Entrevista | Marina Sena: ritmo, poder e ambição

04/02/2021

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Sarah Leal/Divulgação

04/02/2021

Marina Sena não é um nome inédito aqui no site da NOIZE nem para muitos que estão antenados na cena independente, mas não temos nenhum problema em (re)apresentá-la, caso você não a conheça ainda. Cantora e compositora, ela já fez muito barulho bom nas bandas A Outra Banda da Lua e ROSA NEON. No embalo dos voos altos ao lado desses dois projetos, a mineira mostrou que não tem medo de altura e quer subir mais e mais.

No mês de janeiro, deu o start em seu trampo solo com o single “Me Toca”, um hit moderninho que é uma ótima pedida para os momentos mais feeling myself – enquanto a pandemia ainda não nos permite curtir festinhas presenciais por aí. Com o disco no forno, com previsão de ser lançado neste ano, Marina conversou conosco sobre o processo de transição para a fase solo, emprestar corpo e imagem para arte, seu time de referências e muito mais. Assista ao clipe de “Me Toca”, abaixo, e confira a entrevista exclusiva na sequência!

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Marina, por que “Me Toca” foi escolhida pra abrir os caminhos dessa nova fase? E por que apostar numa música animada e vibes festinha? 
A maioria das músicas do meu disco são animadas mesmo. Elas são bem festinha e tal, mas também não sabe? Eu sou essa pessoa que tem ritmo; tudo tem muito ritmo, tudo é muito dançante, tudo é muito animado, independente do que eu tô falando. Eu posso estar falando da coisa mais triste, eu vou conseguir falar sobre isso de uma forma ritmada, você consegue rebolar enquanto eu falo de uma coisa triste. “Me Toca” foi uma das últimas músicas que a gente compôs, eu e Iuri Rio Branco, que produziu o meu disco, e depois da maioria das canções já estarem prontas, entendendo aonde a gente queria chegar. Nós entendemos a sonoridade um do outro e conseguimos resumir o disco nessa música: que é ritmo, mas também é de “boinha”. Não é aquela coisa fritada, sabe? Ela é a síntese… mas só uma amostra! 

Ela é tipo a entrada do menu [risos]? 
Sim, ela é tipo o ceviche, antes de comer o sushi [risos]! 

Foto: Sarah Leal/Divulgação

Você também assina a concepção artística e criativa do clipe. Como foi esse processo e a produção dele? 
Eu moro com o Vito [Soares], um dos diretores do clipe, então vivemos isso 24 horas. Todas as faixas do disco têm uma pastinha com seus roteiros de clipe, mesmo sem saber se vai rolar. Se tiver um dinheiro grande, a gente faz esses clipes tudo! Eliza [Guerra], a outra diretora, é super minha amiga também, Sarah [Leal], que fez a direção de arte, também mora aqui… então, a gente vive muito essa coisa do audiovisual. E isso também tá na minha história, o Rosa Neon, por exemplo, lançou um clipe por mês, então é algo que eu não consigo desatrelar dos meus lançamentos porque eu acho que tem uma coisa visual no meu projeto, algo visual em mim que tenho para entregar, e que eu acho super interessante.
Para “Me Toca”, a ideia era outra no princípio, só que rolaram vários problemas e a gente [equipe] fritando aqui dentro de casa, pensando no que fazer. Aí rolou um: “Ah, vamos fazer Marina de rica, numa casa rica, comendo, sendo gata, e dançando” porque ia ser uma coisa simples de executar e que, ainda sim, ia ser boa. Aí a gente firmou nessa ideia de “eu me curtindo dentro de casa”. 

Você sempre teve essa, sagacidade, digamos, de compor tendo uma dimensão da linguagem visual das suas canções ou isso foi surgindo ao longo da sua carreira? Percebo que você tem uma disposição também de colocar seu rosto pra jogo; seus projetos musicais têm muito da sua cara, diferente de outros artistas que optam por ficarem mais “escondidos”, não gostam de aparecer, ou utilizam outros símbolos e elementos para estampar seus trabalhos.
Sim. Desde criança eu sou muito, muito aparecida. Eu não podia ver ninguém que eu queria aparecer, sabe, eu queria ser alguma coisa que eu conseguisse aparecer. Quando eu estava em sala de aula, eu caçava um jeito de ir pra frente da sala e fazer coisas pra todo mundo ficar rindo de mim, ficava fazendo gracinha. Sempre gostei muito de chamar a atenção com o meu jeito, com a minha imagem, com as coisas que eu tenho pra dizer. Então, isso não é um problema pra mim; por muito tempo eu achei que era um defeito, eu ficava pensando “nossa, será que eu sou fútil?”, mas com o tempo eu falei, véio, eu não sou fútil, sabe? Esse é meu jeito! Eu gosto de aparecer mesmo, eu quero aparecer e vou bancar essa mesmo! É o que eu sou, não tem jeito, não. Mas eu super respeito artistas que não se ligam a isso, porque são estéticas, né? Cada um tem a sua. 

Foto: Sarah Leal/Divulgação

Esse julgamento ou receio de ser fútil também ressoa enquanto uma angústia ou dilema interno em relação a dimensão do corpo também estar para jogo em sua arte? Ou foi um processo mais tranquilo de “as pessoas que lutem”? 
É, tem um pouco de “as pessoas que lutem, sou assim mesmo”, mas também uma preocupação. Querendo ou não, quando você coloca o seu corpo pra jogo, naturalmente, isso atrai mais olhares, ainda mais no Brasil, as pessoas consomem isso. Mas, ao mesmo tempo, você não pode deixar sua sexualidade e a sua sensualidade de lado porque as pessoas recebem isso de uma forma negativa. Aí, realmente, é um problema das pessoas, e temos que esperar que elas se eduquem para que não recebam mais a sensualidade dessa forma. Como se uma mulher, ou até um homem, por ser sensual, devesse ser banalizado, futilizado, como se não tivesse inteligência. Várias vezes eu ouvi coisas como “ah, claro que vai dar certo, cê mostra a bunda”. E aí eu penso que, velho, tanta mulher aí que tá mostrando a bunda e que não tá dando certo, não foi mostrar a bunda [risos], sabe?
Poxa, assume que eu sou talentosa! Tem o fator bunda, mas também tem o fator de que eu sou muito boa no que eu faço. Eu sou uma puta compositora, uma puta compositora, não é possível que você esteja me resumindo à minha bunda! Aí, realmente, é um problema da pessoa, mas, obviamente, machuca ouvir isso. Porém, cada vez mais eu tenho tentado entender que isso não é meu e que eu vou fazer o que eu tenho vontade. Eu não posso barrar isso em mim também, porque por muito tempo eu me perguntei se eu era fútil por querer mostrar a bunda, querer mostrar o corpo, estar sensualizando.
E por que a sensualidade é uma coisa tão ruim assim? Tão demonizada? Ela tá aí desde os primórdios. A sensualidade e a sexualidade foram o que fizeram a gente estar aqui hoje. A sedução tá na gente, a atração tá nas estrelas, no universo. Eu acho que a gente tem que tratar isso com pureza, como algo divino. Eu adoro a sensualidade, eu acho que, sim, ela pode ser tóxica, se você usa com excesso, assim como tudo, né? Mas a gente tem que ser sensual, entender o poder da própria sedução.
Ouvi muitas mulheres dizendo se sentem gatas ouvindo “Me Toca”, que ficam sensualizando, e é isso, é descobrir o poder da própria sedução. Eu não me achava bonita antes de descobrir o poder do meu sex appeal. Quando eu descobri que tinha, eu pensei, “meu deus do céu, sou gata demais, nem sabia!” [risos]. É você se empoderar disso. E assim, mesmo que a pessoa venha pela bunda, ela vai descobrir muito mais. Então, agradeço a minha bunda ter trazido aquela pessoa e ter feito ela escutar o que eu tinha pra falar.  

Marina, você veio de um processo intenso de discos lançados: teve o do Rosa Neon em 2019 e o d’A Outra Banda da Lua em 2020! Rolou alguma dúvida sobre a decisão de emendar um terceiro disco seguido? E as composições que a gente vai ouvir no seu álbum solo já eram algo que você separava especialmente para isso?
Algumas das músicas do disco solo já têm uns três anos, enquanto outras são mais recentes, mas foram músicas que eu compus ao decorrer da minha trajetória. Eu sempre soube quais músicas iam pro Rosa Neon, quais iam para A Outra Banda da Lua, quais iam para o meu projeto solo, sabe? [Elas] têm uma cara, quando eu lançar o disco vocês vão entender, que é a cara do meu projeto solo: mais romântica, mais sensual, é diferente. Aconteceu de eu gravar meu disco, de começar a pensar em um rolê solo, mas foi tudo bem natural, de repente eu tava fazendo. 

A Outra Banda da Lua tinha uma pegada um pouco mais rock brasil, mais orgânica, uma coisa meio Novos Baianos, enquanto o Rosa Neon dialoga um pouco mais com a pegada de “Me Toca”, situando-se num pop. Onde você se enxerga em termos de cena e mercado musical? O rótulo pop conversa com esse tipo de sonoridade? 
Olha, eu tenho muito interesse em bombar muito, e, se for pop, é pop, sabe? Mas eu acho que é, sim, me enxergo no pop. Eu não quero entrar para a indústria da fofoca, mas quero ser pop. Se chegar nessa coisa de ter que ficar entregando “bafão” o tempo inteiro, não quero. Eu entrego meu corpo pra arte, entrego tudo, mas, a minha vida pessoal, eu não tenho paciência. Se eu alcançar o Brasil inteiro, tocar nas rádios, tocar em tudo, sem precisar de “bafão”, ótimo! E eu acho que eu vou conseguir porque é o que eu quero.   

Essa sua nova fase marca algum tipo de ruptura estética? O que esse trabalho vai ter mais de “Marina Sena” que os outros ainda não tiveram? E os trabalhos com as outras bandas ficam em stand by?  
Eu vou continuar nos dois projetos, eu acho que, por enquanto, uma coisa não vai atrapalhar a outra, na verdade, até se completam. São várias pessoas que estão dentro de mim e que precisam de vazão também. A Outra Banda da Lua é completamente diferente de Rosa Neon e de Marina Sena, mas é algo que eu sou também. Meu projeto solo, querendo ou não, tem mais eu porque se eu falar que não, é não, se eu falar que sim, é sim. Eu não tenho que seguir a ideia de ninguém, tudo sou eu. Lógico, que eu tenho pessoas que pensam sobre tudo, como Iuri, por exemplo. Eu não precisei falar nada no sentido de “eu quero que você produza desse jeito”, “eu quero assim”, falei nada, só mandei as músicas para ele, e ele fez exatamente do jeito que eu queria. E, se não fosse, eu falaria “não”.
Já, nos outros projetos, tem que ter uma maleabilidade porque é grupo, tem que mediar, negociar. No meu projeto solo, eu não tenho que negociar com ninguém. Isso é interessante, isso da minha resposta ser a resposta final é algo que eu nunca tinha vivido na vida, e é muito bom. É poderoso viver isso, não tem ninguém pra me contestar, principalmente pra uma mulher, porque a gente tá sempre acostumada a estar em lugares em que temos que ceder o tempo inteiro. Agora, eu não precisei ceder em nada. Entender que eu sou líder é empoderador pra mim, tô gostando bastante. 

Com o Rosa Neon, você esteve em turnê por Portugal, né? De artistas brasileiras, atualmente parecem ter alguns nichos que conseguem penetrar lá fora. Temo nomes fortes da cena independente, como Céu e Boogarins, ou temos mega artistas do pop, como Anitta e Pablo Vittar, que até lançam mão do espanhol para expandir o público. Você se enxerga dentro do pop? Já pensou em cantar em espanhol ou em dialogar com esse fluxo de música latina que tá ganhando o mundo? Não, por enquanto eu não pensei nisso porque acho que ainda tem muita estrada para eu começar pensar em sair do Brasil. Eu acho que, sim, tenho que fazer uns shows fora, agora uma carreira como a Anitta faz, com feats internacionais, não me vejo fazendo agora. Mas não sou contra, não, faria super; inclusive, adoro espanhol, escuto reggaeton horrores! Eu amo Anitta, escuto tudo o que é música dela, não tem nada que ela tenha lançado que eu nunca tenha escutado. Gosto muito também de Rosalía, que não é latina, é da Espanha, mas tá sendo considerada nesse nicho em alguns momentos.

Foto: Sarah Leal/Divulgação

E, nessa pegada de referências, que nomes tão piscando mais como inspiração para esse seu momento solo? Referências visuais que tão piscando pra esse novo projeto?
Rosalía é uma referência cabulosa pra mim, Mayra Andrade também, no som principalmente, e Gal Costa é a minha referência maior! Pra mim, ninguém super ela no planeta, é o mix de estética e voz mais inteligente possível! Mesmo que tenha muita gente que não reconheça, mas se não reconhece, é porque não conhece. Enfim, a Kali Uchis também é uma referência, a Billie Eilish, tem uma gata que eu tô curtindo muito agora que é a Ari Lennox, que é maravilhosa, a Jorja Smith eu gosto muito, e Rihanna, né?

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04/02/2021

Brenda Vidal

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