! Eu pelo menos fiquei muito feliz com tudo que a gente conquistou nesse disco, de ter a liberdade de poder construir muitos arranjos na frente do computador, só que dessa vez com conhecimento que adquirimos nesses três anos de banda tocando sem parar, noção do que funciona e do que não funciona ao vivo, e de tudo que escutamos nesse tempo todo, desde o My Blood Valentine até o último do Kanye West, meio que tentar juntar isso nas nossas canções. Sem necessariamente se prender nessa coisa de “como vamos fazer isso ao vivo?”, não, primeiro vamos ensaiar a música e depois vamos gravar com todo mundo tocando ao vivo. Porque é assim que uma banda grava um disco, foi isso que a gente pensou. É nisso que eu acho que entra esse lance do hip hop, do eletrônico mais experimental, porque a gente se desligou muito dessa coisa do purismo. Mesmo tendo um equipamento legal na mão a gente foi atrás de som frito mesmo, que a gente queria escutar numa música.

Onde foi gravado?
Benke: Em Austin, no Texas. A gente ficou parado lá um mês, em julho desse ano, no meio da turnê. A gente foi fazer um show de residência lá, era todo sábado no Hotel Vegas. Teve um dia que a gente tocou com a Winter, que tá vindo tocar aqui também, e aí ficamos gravando bastante tempo.
Dinho: E antes desse terceiro ainda vem um ao vivo.
Benke: É, que tem mais essa cara do que a gente faz no palco. No terceiro disco, talvez a galera vá estar esperando um lance totalmente progressivão, não sei o quê.
Ynaiã: É, se a galera tirar [o terceiro disco] por base no show vai ter uma surpresa muito grande. Eu tenho gostado pra caralho, pra mim, como experiência de estudo mesmo, foi bem doido. Essa coisa de você…
Benke: …sentar todo dia e fumar maconha pra caralho… (Risos)
Dinho: Nunca tinha feito isso!
Ynaiã: Acordar, fumar um, sentar na bateria, ficar ali, tomar um café gelado com óleo de coco.
Benke: Em paralelo ao disco o negão tava aprimorando seu curso de barista!
Ynaiã: Vários cafézinhos… Fiz café com tudo. Alecrim, arnica… Foi uma experiência boa.
Benke: É, você vê que o negão, o que a gente tem de vida ele tem de estrada, ele achou diferente gravar com a gente.
Ynaiã: Eu sempre fui dessa coisa do músico que toca. O cara que vai gravar o take da bateria e não vai colagem, se ficou ruim uma virada lá no final ele vai fazer a música inteira. Esse coisa meio xiita que às vezes tem uma dificuldade de lidar com a questão digital, mas nesses últimos dois anos, depois que eu comecei a tocar com os meninos, a forma de produzir do Benke foi abrindo a minha cabeça pra isso. Uma coisa que veio é que não necessariamente você tem que fazer música com instrumento, você consegue fazer música com qualquer coisa. Então, acho que a gente brincou muito com isso. Foi legal.

Tem bastante coisa de programação eletrônica na bateria?
Ynaiã: Eu acho que tem bastante coisa construída de outro jeito.
Benke: Que às vezes não vai sair igual ao vivo. A não ser que a gente use programação. Mas que nem no As Plantas, ele já tinha isso só que de um jeito tosco, de a gente sampleando a bateria, e acelerando, só que era um equipamento ruim, uma bateria capenga, não tinha microfone bom, não tinha placa de som. Tem coisas que a gente não consegue fazer ao vivo também, a gente não consegue tirar o mesmo timbre de “Lucifernandis” nas guitarras ao vivo. Porque simplesmente não dá. Se dá pra fazer isso com o ruim, dá pra fazer no bom também, né? E acho que isso a gente vai poder mostrar no disco ao vivo.

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07/12/2016

Revista NOIZE

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