Entrevista | Pelados ressurge em novo formato com faixas sinceras do álbum “Foi Mal”

28/11/2022

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Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: Helena Zilbersztejn/Divulgação

28/11/2022

Dois anos após realizarem a estreia promissora com o álbum Sozinhos (2020), o quinteto da banda Pelados ressurge com poesias caóticas no disco Foi Mal (2022), lançado no último dia 11, que podem ser encaixadas na fase de qualquer jovem adulto. Formada por Helena Cruz (baixo e vocal), Lauiz (programações e sintetizadores), Manu Julian (vocal), Theo Ceccato (bateria) e Vicente Tassara (guitarra), a banda viveu uma imersão durante o período da pandemia, na residência de Lauiz, que acabou por resultar em 13 faixas, que compõem o repertório do último projeto: “Tenho a sensação de que ao longo da pandemia, vários projetos precisavam dessa dinâmica de juntar as pessoas. Eu e Theo fizemos imersões com a Sophia Chablau, que tinham sido super produtivas, então notamos que essa forma era algo muito legal de se fazer. Aliviava a barra para a situação da quarentena, além de ser produtivo, salvando nossas vidas”, resume Tassara, último integrante a ingressar no grupo paulistano.

Gravado coletivamente, em julho de 2021, em uma mesa de quatro canais, no Estúdio Orgânico, onde Lauiz vive e trabalha, a obra se apresenta no registro caseiro, entre faixas que se interligam uma na outra por transições deliberadas, através de áudios captados de interações, passando pelo entusiasmo e por versos consumidos pela melancolia – ainda que pela ótica jovial, o grupo alcança um resultado singular de colagens sonoras e espontâneas, unindo distintos gêneros em uma concepção bem amarrada. Não se engane se durante a escuta do disco você se lembrar da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, já que o projeto divide dois integrantes, Ceccato e Tassara, com o grupo Pelados.

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Notando uma certa química no diálogo de ideias, o quinteto produziu e arranjou o disco em reuniões constantes, em processos de tentativas e erros, sob muitas experimentações: “A gente estava com receio, porque havia uma insegurança desta questão de não estarmos gravando em um estúdio com todos os equipamentos possíveis. Por exemplo, gravamos a bateria com três microfones”, assume Helena aos risos.

Lançado pela Matraca Records em parceria com a YB Music, o álbum foi masterizado por Martin Scian, que reúne em sua bagagem profissional trabalhos com Marcelo Callado, Ava Rocha, Tantão e Os Fita e outros, e mixado por Lauiz, que afirma: “Quando eu fiquei mixando existiam alguns problemas, onde toda música que eu ia encarar não dava somente para fazer o que eu tinha realizado na outra música. Normalmente eu tinha que fazer o caminho inverso. A voz da Manu eu tive que processar bastante, e não é porque eu gosto do jeito como o soa, mas sim porque se eu deixasse cru, com o microfone que eu tenho, provavelmente ia ficar muito tosco”.

Contendo participações de Helena Zilbersztejn, no vocal de “música de término”, e Laura Lavieri, no vocal de “4 julho de 2015”, a banda também reuniu mais um trabalho ao lado de Antonio Pinto, pai de Manu, na composição da canção “julho de 2015”. Antonio, que foi compositor responsável pelas trilhas de filmes como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus“, auxiliou o grupo na produção e mixagem do disco Sozinhos (2020), que apresentam ótimas faixas como “O Fim” e “Mexe Comigo”.

Apesar da pouca idade dos integrantes, que têm entre 21 e 25 anos, todos contam, desde os tempos de colégio, com uma ligação com a música. Denominado inicialmente como Pelados Escrotos, o grupo, formado em 2016, possui uma aura de “não se levar tão a sério”, ao mesmo tempo que exibem comprometimento com sua atual fase. Realizando o primeiro show ao vivo, na Casa Rockambole, em março passado, os membros dividem que estavam preparados e ansiosos para a apresentação, após uma longa trajetória de ensaios: “Antes a banda só estava passando o disco, de cabo a rabo, sem nenhum processo criativo. Gosto de pensar que a gente se firmou como uma banda com este disco Foi Mal (2022). Na hora que a gente foi fazer o show [em março] era uma euforia total, principalmente por ver qual era recepção do público, sem as lives”, expõe Cruz.

Seguindo com os pontapés iniciais, os Pelados se apresentam no dia 8 de dezembro, no Auditório do Sesc Vila Mariana, em São Paulo. As vendas on-line começam a partir de amanhã, às 12h, pelo site oficial do Sesc, os ingressos variam de R$ 30,00, a inteira, a R$ 9,00, com credencial plena.

Na lista de parcerias, há ainda o trio Gabriela Luiza Bernal, Zoé Passos e Alessandro Todescoa que axuílio na construção do clipe de “mesmasmesmasmesmas”, primeira faixa do disco a ser divulgada em vídeo. Dirigido e estrelado por Lauiz, e co-dirigido e roteirizado por Vicente, o clipe apresenta um churrasco de amigos, com uma pessoa alheia, deslocada do evento, criando um universo engraçado: “Eu tenho uma tendência, quando penso em clipes, de fazer coisas muito literais com as letras. Acho que algumas pessoas me criticam por isso, mas nesse caso, ela funciona muito bem. Era a gente pegar e assumir exatamente sobre o que a letra esta falando e tentar conduzir ela a seu extremo. A gente tem uma onda que cada integrante irá fazer um clipe de alguma faixa específica, apesar de todo o trabalho que dá em fazer um clipe”.

Compondo a cena paulistana, o quinteto foge de rótulos e retorna com mais maturidade, trazendo um projeto fresco, feito por um processo cheio de referências, que começou por chamadas semanais via Zoom, para comentar sobre diferentes discos: “Apesar da gente não ter essa noção, como somos uma banda na quarentena, semanalmente no Zoom foi o jeito que a gente conseguiu para conversar sobre um determinado disco. Foi algo muito gostoso de se fazer e isso acabou por refletir na nossa busca de timbres completamente diferentes, fazendo com que a gente se identificasse e transformasse esse disco em uma colagem de nós cinco”, resume Helena.

“Eu saquei que cada música tem muito de um estilo, uma sonoridade específica dentro dela. Tem música que dá vontade de diminuir o som, tem música que dá vontade de você ouvir em distintos lugares. Cada música tem um tipo diferente de bateria, guitarra, som, cada uma do seu jeito meio absurdo. Não é somente ‘ai não vamos nos rotular porque rótulos não nos cabem’, mas é porque o bagulho é estranho”, relata Theo. Para a vocalista Manu, Foi Mal (2022) é um disco honesto e cheio de verdades ridículas e doloridas: “É sobre experimentar com timbres e com as possibilidades do estúdio, buscando uma forma de expressar a vontade de gritar em voz alta as coisas estranhas que sentimos”.

Dedicando o disco ao mestre Jorge Mautner, a banda gravou uma versão da faixa “Samba Jambo”, música guia para todo o processo do disco, para o programa de rádio quinzenal Barkino, apresentado e produzido por Pedro Montenegro na Soho Radio, de Londres. Com olhos atentos e escuta diversificada, o quinteto se depara com um caminho aberto, abundante de liberdade, para ousarem o quanto quiserem, podendo ultrapassar limites, fazendo quase uma alquimia – usufruindo do que cada integrante tem de melhor para oferecer.


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28/11/2022

Gabriela Amorim

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