Depois de ouvir o disco de estreia do Baleia temos a certeza de que a banda ainda vai longe. Quebra Azul aposta justamente nas quebras e contratempos de vozes e sons e traz um carrossel de sentimentos a quem ouve.
O disco foi lançado no final do ano passado de forma independente. “Lançar foi fácil, pois jogamos ele de graça na internet. Agora, fazer as pessoas chegarem até ele, conseguir espaço na mídia, crescer dentro da realidade do mercado musical do nosso país é o mais complicado”, disse o grupo na entrevista que fizemos com eles pra conhecer mais sobre Quebra Azul e suas faixas.
Para celebrar o centenário de Dorival Caymmi, o Baleia fez um mix de “Noite de Temporal” com “Little by Little”, do Radiohead. O resultado você confere logo abaixo:
Uma das características do Baleia que o diferenciam de outras bandas é o cuidado para que os vocais construam as canções junto com o instrumental. “Gostamos de pensar nas vozes como parte de um todo, não necessariamente como protagonistas. Da mesma forma, achamos que o instrumental tem tanta importância quanto a letra cantada no que diz respeito ao universo poético de cada música”.
Os personagens da foto da capa são os pais de Gabriel e Sofia Vaz. “Pra nós, o simples fato de ela ser um homem e uma mulher num salto no escuro já abre um monte de conexões com o universo do disco”.
Ficou curioso pra conhecer as inspirações e histórias por trás das faixas de Quebra Azul? Então confira o faixa a faixa que fizemos com a banda logo abaixo:
“Casa”
É o começo do dia. E desde que fizemos ela, sabíamos que seria a primeira do álbum. Existe um percurso emocional no disco e ele começa em “casa”. Ela é mais ensolarada, inocente, quase ingênua. Ela surgiu de uma demo despretensiosa que o Felipe mandou pro Gabriel em que ele cantava a melodia numa espécie de japonês falso.
“Motim”
É uma música sobre sair de casa (risos). Consequentemente, é sobre o medo do desconhecido. Sobre o que é estranho e belo. O fio condutor da criação do arranjo foram as ideias rítmicas e o Gabriel estava numa tara com mitologia quando fez a letra.
“Furo”
Quando começamos a trabalhar “Furo”, a banda era uma. No final, a banda era outra. Quando o Gabriel trouxe a música, ela parecia uma balada do Tom Waits. Ela é uma das mais antigas do disco, só perde para “Jiraiya”. Se pudermos afirmar que descobrimos nossa identidade sonora ou, ao menos, um caminho, isto deve-se a “Furo”.
“Jiraiya”
É a música mais antiga do álbum e trata da frustração que é tomar conhecimento da possibilidade de que os seus sonhos mais antigos e sinceros nunca se realizarão. Um desespero nostálgico. É o pôr-do-sol do disco. O fim do lado A.
“In”
Felipe roubou, sem permissão, um poema antigo de um blog defunto da Sofia. Como o poema tinha uma estrutura toda estranha, a música tem uma estrutura toda estranha. Essa enlouqueceu a gente um pouquinho.
“Furo 2 (Sangue no Paraguai)”
“Furo” e “Furo 2” tem uma ligação temática, falam sobre uma mesma pessoa – só que do ponto de vista de integrantes diferentes. Elas compartilham, também, várias melodias, só que em contextos musicais bem distintos. Aliás, a gente adora se auto-plagiar.
“Breu”
Retomando a ideia do arco do disco, esse é o fim do dia, já no escuro da noite. É uma música que parece ter que enfrentar todos os sentimentos que vieram antes.
“Despertador”
Era uma música longa que se tornou mais longa, ainda. Ela tinha várias partes separadas e precisávamos juntá-las. Mas não adiantava tentar fazer de qualquer jeito, tínhamos que respeitar a própria narrativa emocional que a música pedia. Gostamos de pensar que essa música conduz o disco de volta à “casa”.