Exclusivo | A beleza marginal em “Precariado”, novo disco de Wado

07/05/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Divulgação/Alzir Lima

07/05/2018

Com 17 anos de carreira, uma produção intensa de discos – com reconhecimento e elogios da crítica musical – e experiências igualmente bem-sucedidas em projetos paralelos, como o Fino Coletivo, Wado poderia ter se dado por satisfeito.

Realmente, poderia. Mas, para nossa sorte, não o fez. Engajado em uma proposta sempre atual de pop, o cantor, compositor e produtor anuncia Precariado, seu primeiro álbum em dez anos com apenas faixas inéditas e o décimo de sua discografia. Além do nome, a capa e a data de lançamento, dia 18 de maio, são divulgadas agora com exclusividade para NOIZE.

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No próximo registro, com produção assinada por Wado, o artista reforça a sua essência contemporânea. O som vem carregada de uma pegada experimental, moderna, promovendo encontros e atravessamentos entre o samba e a música eletrônica. O conceito do álbum nasce de uma visão globalizada, econômica e marginal: o título se originou da obra de Noam Chomsky, filósofo norte-americano, que classifica “precariado” como tudo o que é produzido no terceiro mundo com mão de obra barata para o consumo de países dito desenvolvidos.

Precariado emerge da articulação entre cultura de terceiro mundo, com referências a Tom Zé e Beyoncé, problemas sociais e existencialismo. Crítico, mas ainda assim solar, otimista e movido pela beleza. Com 11 faixas, o artista conta com um time de antigas e novíssimas parcerias, como Kassin, Momo, Tuyo e Baleia.

Para desvendar o que Precariado reserva, confira o papo que a NOIZE bateu com Wado a seguir:

Precariado será seu décimo disco solo e também o primeiro trabalho em dez anos só de músicas inéditas. Como é percorrer esse caminho antes do lançamento, de incertezas e ansiedades, no décimo registro?
Esse caminho de incertezas e ansiedades existe sim, porque a gente já passou dez vezes por isso, né? Não posso dizer “ah, não, tá completamente de boa”. Existe toda uma elucubração sobre a circunstância que é ter dez discos. Quando eu penso nos artistas de quem eu sou fã, penso que eu nem sempre ouço seu décimo disco, eu costumo ouvir o terceiro, ou o quarto, por exemplo. É uma preocupação que eu tenho. Mas a calma vem de saber que eu produzi um disco muito bonito, que não foi feito pensando em circunstância nenhuma de mercado. Eu me propus a entregar o melhor disco que eu podia fazer hoje, o mais legítimo com a verdade que eu tenho, e com a idade que eu tenho. Poder trabalhar assim é um privilégio. O público que me acompanha há dois, quatro ou dez álbuns vai sacar isso.

Você contou que o samba e a música eletrônica são elementos norteadores do álbum. Como foi a construção desse som, que passeia por lugares tão diferentes, como beats, sintetizadores e banda, para tornar algo coeso?
Não acho que a música eletrônica e o samba estejam tão distantes. O samba é a única coisa que une a gente hoje no Brasil. Acho que é fácil misturá-lo, precarizar o samba de sempre com outras coisas que são efêmeras, que são recentes. Mas aí a gente faz da forma que seja mais bonita, mais verdadeira possível. Quando eu mexo na eletrônica, eu busco as referências do que eu mais gosto, porque eu consumo muita música eletrônica. O que tá no álbum é apenas o que eu mais gosto e acredito, seja de 1950 ou de 2018. Não é música pra rádio, nem música pra gravadora, é música do Wado.

Você comentou que o título e o conceito do álbum bebem da definição de “precariado” cunhada pelo filósofo norte-americano Noam Chomsky. Que sentidos o “precariado” ganha no seu disco? Como ele se instaura e reverbera nas faixas?
O disco ganha esse sentido de “precariado” primeiramente por ser bonito. A gente não compra as coisas que vêm da China, feitas com trabalho escravo, por outra razão que não seja elas serem belíssimas. É a beleza das coisas que nos move. É a beleza da canção que vai te tirar da sua zona de conforto, é o que vai te remeter a algo que vai deixar os olhos cheios d’água e a lágrima não descer. É nisso que eu tô mirando. Isso reverbera nas faixas das formas mais humanas. O “precariado” é nossa vida diária, é acordar, trabalhar e receber nossa mixaria. O que fica disso? Ficam as coisas que nos movem. É quem a gente ama, com quem a gente convive, quem a gente quer ver no fim de semana. Daí vem força pra aguentar qualquer salário de merda. E o álbum é muito sobre isso, a mensagem no final é bastante otimista, é um disco também sobre coisas muito boas.

A seguir, confira a capa e a tracklist do lançamento:

Precariado (2018)

1. A Grama do Esgoto ft.Kassin
2. Janelas ft. Peartree e Tuyo
3. Bailas dos Barcos ft. Baleia
4. Roupa ft. Morfina
5. Tudo Salta ft. Momo
6. Girassóis
7. Correntes Comprimidas ft. Morfina
8. Força
9. Contas y Conchas
10. Quem Dera ft. Figueroas
11. Onda Permanente ft. Teago Oliveira

Aproveite para ouvir Ivete (2016), seu álbum de estúdio mais recente:

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07/05/2018

Brenda Vidal

Brenda Vidal