A figura de Itamar Assumpção foi um furacão que varreu a música popular brasileira e mudou para sempre a sua cara. Suas composições carregam ingredientes muito particulares e, ao lado da banda Isca de Polícia, ele construiu uma obra tão sólida quanto influente. A morte prematura de Itamar, aos 53 anos, em 2003, deixou uma lacuna irreparável. Porém, seu legado artístico é eterno e está muito presente no trabalho de muitos músicos contemporâneos.
Ao lado de Itamar, a Isca de Polícia teve várias formações. Mesmo após sua partida, o grupo nunca chegou a se desfazer completamente, mantendo-se um projeto que reuniu dezenas de músicos. A banda esteve diretamente envolvida em lançamentos póstumos de Itamar, como o box de CDs Caixa Preta (2010), e, em 2017, lançou o seu primeiro trabalho autoral de composições inéditas, o álbum ISCA Vol. 1.
Agora, o grupo está lançando seu segundo disco: ISCA Vol. 2 – Irreversível. O álbum conta com a participação de músicos como Arrigo Barnabé, Chico César, Zélia Duncan e Aliza E.. “Estamos na meia idade musical, com muito gás para fazer da música uma constante surpresa para velhos e novos ouvidos”, diz Paulo Lepetit, baixista e diretor musical da Isca.
A cantora Vange Milliet assina três composições no novo disco da banda – “Tomara”, dela e do Itamar; “Supereternos”, em parceria com Serena Assumpção (filha de Itamar); e “Asas e Azares”, parceria com Paulo Leminski – e, abaixo, responde algumas perguntas sobre o momento atual da Isca de Polícia. Ela revela que está para sair um vinil do grupo e que está encaminhado um disco inteiro deles com o Arrigo Barnabé.
Vale lembrar que, no dia 6/10, a banda toca em Piracaia, na Casa Viva Piraciaa; 12/10, em São Paulo na Casa de Francisca; 13/10, na Funarte SP, também na capital paulista; e 25/10, em São Luis do Paraitinga na Festa do Saci (mais informações aqui).
Confira abaixo nosso papo com Vange.
Quando e como surgiu a ideia de reativar a banda Isca de Polícia?
A Isca de Polícia nunca parou. Após a morte do Itamar, continuamos fazendo shows. O que é novidade é o trabalho autoral da banda, só com músicas inéditas e novos parceiros. Esse trabalho autoral surgiu de uma necessidade da banda de continuar a produzir e desenvolver sua linguagem bastante particular e de uma demanda do público por um disco só da banda.
Quando vocês fizeram o álbum Isca – Vol. 1 já havia a ideia de lançar o Isca – Vol. 2? Como foi a produção desse novo trabalho?
Sim, quando começamos a fazer o primeiro disco a resposta dos parceiros foi muito legal e eu e Paulinho começamos a fazer várias músicas. Decidimos então lançar um primeiro disco e, na sequência, lançar o Vol. 2. Aliás, já temos algumas composições prontas para o Vol. 3.
O novo disco seguiu um pouco como em produções anteriores da banda. As músicas são apresentadas, às vezes tinham uma pré-produção, os músicos gravavam suas participações e eu e o Paulinho editamos depois. Cada um tem um jeito muito particular de tocar na Isca, diferente da forma como tocam em outros trabalhos. Com esse material em mãos, eu e Paulinho, finalizamos os arranjos, mapas, mixamos, etc.
O disco novo traz convidados como Chico César, Zélia Duncan, Arrigo Barnabé e a própria Serena Assumpção. Como se deu a escolha dessas participações?
Todas as músicas são parcerias. Diversos compositores fazem parte desse caldeirão. Chico, Zélia, Arrigo, [Paulo] Leminski, Alzira [E.], Serena, Ana Vidal e o próprio Itamar. Alguns participaram de suas faixas. A Serena fez essa letra especialmente para a banda, ainda na época do Vol. 1. Acabei musicando a letra para esse Vol. 2. Infelizmente, a Serena faleceu antes da gravação do disco.
Hoje, cerca de 40 anos após o nascimento da Isca de Polícia, como vocês avaliam o legado da banda e da obra do Itamar Assumpção?
Itamar é um compositor único na música brasileira. Criou um jeito próprio de fazer música e a Isca ajudou a criar essa sonoridade. Não dá para comparar com nenhum outro som. É muito particular. Esse som acabou virando uma referência para muitos artistas que surgiram depois, como Zeca Baleiro, Chico César, Zélia Duncan, Cássia Eller, Tulipa Ruiz, Kiko Dinucci, Iara Rennó, Anelis [Assumpção], claro.
Ainda que sejam exaltados pela crítica especializada, os discos de Itamar e da Isca de Polícia seguem sendo desconhecidos pelo grande público. A que vocês atribuem isso?
Acho que, hoje em dia, o trabalho tem um reconhecimento enorme. Muita gente conhece esse som. Mas o mercado é segmentado, são poucos os artistas com uma penetração realmente grande, no sentido de popular mesmo.
Itamar ficou famoso por seu posicionamento crítico à indústria cultural, como vocês imaginam que ele encararia o mercado musical de hoje, pautado pela distribuição online (muitas vezes, gratuita) das músicas?
Itamar era improvável e, portanto, qualquer coisa que eu diga é um “achômetro”. Penso que o mercado online barateou a distribuição. Possibilita uma interação maior com o público, um contato mais próximo, sem intermediários. Coisa que, de certa forma, ele já fazia. Talvez ele se valesse da linguagem visual, que sempre lhe interessou. Imagino o Itamar em vídeos.
A Isca de Polícia tem planos de sair em turnê divulgando o novo disco? O que vocês podem adiantar de planos futuros?
Sim, temos planos de divulgar o disco, de mostrar para o maior número possível de pessoas. Além de shows, pretendemos lançar um LP com músicas do Vol. 1 e Vol. 2 e está na manga um disco com o Arrigo. Vamos ver…