A magnitude de uma arena e a intimidade de um quarto se confundem no novo clipe da banda Gentrificators.
Lançado com exclusividade na NOIZE, o vídeo de “Shake The Underground” é um retrato onírico da realidade de uma banda independente, onde o teclado e o mouse é que fazem as vezes de holofote e megafone. A faixa é o primeiro single do segundo disco do grupo, Apt Kids, que foi todo gravado na casa do vocalista Marcelo B. Conter e está previsto para sair agosto. Assista:
Com mise en scène e câmera de Rafaela da Rocha e da própria banda, o novo vídeo do grupo é fruto de um experimento caseiro. “O clipe foi feito por nós mesmos, fomos para a casa do nosso baterista PH Lange no sábado de manhã com um conceito muito vago e fomos embora no domingo à noite com as gravações prontas”, explica o baixista André Araújo.
– O PH e a Rafaela são artistas plásticos, então a gente aproveitou todo o material que eles tinham em casa para compor a mise-en-scene do clipe. Isso dialoga com o conceito do disco como um todo e também com essa insistência juvenil que a gente tem em tentar fazer as coisas pelas nossas mãos para aprender, uma espécie de pedagogia experimental. Em termos de referência, quisemos fazer um clipe de banda bem clássico, botando nossa cara na tela. Então tem algo “MTV anos 90” ali, sempre nessa chave de apropriação crítica e ironia instável. Ao mesmo tempo, queríamos desenvolver algo meio onírico, remetendo a esse espaço do quarto como um mundo à parte. Por isso as referências a Twin Peaks e o Black Lodge no cenário e na iluminação. Mas na verdade tudo foi feito de forma bastante orgânica, com os recursos que tínhamos à mão, num processo de criatividade espontânea surgida pela imersão no espaço – disserta André.
A busca pelas possibilidades criativas do ambiente doméstico somada à estética do caos onírico está levando o Gentrificators ao que o grupo descreve como Dream It Yourself, que, mais do um estilo sonoro, seria um estado de espírito de inquietude utópica. É viver o sonho de que essa música que nasce dentro de quartos, a partir dos equipamentos que estiverem à disposição, a bedroom music, possa alcançar uma dimensão insondável, provocando desdobramentos inimagináveis, potencialmente verdadeiras revoluções (ainda que restritas ao microcosmos de um só indivíduo). “A Bedroom Music é um desses territórios de resistência, é onde as subjetividades maquínicas reencontraram forças para compor máquina micropolítica. Esse tipo de atividade ‘no exílio pessoal’, íntimo, dificilmente se dá em estúdios caríssimos”, aponta Marcelo B. Conter, que faz ainda o contraponto: “Mas talvez essa atividade em excesso possa estar dissolvendo as cenas locais, pois muitos desses artistas se contentam em postar o material na rede, não circulando ou fazendo shows em seu bairro/cidade”. “É paradoxal e complexo”, acrescenta André Araújo, “tem seu lado de potência política e também sua dimensão de solipsismo e isolamento. Mas é um espaço no qual estamos engajados, sem dúvida, e dele tentamos fazer o melhor possível”.
Para o próximo álbum, o Gentrificators sugere que haverá uma continuidade – “canções em inglês, crônicas cotidianas sobre tranformações na paisagem urbana e a vida na cidade, crítica política acerca da gentrificação, fazer tudo em casa e da forma mais independente possível”, como explica André – ao mesmo tempo em que novos caminhos estão sendo buscados, “o que tem a ver com o amadurecimento do conceito e as diferentes perspectivas que agora também escrevem”, completa o baixista.
André refere-se ao fato de que, quando começou, o Gentrificators era uma banda formada apenas por Conter. Naquela época, o projeto lançou disco de estreia, State: Province (2015), ouça abaixo: