Pai e filho guitarristas e fãs de John Frusciante convocados pra falar sobre “Enclosure”. Responsa, mas adoramos a experiência de ouvir o novo disco do cara juntos. Antes de contar o que pensamos sobre cada faixa, só queremos situar o caro leitor, explicando nossa relação com este monstro do rock.
“Tenho todos os discos do John. Faz anos que é um dos artistas que mais ouço. Me identifico muito com a pegada e o jeito dele de tocar e a maneira como ele enxerga a música.”
Erick Endres, o filho
“Acompanho o John desde quando ele entrou no Red Hot, no disco ‘Mother’s Milk’. Me identifico mais com essa época dele do que com a melancolia de hoje, pois na adolescência ele era mais punk/funk/Hendrix. Conheci o John quando abri o show do Red Hot, em 2002, com a Comunidade Nin-Jitsu, e foi o único integrante da banda que eu realmente fiquei bobo em conhecer. Sem palavras.”
Fredi Chernobyl, o pai
Agora, sim, vamos ao faixa a faixa…
1. “Shining Desert”
Introdução que remete a filmes de ficção científica antigos. A guitarra é um mero detalhe de efeito, beats eletrônicos são súper anos 90 e a vocalização nos deixa flutuando.
2. “Sleep”
Uma balada de piano e voz, ao estilo “Changes” (Black Sabbath), mas com uma bateria psicótica, que de vez em quando nos dá uma trégua. Aos 3 minutos e meio, depois de uma virada com pitch na voz, que lembra as loucuras do “Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt” (disco de estreia solo do John), a música encontra o seu apogeu com influência de “The Goose” (Parliament), mesmo que sem querer.
3. “Run”
Combinações disconexas de loops de bateria que não fazem o menor sentido junto com a melancolia da voz e os excelentes arpejadores. No fim das contas, nos divertimos.
4. “Stage”
Nesta música, ele faz jus ao seu desejo de solar em harmonias complexas, mas não como George Harrison, e sim com o nervosismo de Jimi Hendrix, como ele mesmo disse em entrevista.
5. “Fanfare”
Linda e excelente canção com arranjos de pop synth 80’s e vintage drums. Doidera final de guitarras tão boa quanto a loucura de “If 6 Was 9” (Jimi Hendrix).
6. “Clinch”
Harmonia interminável e um solo de guitarra que faz bem pra alma em cima de break beats.
7. “Zone”
Uma ótima música, que poderia perfeitamente pertencer ao repertório do seu álbum “Shadows Collide with People”, mas em vez de violões ou guitarras acompanhando, são teclados e arpejadores.
8. “Crowded”
Agrada facilmente a quem admira as linhas vocais tradicionais a la John Frusciante em sua carreira solo e aos fãs da época “The Will To Death/Inside of Emptiness”, porém com surpresinhas de beats de jungle.
9. “Excuses”
Uma melodia que poderia perfeitamente ter um acompanhamento tradicional na harmonia e nos arranjos, mas John opta pela decafonia e pela, talvez, influência de jazz malucão de John Zorn.
Ouve o disco aí e vê se você concorda:
Fotos: Frusciante/Divulgação; Fredi e Erick/Eduardo Biermann