Diversas bandas que estouraram na cena emo do início dos anos 2000 viveram momentos de baixa na década seguinte ou até se separaram. Esse não foi o caso da Fresno, trio formado por Lucas Silveira, Gustavo Mantovani (Vavo) e Thiago Guerra. O grupo driblou as tendências, viu o público da banda ser renovado e entendeu como dialogar com a nova geração que despontou nos últimos anos.
Com 25 anos de estrada, a Fresno lançou o décimo disco, Eu Nunca Fui Embora – Parte 1, na sexta-feira, 5/4. A segunda parte será lançada nos próximos meses, e uma extensa turnê no segundo semestre também será anunciada. O registro conta com sete faixas e produção musical do vocalista.
O álbum foi dividido em duas partes para o grupo conseguir saborear as novas músicas com calma. “Queremos deixar o lançamento mais longo, vamos passar um ano falando do disco”, explica Lucas Silveira. No primeiro semestre, farão shows em festivais, incluindo o Turá, onde dividirão o palco com Pabllo Vittar, momento em que os fãs terão a chance de ouvir a música “Eu Te Amo/ Eu Te Odeio (IÔ IÔ)” ao vivo.
“A música nasceu e pensei que teria cara de ser um feat Fresno e Pabllo. “A gente troca muita figurinha na internet. Ela já se revelou ser fã da banda, então era natural que uma música surgisse. Estamos cada vez mais abertos a fazer coisas mais amplas sonoramente”, divide o músico. A parceria com a drag queen vem sendo costurada desde 2020, momento em que o vocalista publicou na internet uma versão de “Disk Me”, hit da cantora do disco Não Para Não (2018).
Nos últimos anos, o grupo fez parcerias com nomes como Tuyo, Jade Baraldo e Jup do Bairro, justamente por não acreditar nos limites que o hardcore ou o rock poderiam impor. “O nosso processo é objetivo, mas por ser artesanal, nós temos muita calma, então as músicas chegam a ter várias versões”, explica Lucas Silveira.
As décadas de parceria renderam a intimidade necessária para entenderem quais caminhos devem explorar. “Como ouvintes, entendemos o que esperamos de um álbum da banda. Já a parte de como formatar isso, passa por coletividade, não só da banda, mas compartilho com as pessoas ao meu redor”.
O trio enxerga a Fresno como coletivo, onde cada integrante assina o resultado final. O disco foi gravado após imersões criativas: “Os papeis são difusos na parte musical. O Guerra tem maturidade de falar: ‘essa música não tem bateria, vamos colocar um chocalho ou um beat’. Isso é muito massa”.
Ao lembrar dos primeiros discos, ele comenta como o processo de gravação se tornou mais assertivo, especialmente no que diz respeito à sonoridade do grupo. “Quando a gente ia gravar as nossas primeiras coisas, ficava um dia inteiro gravando as guitarras. Hoje, entendemos que uma banda derivada do hardcore, como é no nosso caso, às vezes, não precisamos de duas, apenas de uma guitarra”. A maturidade também trouxe outros esclarecimentos em relação ao show. Depois de ter as músicas gravadas, eles trabalham no ao vivo pensando em como traduzir essa sonoridade acompanhados de outros músicos, seja no teclado ou na percussão.
Durante a I Wanna Be Tour, evento dedicado ao emo e pop punk, realizado em cinco capitais durante o mês de março, o baixista Tom Vicentini propôs a ideia de homenagear bandas da cena independente no fim do show no telão. “A gente sentiu que estávamos representando muitas bandas ali, olhamos para a história da banda e para quem tivemos uma relação”, comenta o vocalista.
Havia nomes do indie, metal, hardcore e até reaggae: “Não era uma lista das bandas do Brasil, mas grupos que a gente sentia que poderia representar naquele palco, bandas que somos gratos e amigos”.
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