#NoizeMorrostock | Um papo reto no camarim de Liniker e os Caramelows

06/12/2016

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Ariel Fagundes

06/12/2016

Por Leonardo Baldessarelli e Ariel Fagundes

No camarim do Morrostock, mais ou menos à 1h da madrugada de sábado para domingo, Liniker e os Caramelows ainda estavam cheios de adrenalina – e dava para entender por quê. Alguns minutos antes, a cantora e a banda se apresentaram no Palco Pachamama para o maior público reunido num só show em todo o festival, levando a multidão à loucura com uma performance enérgica e carregada de hits como “Louise do Brasil”, “Zero” e “Tua”. Foi depois de ver a banda simplesmente superar as expectativas de um dos momentos mais esperados do evento que pudemos entrevistar quatro dos seus integrantes: a vocalista e ícone Liniker, o baixista Rafael Barone, a backing vocal Renata Éssis e o baterista Pericles Zuanon.

*

De dentro do backstage, a conversa se expandiu para a representatividade do grupo perante seu público, passando pela cultura efervescente dos festivais no Brasil, a loucura da longa sequência de shows da banda, que está chegando ao exterior, e a dimensão política que circunda seu disco de estreia, Remonta (2016). Leia o bate-papo na íntegra aqui embaixo!

Da esq. para dir.: Pericles Zuanon, Renata Éssis, Rafael Barone e Liniker

Da esq. para dir.: Pericles Zuanon, Renata Éssis, Rafael Barone e Liniker

Como vocês se sentem estando no Morrostock, um festival que começou pequeno e está ficando gigante, nesse momento em que todos festivais independentes estão crescendo? Enquanto representantes da música independente, como se sentem no meio disso?
Liniker: É muito importante, né. Esse festival, a gente estava falando agora, tem uma energia maravilhosa por ser onde ele é, por estar completando 10 anos, por ter toda essa energia que está em volta dele. A gente poder agregar um pouco disso é maravilhoso, muito incrível né.
Pericles Zuanon: Todos esses festivais que a gente tem feito, a gente fez o Bananada, o Rec-Beat, são festivais que mostram que os lugares estão se desenvolvendo muito. Aqui sempre foi um puta celeiro gigante de bandas e tem uma puta história enorme dentro do rock e da música brasileira, e pra nós é muito foda estar aqui, com certeza, representando o underground do interior paulista, a caipirada lá.
Rafael Barone: E também temos que entender que essa nova música brasileira, essa música que realmente não existe mais dentro das gravadoras, ela necessita desses festivais. Ela vive pelos festivais e a gente sente muito claramente que é aqui que ela acontece, é nesse tipo de ambiente que as coisas acontecem.
Liniker: É importante que a gente tem também a oportunidade de trocar com as pessoas, né? Participar de um mesmo palco onde tá a Ava Rocha, Apanhador Só, Bandinha Di Dá Dó, é muito incrível. Tudo que tem passado por aqui nesses dias é muito massa. Muito gostoso poder trocar nesse lugar.

Desde que o Remonta saiu, há uns três meses, como vocês sentem a recepção a ele? Vocês sentem uma diferença, ou não muito porque que as músicas já eram conhecidas?
Renata Éssis: As músicas já eram conhecidas, mas elas ganharam outra roupagem, né? A gente teve um processo com o Cru (2015), em que a gente fez as músicas em casa, todo mundo junto, aí a gente passou isso pro público, viu como elas poderiam ser modificadas, “gastou” elas bastante, até que chegamos no estúdio com o [produtor] Marcio Arantes. Aí a gente sentou e mastigou e gastou e elas criaram uma outra forma. E aí mostrar essa forma nova pro público tem sido muito gostoso.

E como foi lançar esse disco em meio ao caos político que o Brasil ainda vive, mas que vivia mais profundamente na época do lançamento?
Pericles Zuanon: Cara, você sabe o que eu acho? Claro que há um caos político, ético, e tudo mais, e ao mesmo tempo a gente vive um recrudescimento forte de radicalismo em relação às questões de gênero e questões raciais, mas, na verdade, uma coisa que a gente sempre fala é que essas questões estão mal resolvidas desde os anos 60, na real. Só está ressurgindo isso porque ainda não se resolveu. Se tivesse sido resolvido, a gente não estava falando sobre essas coisas. Sacou? Então, pode parecer que é uma coisa de agora, mas não é. A história é cíclica e a gente vai bater de frente mesmo porque, se precisar, nós estamos aí.
Liniker: Eu acho que lançar esse disco, além de o material ter toda força que tem, também é um ato político, sabe? Também é um grito de guerra ter esse Remonta rodando por aí e tendo a gente à frente desse disco. Considerando nosso material, e nossa trajetória histórica e social, esse disco faz parte desse processo todo.
Rafael Barone: Tem uma galera foda junto nesse processo, tem a Tássia Reis também, tem As Bahias e a Cozinha Mineira, que estão tudo dentro desse rolê aí, tem a Mc Linn da Quebrada… É muita gente fazendo esse mesmo tipo de rolê que é foda e é necessário demais.

Veja também:
Três dias de som e liberdade: Morrostock completa 10 anos com edição impecável
“A gente pode sim, a gente vai se representar sim”, afirma a revelação Liniker
Exclusivo | Os bastidores das gravações do primeiro álbum de Liniker e os Caramelows
Entrevista | A revolução crespa de Tássia Reis

Vocês comentaram que desde os anos 60 isso não está resolvido e, realmente, já tiveram ícones que bateram de frente como vocês disseram, desde Mick Jagger e David Bowie até o Ney Matogrosso aqui no Brasil. Hoje, você poderia dizer que é um artista desses?
Liniker: É porque não tem como não ser, né? Acho que tudo isso só acontece porque tiveram esses movimentos lá de trás. A gente continua essa roda cíclica, cada vez mais se movimentando, se colocando, botando pra fora e botando pra fuder com o que a gente tem vontade de dizer.
Renata Éssis: E se as pessoas estão se sentindo instigadas a ouvir o nosso som, o som da Tássia, o som d’As Bahias e a Cozinha Mineira, ou o som do Franciso, El Hombre, é porque as pessoas que estão nesse movimento agora, quando sobem no palco, é porque têm alguma coisa a dizer não só nas suas músicas, mas também pelo próprio corpo político que está em cima do palco. Eu acho que, além da música e do som…
Liniker: …é o ato de ser, né?
Renata Éssis: …há o ato de ser e estar sendo como se é em cima do palco. Na frente das pessoas, se mostrando sem medo, sendo alguém que consegue trocar com as outras pessoas mostrando que a diferença também é boa. E mostrando a elas que elas também tem vez e espaço e que podem.

E como tem sido a rotina de shows de vocês?
Liniker: Intensa. A gente tá rodando desde dezembro do ano passado com a turnê do EP e aí já engatou a turnê do Cru com a gravação do disco e os shows no meio disso tudo… Aí tem show até o final do ano, uma agenda super intensa. Tá gostoso, tá ótimo, mas é pauleira.
Rafael Barone: Foi um ano sem dormir.

Há planos de vocês tocarem no exterior?
Liniker: A gente vai participar de um festival em março em Austin, no Texas, o South By Southwest (SXSW).
Pericles Zuanon: E tem mais algumas coisas aí pensadas pra América Latina também… Logo, logo, a gente revela como vai ser.

Tags:, , , , , , , , , , , , , ,

06/12/2016

Revista NOIZE

Revista NOIZE