Entrevista | Pitty celebra 15 anos do álbum Anacrônico com versão deluxe

21/08/2020

Powered by WP Bannerize

Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Autorretrato/Divulgação

21/08/2020

A quarentena acelerou os processos de celebração do aniversário de 15 anos do disco Anacrônico, segundo trabalho da artista baiana Pitty, que havia explodido no cenário nacional poucos anos antes com Admirável Chip Novo (2003). Durante o primeiro semestre de 2020, a cantora vasculhou os arquivos em busca de materiais nunca lançados, mas admite que estava mais no clima de ver o que poderia vir à tona. Entre coisas inéditas, gravações e versões acumuladas durante os anos, encontrou três faixas que representam bem o momento em que o álbum foi lançado. 

Os fãs poderão escutar a partir de hoje (21.8) as versões oficiais de “O Muro” e “Seu Mestre Mandou” e a demo de “Déja Vù”  – a parceria entre Pitty e Josyara na faixa título foi lançada na última sexta-feira (14.8). Essas são músicas não entraram na seleção final e ficaram de fora do registro original, mas a cantora acabou tocando as faixas em apresentações. “As duas primeiras são hardcores virados no Jiraya, então no show era uma roda de pogo insanamente linda. A demo de ‘Déjà Vu’ está emocionante, eu nunca tinha escutado – ou não lembrava”, conta a artista à NOIZE. 

*

Segundo o produtor Rafael Ramos, essa opção aconteceu quando a dupla, ao lado do guitarrista Peu Sousa, ainda estava decidindo o repertório do álbum. “Eu sentei no chão do estúdio de frente pra Peu e tocamos o Anacrônico de cabo a rabo, com apenas um microfone na sala. A demo vem dessa tocada, é o arranjo original dela, diferente do que aparece no disco”, explica Pitty. Já “O Muro” é importante porque marca a primeira gravação do músico Martin Mendonça como guitarrista da banda da cantora – futuramente o duo também colaborou no projeto Agridoce em 2011. 

As parcerias são importantes na carreira da cantora, que cultiva colaboradores de longa data, assim como está de olho no que está rolando agora. No caso da nova versão de “Anacrônico”a identificação entre as compositoras foi imediata, Josyara veio com a base, criou outro arranjo e o processo fluiu, como Pitty explica: “O jeito dela enxergar a canção me deu outra visão, eu embarquei na brisa dela. Já estava potente e linda só voz e violão, eu cheguei só com a perfumaria – um pianinho de afrosamba, um gã fazendo a clave junto com o piano, percussão, umas vozes..”. 

Josyara se dedica ao violão desde a infância quando aprendeu a tocar o instrumento com uma amiga da mãe. Tem um disco solo lançado, Mansa Fúria (2018), e um trabalho ao lado de Giovani Cidreira, Estreite (2020). Antes de compor as próprias canções, a cantora tocava faixas de outras pessoas nas apresentações em barzinho e “Anacrônico”estava no setlist de seu primeiro show aos 14 anos. Há algum tempo, a artista costuma publicar covers em seu perfil no Instagram, despretensiosamente chamou a atenção dos fãs e de um dos ícones do rock no Brasil. 

Durante a turnê do disco, Matriz (2019), Pitty destinou um pedaço do set para tocar uma parte acústica com seu antigo violão de nylon. “Conto a história da menina no quartinho em Salvador, com aquele mesmo violão, três acordes e a vontade de virar o mundo de cabeça pra baixo. Falo sobre o poder de se expressar com o que se tem, brinco que é o ‘violão da possibilidade’. Então quando ela (Josyara) contou a história dela e eu vi que era a mesma parada que falava no Matriz, entendi de onde vinha a nossa sintonia. A diferença é que ela praticou muito e virou uma baita instrumentista! (Risos). Maravilhosa”, diz a cantora.

 Principalmente, a história das artistas se encontra na necessidade de se expressar, de não se importar para as regras e na vontade de se movimentar. Na época em que “Anacrônico” foi lançada, logo se tornou um dos hits mais queridos entre os fãs, que já contavam com uma poderosa trilha sonora proporcionada pela cantora. Com o tempo, foi se ressignificando e ganhando novas profundidades: “Talvez porque fale sobre algo que está sempre aí, de alguma forma ou de outra? Sobre algo que nos rodeia, nessa eterna roda cíclica? Parece que sim”. 

A ideia da letra surgiu acompanhada de um riff de guitarra na época do Inkoma, quando Pitty ainda refletia sobre como seu ritmo soaria. A faixa ficou guardada durante o processo do primeiro disco, para ser remodelada no trabalho seguinte. “Dei uma mexida em texto, melodia e harmonia, então se você reparar, ela não tem a métrica de música tradicional porque as estrofes são todas quebradas – foi feita a favor do texto e não o contrário”, explica a compositora. O período também reflete o momento em que buscava novas experimentações, para ir além do hardcore, surge e do desejo de mudança e de expansão. O registro se tornou atemporal: “A lírica tem a ver com as relações de poder, mas num âmbito momentâneo, era a compreensão de que para o novo chegar, o antigo precisa ir.”

Não deixe de assistir o Luau Anacrônico hoje às 22h.

Tags:,

21/08/2020

Isabela Yu

Isabela Yu